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Desinformação e estigmas atrapalham debate sobre o autismo

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado, principalmente, pela dificuldade na interação social e na comunicação. Embora seja possível fazer um diagnóstico já na infância, é cada vez mais comum que adultos se descubram autistas depois de entenderem seus esforços para se adequar. O assunto é alvo de estigmas e desinformação que atrapalham a percepção geral sobre a condição.

 

Em 2 de abril é lembrado o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo. Por essa ocasião, o GPS consultou especialistas para contribuir com o debate.

 

Já nos dois ou três anos primeiros de idade, em casos mais graves, é possível constatar atraso na fala e pouca reciprocidade aos estímulos. Quando o autismo é severo, a pessoa não consegue se comunicar com facilidade, tem cognição reduzida e depende de assistência da família para o dia a dia. 

 

No entanto, em níveis mais leves, casos de TEA podem ser observados por volta dos seis ou sete anos de idade. É na escola que costumam vir as primeiras observações sobre o comportamento da criança, conforme explica Gianna Guiotti, médica especialista em psiquiatria da infância e adolescência.

 

“Muitas vezes, os professores sinalizam que existe uma dificuldade de interação social. É comum a gente só diagnosticar na idade adulta, em casos leves, porque os pais negligenciaram na infância. É muito importante que os pais aceitem o diagnóstico e não entrem em negação. O estímulo precoce e adequado é fundamental para ajudar no desenvolvimento dessas crianças”, afirma.

 

Para Guiotti, é fundamental estimular as famílias a procurarem diagnósticos cada vez mais precoces. “É importante a identificação mais rápida possível. Existe uma campanha da Sociedade Brasileira de Pediatria que estimula os pediatras a fazerem testes de triagem. “O desenvolvimento dos três primeiros anos de vida é fundamental. Nessa faixa etária, é importante focar na habilidade de fala e na interação social”, adverte.

 

Caso seja constatado o autismo, existem diferentes abordagens para lidar com a condição. O psiquiatra Lucas Benevides, professor de medicina no Centro Universitário de Brasília (Ceub), explica que cada paciente requer um tipo de tratamento, já que os casos são únicos. Nesse caso, podem ser aplicadas intervenções como terapia comportamental aplicada, terapia ocupacional, fonoaudiologia, terapia cognitivo-comportamental e treinamento de habilidades sociais. “Também é possível prescrever medicamentos para tratar sintomas associados, como ansiedade e depressão”, conta.

 

Estigmas

Existem mitos de que um autista pode desenvolver habilidades extraordinárias ou ter uma inteligência acima da média. A chamada Síndrome de Savant, que acarreta uma memória ultra desenvolvida, é uma manifestação extremamente rara. Mesmo assim, é corriqueiro, no imaginário popular, inferir que todos os autistas tenham essa condição.

 

“É comum o mito, uma moda, de achar que as pessoas autistas são muito inteligentes, que vão se destacar e isso não é verdade. São pessoas que têm limitações, dificuldade de lidar com o convívio social no trabalho, por exemplo. Celebridades que não têm autismo são apontadas como autistas”, disse Gianna Guiotti.

 

Na última década, ganhou força nas redes sociais o boato de que Lionel Messi, jogador de futebol do Paris Saint-Germain e da seleção argentina, foi diagnosticado como autista desde a infância. A teoria da conspiração se baseia nos movimentos repetitivos dentro de campo e na interação social supostamente peculiar. A informação foi desmentida pela família e por médicos que trataram o jogador desde a infância.

 

É falsa a teoria de que Lionel Messi, sete vezes eleito melhor jogador do mundo, é autista (Foto: Tim Bernhard/Unsplash)

 

Outra desinformação bastante difundida é relacionada a vacinas. Durante a pandemia da covid-19, pais chegaram a recusar imunizar os filhos por temerem sequelas. “Essa teoria já foi amplamente desacreditada”, avisa Lucas Benevides. Em relação a estigmas e falsas informações, o psiquiatra destaca ainda outras crenças que atrapalham o debate sério sobre o Transtorno do Espectro Autista. “Muitas pessoas consideram que as pessoas autistas não têm emoções ou não podem expressá-las e supõem que os autistas não querem ou não podem ter relacionamentos e amizades”.

 

Por negligência ou falta de informação, muitos autistas só chegam a um diagnóstico em situações específicas. Para algumas pessoas, a vida inteira foi marcada por dificuldade de interação e comunicação até que vem a constatação. “A pessoa tem o tipo dela, tida como esquisita, diferente, mas só teve esse diagnóstico tardiamente. Já identifiquei pessoas aos 40 anos. É muito comum diagnosticar pais de crianças mais comprometidas, com autismo severo”, explica a médica. Em casos como esse, a redenção por finalmente compreender a própria personalidade é bastante comum. “É libertador e importante como autoconhecimento”, completa Guiotti.

Redação GPS

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