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Desadormecendo: afinal, o que esperar do Met Gala 2024?

A poucos meses da maior extravaganza fashion do globo, eis tudo o que se sabe (e que se pode prever) sobre o evento

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“Vamos pintando assim, as rosas cor de carmim”. Alice no País das Maravilhas, 1951. Cantando em uníssono, as cartas pretas erguem seus baldes de tinta aos céus. Pincelam com afobação cada uma das flores do jardim zelado pela Rainha de Copas — lá, as ordens da tirana são simples: “só quer cor de carmim”. Assim como a primavera que chega com pressa de colorir, o baralho ajuizado (que faz de tudo para não perder a cabeça) se dobra e desdobra obedecendo a um único compasso: o que é branco há de sair, para o colorido entrar.

Por aqui, é outra Rainha que manda e desmanda. Com sua coroa bem polida e uma lista de convidados afiada, Anna Wintour navega pelo Met Gala como um capitão que é dono do seu próprio mar. O tema deste ano? Sleeping Beauties: Reawakening Fashion (Belas Adormecidas: Acordando a Moda, em tradução livre), um convite para elevar o conto de fadas à mesa dos adultos. “É tarde! É tarde! Eu tenho pressa à beça!”, adverte o Coelho Branco. É o aviso de acordar: o sonho virou coisa de gente grande.

Os vestidos Venus e Junon, desenhados por Monsieur Dior em 1949, são ansiados destaques da mostra

O tema… é tema de debate. Tem nome chic, de fato encanta — mas o que contempla esse tão urgente “despertar”? Ora, mais de 500 anos de história da moda! Isso o Metropolitan Museum of Art garante. A mostra retoma desde o século XVI, resgatando o Período Elizabetano, passeando pelas mais fundamentais eras, movimentos e estilistas, até desaguar nos mares de nomes contemporâneos, como Alexander McQueen, Jonathan Anderson e Christian Dior.

Peças marcadas pela história através da internet dão de cara com artefatos que precedem o audiovisual, ambas sob a arquitetura de uma exposição que tem como objetivo fazer delirar, prometendo uma experiência imersiva de luzes, cores, sons, texturas, e surpresas. Vai ter coisa antiga misturada com coisa nova, vai ter coisa antiga imaginada como coisa nova. Ah, e vai ter muito verde, também.

Com dresscode “O Jardim do Tempo”, evento encoraja convidados a se vestirem de passado, presente e futuro

Conectando-se ao mote principal, o subtema “Nature and the Natural World” (Natureza e o Mundo Natural) se estica como o galho de uma longa árvore, ofertando uma diversidade de folhas, plantas e tudo quanto é bicho que se tem direito. Afinal, existe algum despertar mais elementar que a estação das flores?

Me vem à memória não só o emblemático Spring/Summer de McQueen em 2011 (uma parte integral da expo que será muito bem celebrada!), com seu panapaná de borboletas, como também a coleção que germinou muita vida no verão da Loewe (uma linha que faria bonito tanto dentro do museu como em cima do red carpet).

Florals for spring? Groundbreaking: mundo natural é eleito sub-tema do MET Gala 2024

Lógico, tem a galera que não sabe brincar — é só escutar Bela Adormecida que pronto! Vestido de Aurora numa mão, roca de fiar na outra. Mas até o óbvio, quando bem executado, tem brilho para quem veste e para quem vê. Aos criativos, uma reimaginação da clássica história pode levar por vários caminhos, rendendo cliques inesquecíveis, quem sabe.

Cara-crachá: Zendaya, Chris Hemsworth, Bad Bunny e Lennifer Lopez são os co-anfitrições da edição

Tempo e natureza fazem sentido juntos. O que era, o que é, o que será. Gaia e Cronos. Mãe e filho. A Terra e sua história. Nada no mundo natural se conserva inalterado. O tempo tem pressa e tem orgulho: engatinha, anda e corre de uma vez só. Ele passa e coisas mudam, as coisas mudam e ele passa. Dormir, em todas as suas formas, é nossa tentativa falha de escapar o inescapável. Conserva-se inerte por algumas horas, minutos que sejam, acordar no mesmo lugar e se convencer de que o mundo cochilou também, que o tempo tirou uma folga… Dormir é uma baita perda de tempo.

O que dizer, então, dos sonâmbulos? Gente que dorme acordada, que passa a vida nem-lá-nem-cá. Que segue tendências sem perguntar, que compra sem saber, que consome tudo sem se alimentar de nada. A ordem de acordar é mais do que um alarme no despertador — é uma chacoalhada forte nos ombros. “Ei, levanta! Lava teus olhos pra enxergar!”. De nada adianta sonhar sem ver.

E que vejamos muita novidade! Que sonhemos com boas lembranças! A moda é nosso manifesto de que aqui estivemos, estamos, e planejamos continuar estando. Acordando dia sim, dia também, regando as plantas no caminho — mesmo que elas não durem para sempre. “É triste ver que irão morrer as rosas do jardim”.