Os registros de denúncias de assédio em órgãos federais aumentaram 510% entre 2019 e 2024. Para se ter ideia, de acordo com dados do Painel de Ouvidorias da Controladoria-Geral da União (CGU), apenas em 2019 foram registradas 857 ocorrências, sendo 709 de assédio moral e 148 de assédio sexual.
Em 2024, esse número saltou para 5.225, com 4.345 casos de assédio moral e 880 de assédio sexual.
O aumento mais expressivo foi nas denúncias de assédio moral, que atingiram o nível mais alto em 2024. As queixas de assédio sexual também tiveram um aumento significativo de 494% no mesmo período, embora tenham caído ligeiramente em relação a 2023, quando foram relatados 920 casos, conforme os números divulgados.
Especialista em assédio no ambiente de trabalho, a advogada Michelle Heringer explica que os impactos dessas práticas abusivas ultrapassam o dano direto às vítimas.
“O assédio moral e sexual não atinge apenas os indivíduos envolvidos, mas compromete a dinâmica das equipes, aumenta o absenteísmo, reduz a produtividade e gera um clima de insegurança institucional. No setor público, isso afeta diretamente a eficiência das instituições e a qualidade dos serviços prestados à população”, diz.
Segundo ela, quatro ações são prioritárias para mitigar o problema, especialmente quando se trata de servidores concursados. A primeira é a capacitação contínua, com a promoção de treinamentos obrigatórios sobre assédio e ética para todos os servidores e gestores.
Além disso, enumera a especialista, canais de denúncia seguros devem ser mantidos, como estabelecimento de mecanismos confidenciais, com garantia de proteção às vítimas e apuração rápida e imparcial.
Heringer pontua ainda a valorização de políticas de prevenção internas, com a criação de normas claras e campanhas institucionais contra práticas abusivas.
Para finalizar, a advogada diz que a mudança cultural e o estímulo a um ambiente de trabalho baseado no respeito, inclusão e equidade também é fundamental para reduzir o comportamento abusivo no ambiente profissional.
“O aumento significativo das denúncias reforça a necessidade de iniciativas urgentes e bem estruturadas para transformar o ambiente profissional em um espaço seguro e respeitoso para todos. A prevenção e o enfrentamento do assédio devem ser compromissos permanentes das instituições públicas”, conclui Michelle Heringer.