**Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi oficialmente empossado presidente da República neste domingo (1°).** No Congresso, Lula falou para cerca mil convidados. Estão presentes deputados e senadores, atuais e eleitos, ministros escolhidos por Lula, ministros de tribunais superiores, familiares do petista, familiares do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), funcionários do Congresso Nacional, ex-presidentes da República, ex-presidentes do Congresso e 80 integrantes de delegações internacionais estão entre os convidados.
**No primeiro discurso à Nação após ser empossado no Congresso Nacional como 39º presidente da República do Brasil, Lula, acompanhado de Geraldo Alckmin, afirmou que a democracia foi a “grande vitoriosa” das eleições, superando uma “abjeta campanha de ódio”**
**”Nunca recursos do Estado foram tão desvirtuados em nome de um projeto autoritário”, disse Lula**, que pouco antes fez o juramento à Constituição e assinou o termo de posse entregue pelos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Além das autoridades presentes, Lula cumprimentou ainda a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), aplaudida no plenário da Câmara dos Deputados.
**Segundo Lula, que elogiou a atuação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a democracia superou as “mais violentas ameaças à liberdade de voto”**. “Nunca os eleitores foram tão constrangidos pelo poder econômico. A decisão das urnas prevaleceu graças ao sistema eleitoral, foi fundamental a atitude corajosa do poder judiciário em especial do TSE, para fazer prevalecer a verdade das urnas sobre a violência de seus detratores”, afirmou o presidente, para quem, “apesar de tudo”, a decisão das urnas prevaleceu.
**”Pela terceira vez compareço ao Congresso para agradecer ao povo o voto de confiança. Estamos aqui hoje graças à sede democrática que formamos nessa campanha”, disse.** Lula anunciou ainda a revogação do teto de gastos e assumiu o compromisso de “reconstruir” o País e resgatar milhões da pobreza e da fome. **”É sobre estas terríveis ruínas que assumo o compromisso de, junto com o povo brasileiro, reconstruir o País e fazer novamente um Brasil de todos e para todos”, disse Lula**.
**Ele destacou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) aprovada pelo Congresso para viabilizar o pagamento de R$ 600 no Bolsa Família, afirmando que “não seria justo e honesto pedir paciência para quem passa fome”.**
**”Diante do desastre orçamentário que recebemos, apresentei ao Congresso Nacional propostas que nos permitam apoiar a imensa camada da população que necessita do Estado para sobreviver. Agradeço à Câmara e ao Senado pela sensibilidade frente às urgências do povo brasileiro Nossas primeiras ações visam a resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros, que suportaram a mais dura carga do projeto de destruição nacional que hoje se encerra.”**
**Para Lula, nenhuma nação se ergueu “nem poderá” se erguer sobre a miséria de seu povo.** “Este compromisso começa pela garantia de um Programa Bolsa Família renovado, mais forte e mais justo, para atender a quem mais necessita”, disse.
**Lembranças de 2003**
**O presidente também fez uma viagem histórica e relembrou sua participação na Constituinte e o seu primeiro mandato há 20 anos.** Citou a palavra “mudança”, destacada no seu pronunciamento de posse em 2003. **”Quando fui eleito presidente pela primeira vez, ao lado do José Alencar, iniciei o discurso de posse com a palavra mudança. A mudança que pretendíamos era simplesmente concretizar os preceitos constitucionais. O direito à vida digna, sem fome, com acesso ao emprego, saúde e educação”**, disse Lula.
O presidente citou realizações dos seus dois primeiros mandatos e afirmou que, diante do avanço da miséria e regressão da fome, é preciso repetir o discurso de 20 anos atrás. **Sem citar nominalmente o agora ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula destacou que o governo adversário destruiu as políticas públicas do País e dilapidou as estatais e os bancos públicos, nos quais os recursos “foram raptados para saciar rentistas”.**
**”O diagnóstico que recebemos do Gabinete de Transição é estarrecedor. Esvaziaram os recursos da Saúde. Desmontaram a Educação, a Cultura, Ciência e Tecnologia. Destruíram a proteção ao Meio Ambiente. Não deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a segurança pública”**, continuou Lula.
Para Lula, **a frente ampla formada em prol de sua candidatura se consolidou para “impedir o retorno do autoritarismo” ao Brasil.** O petista falou em “negação da política” e destruição do Estado em nome de “supostas liberdades individuais”.
**”A liberdade que sempre defendemos é a de viver com dignidade, com pleno direito de expressão, manifestação e organização. A liberdade que eles pregam é a de oprimir o vulnerável, massacrar o oponente e impor a lei do mais forte acima das leis. O nome disso é barbárie”, afirmou.**
**Política de cotas**
**O presidente também disse que irá ampliar a política de cotas das universidades e no serviço público.** Ele vai recriar o Ministério da Promoção da Igualdade Racional, afirmou não ser admissível que negros e pardos continuem sendo a “maioria pobre e oprimida”. **”Criamos o Ministério da Promoção da Igualdade Racial para ampliar a política de cotas, além de retomar as políticas voltadas para o povo negro e pardo na saúde, educação e cultura”**, disse.
Lula afirmou que, a partir da refundação do Ministério das Mulheres, o governo irá “demolir este castelo secular de desigualdade e preconceito”. **”É inadmissível que as mulheres recebam menos que os homens, realizando a mesma função. Que não sejam reconhecidas em um mundo político machista. Que sejam assediadas impunemente nas ruas e no trabalho. Que sejam vítimas da violência dentro e fora de casa”**, afirmou o petista, para quem a “alma do Brasil” reside na diversidade da população.
**Sem revanchismo**
Lula afirmou que governará com revanchismo, mas garantirá a aplicação da lei a quem cometeu erros contra a Nação. **”Não carregamos nenhum ânimo de revanche contra os que tentaram subjugar a Nação a seus desígnios pessoais e ideológicos, mas vamos garantir o primado da lei. Quem errou responderá por seus erros, com direito amplo de defesa, dentro do devido processo legal”**, disse Lula.
Em seu governo, o petista afirmou que usará a Constituição para responder aos ataques de adversários inspirados no fascismo. **”Ao ódio, responderemos com amor. À mentira, com verdade. Ao terror e à violência, responderemos com a Lei e suas mais duras consequências”**, emendou.
**Lula afirmou ainda que, a partir de hoje, assinará medidas para organizar o funcionamento do Executivo.** Ele voltou a dizer que se reunirá com governadores para discutir a retomada de obras e que reconstruirá o PAC e o Programa Minha Casa Minha Vida. **O presidente também destacou que os bancos públicos, o BNDES e a Petrobras terão papel fundamental em seu mandato.**
**Armas e munições**
**Lula reforçou que irá revogar os decretos editados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que ampliaram o acesso a armas e munições pela população brasileira.** “Que tanta insegurança e tanto mal causaram às famílias brasileiras. **O Brasil não quer mais armas, quer paz e segurança para seu povo**”, disse.
O presidente afirmou também que todos no País poderão exercer “livremente” sua religiosidade. **”Sob a proteção de Deus, inauguro este mandato reafirmando que no Brasil a fé pode estar presente em todas as moradas, nos diversos templos, igrejas e cultos”**, afirmou.
**Incentivo à produção**
Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil é grande demais para renunciar a seu potencial produtivo e defendeu a reindustrialização e a oferta de serviços e insumos no País. **”Não faz sentido importar combustíveis, fertilizantes, plataformas de petróleo, microprocessadores, aeronaves e satélites. Temos capacidade técnica, capitais e mercado em grau suficiente para retomar a industrialização e a oferta de serviços em nível competitivo”**, disse.
De acordo com Lula, o Brasil pode e deve figurar na primeira linha da economia global e destacou o papel do Estado na articulação da transição digital. **”Caberá ao estado articular a transição digital e trazer a indústria brasileira para o Século XXI, com uma política industrial que apoie a inovação, estimule a cooperação público-privada, fortaleça a ciência e a tecnologia e garanta acesso a financiamentos com custos adequados”**, destacou.
Durante seu discurso, Lula afirmou que dialogará com governo, centrais sindicais e empresários a elaboração de uma nova legislação trabalhista, sem citar a reforma aprovada durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB). **”Garantir a liberdade de empreender, ao lado da proteção social, é um grande desafio nos tempos de hoje”**, disse. O presidente prometeu retomar a política de valorização permanente do salário-mínimo e acabar com a fila do INSS.
**Cuidados com a segurança**
**Mesmo com um clima tenso, Lula rejeitou a recomendação da equipe de segurança e optou por desfilar em carro aberto.** Em conversas reservadas, argumentou que a posse é uma festa e não pode ficar refém de ameaças. Ele desfilou da primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja. No mesmo carro, estavam o vice Geraldo Alckmin (PSB), acompanhado da esposa, Lu Alckmin.
![Cleia Viana/Agência Câmara](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Cleia_Viana_Agencia_Camara_posse_lula_a11e19eae8.jpg)
**Uma grande operação para garantir a segurança da posse foi montada. Ao todo, a mobilização envolveu até 8 mil agentes.** Sem incluir o contingente da Polícia Militar e do Exército, o policiamento na Esplanada e na Praça dos Três Poderes terá 1.500 integrantes – mil policiais federais, 300 policiais civis e 150 homens e mulheres do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. Haverá ainda reforço aéreo com helicópteros da PM, que, por questões de segurança, não informou o total de militares a serviço durante o dia.
**Multidão na posse**
**A Esplanada dos Ministério recebeu um multidão desde as primeiras horas deste domingo para a cerimônia de posse.** No sábado (31), caravanas foram vistas chegando à capital federal com eleitores segurando bandeiras, camisetas e bonés vermelhos.
**O público esperado era de cerca de 300 mil pessoas, segundo a equipe de transição de governo.** Mas, por questão de segurança, o acesso à Praça dos Três Poderes ficou limitado a 40 mil pessoas durante a cerimônia. **O evento de posse foi turbinado por um festival de música com a participação de cerca de 60 artistas.**
**”União e Reconstrução”*
**Nesta terceira administração do petista, a marca do governo federal será “União e Reconstrução”.** Desenvolvida pela equipe do marqueteiro da campanha do petista, Sidônio Palmeira, foi exibida em telão no Salão Nobre do Palácio do Planalto.
**A logomarca traz o Brasil com as cores verde, amarela e azul, além de vermelho e preto, em parte das letras.** As palavras-chave do slogan representam, segundo ele, tarefas principais do governo Lula 3.