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Delegado do DF é acusado de homofobia, mas nega: “Só reagi”

Corretor imputou crime previsto no STF a policial, que alegou ter sofrido "etarismo"
Delegado do DF é acusado de homofobia
Delegado do DF é acusado de homofobia

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Um desentendimento registrado numa drogaria da Asa Sul, no ano passado, mais precisamente em 14 de outubro, voltou à tona, na noite de terça-feira (23), após a suposta vítima acusar um delegado aposentado de “homofobia”. O policial nega a versão.

O corretor de imóveis João Morais decidiu publicar, no Instagram, imagens do circuito interno do estabelecimento, mas sem áudios, assim como a ocorrência policial, por alegar que, apesar da reclamação formalizada contra o delegado Miguel Lucena na Polícia Civil (PCDF), o caso estaria parado. 

“No dia 14 de outubro de 2023, na farmácia Droga Maia – 215 Sul, eu estava sendo atendido, quando o delegado aposentado Miguel Lucena Filho, famoso até por responder diversos processos judiciais (vide notícias), adentra no estabelecimento e, com falta de bom senso, solicitou atendimento na minha frente, alegando que o carro estava mal posicionado. Lógico que eu me posicionei e disse que era para ele esperar, pois eu estava na vez. Diante disso, em resumo, sofri xingamentos homofóbicos e até ele tentou me acertar com algum objeto que ele encontrou na sua frente”, relatou o corretor nas redes sociais.

De acordo com Morais, o caso foi registrado na Polícia Civil, mas não houve desdobramentos, conforme a versão publicada. “O mais repugnante de tudo isso são as distorções nos depoimentos dele e do atendente (como consta nesta postagem), além do mais, o atraso da resposta do delegado após o retorno do Ministério Público à delegacia para que tenha mais apurações, devido a isso, resolvi vir a público, porque isso não se deve passar. NÃO FOI DISCUSSÃO! FOI HOMOFOBIA!”, reforçou. 

 
 
 
 
 
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Uma publicação compartilhada por João Morais (@jotammorais)

O delegado

Na versão de Lucena, contudo, o relato não estaria correto, embora o policial tenha confirmado a discussão com o corretor de imóveis durante o episódio na drogaria. 

“Não havia fila. Eu pedi o remédio para o meu filho, pelo WhatsApp, entrei na farmácia e fui direto ao gerente. O cara me xingou de ‘velho folgado’ e disse que eu não levaria o remédio de jeito nenhum. E eu disse: ‘Então fique com o remédio!’, quando joguei para ele a caixa do Rivotril e fui embora. Antes, quando ele se mostrou muito alterado, falei para ele deixar de ‘frescura’, mas não sabia que ele era homossexual. A pessoa tinha um semblante fechado, usava bigode e era fisicamente bombada”, relatou.

Corporativismo

Sobre a possibilidade de corporativismo na Polícia Civil, Lucena também rebateu: “Deve ser mais uma mentira dele. Logo que houve o registro da ocorrência, o delegado intimou todos a prestarem declarações, inclusive o gerente da farmácia. Todos estão errados, só ele é quem está certo“, opinou. 

A coluna procurou fontes da PCDF, mas recebeu informação de que, após a aposentadoria, a Corregedoria não poderia mais “passar pano” sobre a atividade do ex-chefe da Divisão de Comunicação (Divicom) da instituição policial. “Ele passaria a ter de se resolver com a Justiça, não administrativamente”, explicou.

Com a alegada falta de respostas sobre o caso, João Morais também escancarou a ocorrência registrada contra o delegado aposentado, com todas as acusações criminais. Contudo, Lucena confirma que, apesar de ter prestado depoimento, não houve conclusão sobre o episódio relatado.

“Depois que prestei declarações na delegacia, não acompanhei mais [o inquérito]. Os gays que me conhecem, inclusive os da Segurança Pública, sabem que eu não sou homofóbico”, reforçou Lucena. 

Questionado sobre o motivo de não ter ingressado com uma ação judicial contra o corretor, já que foi acusado de cometer um crime, o delegado aposentado afirmou à reportagem que, supostamente, a vítima teria “várias ocorrências de briga com vizinhos e perturbação do sossego, por causa de festas com som alto” no Lago Oeste. 

“Fui embora para evitar maiores problemas, porque, tendo porte de arma, poderia reagir de outra forma, mas sou calmo e pacífico. Joguei o Rivotril para o homem se acalmar, pois estava muito nervoso. Vou avaliar (o processo criminal). Acho que ele quer aparecer para o público”, sintetizou.