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Delação premiada de Mauro Cid implicou núcleo bolsonarista na tentativa de golpe

Relatório da PF mostra ainda que o general Walter Braga Netto foi um dos líderes do movimento, pressionando oficiais
Mauro Cid implicou toda a cúpula bolsonarista em sua delação
Delação de Mauro Mauro Cid implicou toda a cúpula bolsonarista em sua delação. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

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Nomes citados na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid foram alvos da Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira (8). Além de Jair Bolsonaro (PL), que deverá entregar seu passaporte em até 24 horas, Walter Braga Netto e Filipe Martins, que integraram a cúpula de aliados do ex-presidente como ministro e assessor especial, respectivamente, foram mencionados por Cid no depoimento à PF. Martins foi preso e Braga Netto é alvo de mandado de busca e apreensão e apontado como um dos líderes da tentativa de golpe.

Além de ter citado Braga Netto e Martins, Cid admitiu à PF sua participação em um esquema para adulterar o cartão de vacinação do ex-presidente e apontou Bolsonaro como o mandante da empreitada. O ex-assessor Marcelo Costa Câmara, preso nesta manhã, é investigado pela suposta modificação do cartão de vacinas de Bolsonaro. A Operação Tempus Veritatis apura os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.

No depoimento à PF, Cid disse que Filipe Martins levou ao então presidente o rascunho de um decreto de lei, a chamada “minuta do golpe”, que seria para implementar um estado de sítio no País. Já Braga Netto foi mencionado na delação de Cid como um possível elo entre Jair Bolsonaro e os acampamentos golpistas, então instalados na frente de quartéis do Exército por todo o Brasil.

Filipe Martins, Jair Bolsonaro e a minuta golpista
Mauro Cid disse à PF que Filipe Martins entregou nas mãos de Bolsonaro uma “minuta de golpe de Estado”. O objetivo seria obstruir o resultado eleitoral desfavorável ao mandatário. Segundo o depoimento, tratava-se de um rascunho de um decreto que permitiria ao então presidente prender adversários e convocar novas eleições.

Martins era assessor especial de Assuntos Internacionais de Jair Bolsonaro. Ao fim da gestão, deixou o Brasil. Com a minuta, diz Cid, o ex-presidente teve a iniciativa de levar o documento à alta cúpula das Forças Armadas e discutiu com os comandantes a aplicação do plano.

O tenente-coronel disse aos investigadores que a única adesão à proposta de golpe veio do então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos. Marco Antônio Freire Gomes, comandante do Exército, repudiou o movimento, assim como o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior.

A PF acredita que Bolsonaro teve participação direta na edição da “minuta golpista” que circulou entre seus aliados após o segundo turno das eleições. Conversas encontradas no celular do tenente-coronel Mauro Cid sugerem que Bolsonaro ajudou a redigir e editar o documento.

Mauro Cid também afirmou na delação que o general Walter Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil e da Defesa durante a gestão de Jair Bolsonaro, costumava atualizar o então presidente sobre o andamento das manifestações golpistas que se instalaram em frente aos quartéis do País após a eleição de 2022. Segundo Cid, Braga Netto, que foi o companheiro da chapa de Bolsonaro à reeleição naquele ano, fazia um elo entre o mandatário e os acampamentos de pessoas que pregavam o golpe de estado.

Adulteração no cartão de vacinas
O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Marcelo Costa Câmara, coronel da reserva, também foi preso nesta manhã. Preso pela Operação Venire, Cid admitiu que participou de um esquema de adulteração no cartão de vacinas de Jair Bolsonaro, a mando do próprio ex-presidente.

O coronel Câmara foi citado pela PF como pessoa de interesse no inquérito que apura os indícios de adulteração. Em 22 de dezembro de 2022, o e-mail de Marcelo foi vinculado ao perfil do ex-presidente no aplicativo ConectSUS.

Ofensas de Braga Neto
A Polícia Federal (PF) acredita que o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil, liderou uma campanha velada, mas agressiva, de pressão a oficiais das Forças Armadas que rejeitaram aderir ao golpe articulado pelo grupo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para continuar no poder mesmo após uma eventual derrota nas eleições de 2022.

Conversas recuperadas pela PF mostram que até mesmo o então comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, entrou na mira do ministro. Em um dos diálogos, em dezembro de 2022, Braga Netto afirma que a “culpa pelo que está acontecendo e acontecerá é do general Freire Gomes”.

“Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, acrescenta o ministro. “Oferece a cabeça dele. Cagão.”

As mensagens foram trocadas com o capitão reformado do Exército Ailton Gonçalves Moraes Barros, preso pela Polícia Federal na investigação sobre as fraudes nos cartões de vacina. Braga Netto também atacou o tenente-brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, na época era comandante da Aeronáutica, chamado de “traidor da pátria”.

“Inferniza a vida dele e da família”, orienta o ministro.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a operação deflagrada nesta quinta-feira pela PF para aprofundar a investigação, afirmou que Braga Netto teve “forte atuação inclusive nas providências voltadas à incitação contra os membros das Forças Armadas que não estavam coadunadas aos intentos golpistas, por respeitarem a Constituição Federal”.