Quem assistiu ao debate da Rede Globo viu um espetáculo assustador de troca de acusações, informações duvidosas, um candidato folclórico, bate-bocas e intermináveis direitos de resposta que alongaram a transmissão madrugada adentro. Só faltaram propostas.
William Bonner, mediador do encontro, teve dificuldade de lidar com os candidatos, principalmente o pitoresco Padre Kelmon (PTB), que interrompia as respostas dos demais candidatos a todo momento. Os pedidos de direito de resposta, fruto do tom agressivo dos candidatos, prejudicaram o andamento do debate.
Nos segmentos com tema definido, faltaram as ideias dos candidatos e sobraram fugas ao tema, inclusive para fazer campanha para aliados, como fez o presidente Jair Bolsonaro (PL), que pediu votos para um candidato a governador e a um ex-ministro de seu governo.
Nos raros momentos propositivos, Simone Tebet (MDB), Ciro Gomes (PDT), Lula (PT) e Luiz Felipe d’Avila (Novo) tentavam pinçar ideias sobre educação, cultura, saúde e meio ambiente. No entanto, foi pouco. A corrupção dominou o debate de forma desqualificada – nada sobre segurança pública e fortalecimento das instituições foi falado.
O embate entre Jair Bolsonaro e Lula teve mais destaque no primeiro bloco do programa, sempre de forma indireta. Os dois candidatos não fizeram perguntas diretamente um para o outro como no debate passado.
O confronto que marcou – de forma negativa, diga-se de passagem – foi entre dois nanicos da campanha: Soraya Thronicke (União Brasil) e Padre Kelmon trocaram farpas, deram um tom cômico ao debate e fomentaram a fábrica de memes da internet.
O debate, por fim, serviu como um retrato das eleições deste ano. No próximo dia 2 de outubro o eleitor brasileiro escolherá seu novo presidente neste clima, sem acesso às ideias primordiais, focado em ataques aos oponentes e totalmente à deriva.