Em 2023, o Grande Prêmio de São Paulo de Fórmula 1 registrou entre seu público no Autódromo de Interlagos a participação de mais de um terço de mulheres. De acordo com a organização, 37% do público foi feminino, totalizando cerca de 99 mil mulheres nos três dias de evento.
Em comparação, em 2019, a presença era de 17%. Nesse período, portanto, a participação feminina no público total do GP brasileiro mais que dobrou, acompanhando um movimento mundial de ampliação do interesse das mulheres na Fórmula 1. Em 2024, o GP de São Paulo conta com um canal de denúncia de assédio e discriminação e uma central de acolhimento para mulheres.
Em paredes do autódromo, há cartazes com mensagens produzidas pelo governo do Estado de São Paulo com a seguinte orientação: “Não se cale, aqui você está protegida. Em situação de risco, peça ajuda”. São indicados dois gestos com a mão (um com punho cerrado e outro como uma indicação do número quatro) para solicitar auxílio. Em um QR code, que pode ser lido com a câmera do celular, há série de perguntas e respostas que também servem de instrução.
Um levantamento feito pelo Ibope Repucom aponta que o interesse por automobilismo entre o público feminino cresceu 49% desde 2019. Entre o total de fãs do esporte a motor, a participação das mulheres avançou 15% frente aos homens (era de 31% e hoje é de 46%).
“Quem me apresentou a Fórmula 1 foi uma amiga. Esse é o meu primeiro ano em Interlagos, mas me tornei fã da categoria há três anos. Nos banheiros, há muitos avisos com orientações em caso de assédio. É uma parte bem importante e estamos nos sentindo bem seguras. Vim a Interlagos com meu marido e essa minha amiga. Temos visto muitas mulheres por aqui”, afirma a nutricionista de Cascavel (PR) Karime Goulart El Hamoui, de 31 anos.
Karime é fã de Carlos Sainz, da Ferrari, tem tatuagem do espanhol e encontrou vários pilotos em sua viagem a São Paulo. A paranaense passou por algumas aventuras nestes dias na capital paulista. Ela conta que ficou sabendo da presença de Charles Leclerc, outro piloto ferrarista, em um restaurante que tem Felipe Massa como sócio e não teve dúvidas em ir até o local para tietar o monegasco. A nutricionista também se surpreendeu ao aparecer em um canal de televisão de Buenos Aires. Ela foi gravada ao presentear o argentino Franco Colapinto com uma cuia de chimarrão.
A série Drive to Survive, da Netflix, e a presença massiva da categoria nas redes sociais explicam a conquista de novos púbicos. “Acredito que a série, mesmo sem ser muito fidedigna e as os vídeos que são divulgados nas redes, ajudaram muito a conquistar outros públicos. Os pilotos também ajudam, mas depois de conhecer mais profundamente um ou outro piloto, eu comecei a querer saber como funcionam os carros, a equipe, a montagem dos GPs… Independentemente de ter um piloto brasileiro ou não, acho que o público do País continuará crescendo”, conta Karime.
O número de brasileiros conectados à internet, maiores de idade, interessados ou muito interessados em automobilismo é de 65 milhões, o que corresponde a 56% do total de pessoas conectadas do País. Até 2019, esse número era de 42% ou 40 milhões de brasileiros.
A mesma pesquisa ainda reflete sobre como o automobilismo, associado a esse reposicionamento conquistado nos últimos cinco anos, se tornou uma oportunidade para grandes marcas. Entre os esportes mais populares do País, o automobilismo se coloca entre os cinco primeiros colocados quando o tema é “alta probabilidade para comprar produtos com o logo do seu time ou evento preferido nos próximos três meses”, alto índice de “credibilidade” e “preferência” na escolha de marcas patrocinadoras.
“Compreender os hábitos e atitudes desses novos fãs oferece às marcas uma oportunidade única de se conectar com seus valores e aspirações, se tornando referência em seus segmentos na associação dos novos fãs aos valores de alto desempenho e sofisticação do automobilismo”, afirma Danilo Amâncio, coordenador de marketing do Ibope Repucom.
*Por Felipe Rosa Mendes e Marcos Antomil