O apresentador José Luiz Datena (PSDB) disse ao Estadão/Broadcast que deixará a apresentação de seu programa na Band apenas no prazo exigido pela legislação eleitoral, a partir do dia 30 de junho, e que não desembolsará “um tostão” para bancar a campanha eleitoral. Segundo ele, a tarefa caberá ao PSDB. O agora tucano lança nesta quinta-feira, 13, às 10h30, sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo.
Lideranças nacionais do PSDB estarão presentes, como o presidente do partido, Marconi Perillo (PSDB), que se reuniu com Datena na quarta-feira, 12, para acertar estratégias de campanha, o deputado federal Aécio Neves (PSDB) e o ex-governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), que articula candidatura a prefeito de Curitiba.
É a quinta vez que o apresentador ensaia trocar o jornalismo pela política. Nas quatro anteriores, ele recuou de candidaturas para prefeito e vice-prefeito da capital paulista e, por duas vezes, para senador. O sentimento no PSDB é de que Datena finalmente estará nas urnas em outubro, mas mesmo os mais otimistas mantêm um pé atrás e admitem que o pré-candidato é imprevisível.
Questionado se será mesmo candidato a prefeito, Datena responde que a pergunta é “pleonasmo” diante do evento marcado para esta quinta. Ele pontua, porém, que há outras datas importantes no horizonte, como a convenção partidária entre a segunda metade de julho e o início de agosto e último passo antes do registro da candidatura na Justiça Eleitoral.
“Não vou sair (do ar) antes do prazo. Não tem motivo para isso”, declara o apresentador ao ser perguntado sobre se poderia antecipar o momento em que deixará o programa televisivo. “Só que a partir do momento que eu lançar a minha pré-candidatura, não comento mais política na televisão, porque é injusto. Eu não falo mais nada sobre ninguém. Apresento o programa policial”.
Uma ala do PSDB considera que o partido demorou a articular uma candidatura própria e que Datena pode sofrer com falta de recursos e de estrutura partidária. O ideal, segundo essa corrente, é que a pré-candidatura tivesse sido construída ainda no ano passado.
De acordo com projeção da fundação 1º de Maio, os tucanos terão R$ 156 milhões em recursos do Fundo Eleitoral para financiar candidaturas de prefeito e vereador em todo o País. O montante é inferior aos R$ 170 milhões recebidos pela sigla há quatro anos, em valores já corrigidos pela inflação.
“Eu não vou colocar um tostão”, afirma Datena. “Quem banca a campanha claro que é o partido. Não sou o Doria que tem um bilhão de dorias. É o caminho convencional de financiamento via partido”, declarou.
O apresentador também terá que lidar com uma legenda que reconhece abertamente que perdeu força nos últimos anos e passa por um processo de reconstrução. Não há, por exemplo, vereadores para ajudá-lo na campanha: os oito eleitos pela sigla em 2020 se filiaram a partidos aliados do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o apoiarão.
Integrantes da cúpula do PSDB reconhecem que seria mais fácil uma campanha com a ajuda dos vereadores, mas ponderam que o partido ainda tem diretórios zonais organizados em todas as regiões de São Paulo e que Datena é muito conhecido entre os eleitores.
Além disso, afirmam que, embora a sigla tenha menos recursos que outros concorrentes, há dinheiro suficiente para bancar a candidatura na capital paulista, maior cidade do Brasil e que será tratada como prioridade. Também são elencados como importantes as pré-candidaturas de Richa na capital paranaense e de João Leite (PSDB) em Belo Horizonte.
“Estive com ele conversando sobre estratégias de campanha e plano de governo. Não lhe faltará apoio”, afirma Marconi Perillo, que se encontrou com Datena na quarta-feira, 12.
Há também um empecilho prático: pessoas que organizaram eventos com Datena recentemente relatam que há uma preocupação extra com a segurança dele devido ao teor do programa na Band que tem como foco a cobertura de crimes em São Paulo e as duras críticas do apresentador aos acusados de cometê-los. A avaliação é que isso poderia, por exemplo, dificultar agendas de rua durante a campanha.
Desde o início do processo eleitoral, o PSDB dizia manifestar preferência pelo lançamento de uma candidatura própria, mas a ausência de nomes viáveis diante do enfraquecimento do partido nos últimos anos surgia como empecilho. A dificuldade foi superada em abril, quando a também pré-candidata Tabata Amaral (PSB) articulou a ida de Datena para a legenda em uma tentativa de conseguir o apoio dos tucanos e ter ele como vice.
Na filiação, o jornalista declarou que sua vontade era estar ao lado da deputada, de quem se disse fã, mas não cravou uma chapa, que afirmou depender do acerto entre PSB e PSDB. Naquele momento, Datena disse que um de seus objetivos era disputar uma cadeira no Senado em 2026.
Tabata e seu entorno demonstram ceticismo que o apresentador será mesmo candidato a prefeito, mas argumentam nos bastidores que, caso isso ocorra, ele não tira votos dela, conforme as pesquisas mais recentes. O PSDB é visto como importante por causa do histórico de governos na capital paulista, mas se a aliança não prosperar, a deputada deve buscar o apoio de outras legendas.
A posição do PSDB é de não conversar com outros candidatos neste momento. As negociações serão reabertas somente após uma eventual desistência de Datena. Como mostrou o Estadão, o grupo liderado por Aécio prefere apoiar a deputada do PSB a Nunes, mas sob a condição de Tabata não se aliar a Boulos no segundo turno.
“Vocês vão se surpreender com o que vai sair desse caldo em relação ao PSDB, ao Datena. Tem muita coisa acontecendo e estou com muita paciência nesse processo. A gente vai ter uma definição em breve”, disse Tabata em sabatina promovida pelo canal MyNews em parceria com a Reag Investimentos na semana passada.