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Dapper Dan of Harlem: ovacionado pelos fãs e por todos que o condenaram

Se existe alguém capaz de tecer a história da moda com fios de ousadia e autenticidade, esse alguém atende pelo nome de Dapper Dan. Nascido e criado no bairro do Harlem, em Nova York, Daniel Day, o homem por trás do alter ego, transformou-se em um ícone da moda urbana, desafiando padrões e redefinindo o conceito de luxo.

Tudo começou em 1982, quando Dan abriu a Dapper Dan’s Boutique. Os primeiros clientes? Artistas dos guetos nova-iorquinos, atletas negros e entusiastas do hip hop, gênero totalmente marginalizado e restrito às periferias à época. Nenhuma marca ou grife olhava para esse público, mas Dan estava lá.

Nos primeiros anos, o trabalho do estilista ganhou notoriedade local, à medida em que ele transformava roupas tradicionais em peças únicas, incorporando elementos luxuosos e estilos exclusivos. “Eu não tive a oportunidade de seguir minha carreira no jornalismo. Então, olhei para a moda como uma maneira de contar histórias”, afirmou o estilista.

No entanto, foi no final da década de 1980 que o designer estourou, ao criar peças personalizadas, ostentando logotipos de grifes de luxo como Gucci, Louis Vuitton e Fendi. Gerou até controvérsias legais que surgiram devido à apropriação das marcas renomadas. Era a década da logomania e Dan se apoderou dela com muita propriedade.

E o Harlem, apelidado por Dan como “a favela mais única do mundo”, torna-se o epicentro de sua inspiração. Hip hop, jazz, soul. “Temos uma identidade diferente porque fomos o primeiro lugar na América onde todos se consideravam negros”, conta. O gueto se fortalecia à medida que surgiam ícones oriundos do bairro.

Neste contexto, a música negra foi essencial nas criações de Dan. Para ele, trata-se de algo maior que aquilo que compõe a moda, é o motor que a impulsiona. “Quando olhamos para a minha trajetória, eu não estaria onde estou hoje se não fosse pela música negra”, descreve.

Dan cita também o exemplo de Virgil Abloh, criador da Off-White. “Quando olhamos para a trajetória de Virgil, se ele não tivesse Kanye West, não acho que teria alcançado o que sua imagem se tornou ainda hoje. Então, eu digo isso aos designers iniciantes no Brasil: é muito importante que você tenha influenciadores, e a influência mais poderosa é a música”, diz.

Talvez os casos mais famosos da carreira de Dan envolvam a gigante italiana do alto luxo Gucci. Em 1992, a marca processou o estilista por causa de suas customizações. Após uma sequência de batalhas judiciais, ele ficou no anonimato e longe dos holofotes por mais de duas décadas.

Em 2017, o jogo virou, e foi a grife de Florença quem plagiou o designer do Harlem, imitando uma das suas mais famosas criações, a jaqueta de pele bufante usada por Diane Dixon em 1988. “Eu não fiz cópias. Eu não copiei o produto. Eu melhorei o produto. Bem, quando você faz algo melhor, as pessoas copiam. Até mesmo as pessoas que o criaram primeiro o copiam”.

Posteriormente, a Gucci admitiu a inspiração nas peças de Dan, o que culminou em uma parceria entre o estilista e a marca italiana. “O que a Gucci fez depois de perceber que o mundo inteiro sabia que as criações que estavam indo para a passarela foram auxiliadas por Dapper Dan? A pressão em cima deles foi mostrar ao mundo de onde tudo veio”, disse o estilista.

Muito do retorno de Dan ao estrelato se deu pelas plataformas digitais. De acordo com ele, a defesa das pessoas por esses canais foi essencial. “Eu aprendi que não tinha voz durante os anos 70 e 80, então, fiquei quieto. Mas a mídia se desenvolveu de uma maneira que me devolveu a identidade e me deu voz”, desabafa.

O gatilho das redes surgiu de outra polêmica envolvendo a casa italiana. Um ano após a colaboração e a reabertura do ateliê de Dan, a marca se envolveu em um escândalo blackface. Ele usou o próprio perfil do Instagram para bater de frente com a grife mais uma vez. “Não há desculpas que possam apagar esse tipo de insulto”, publicou no Instagram em fevereiro de 2019.

Atualmente, as partes se acertaram, e o até hoje morador do Harlem tem parceria fixa com três marcas: GAP, Puma e, claro, Gucci. Dan pode dizer com orgulho que antes não olhavam para ele, para o povo dele. E, hoje, precisam dele e da cultura negra no universo da moda. “Nossa cultura varreu o planeta. Então, era necessário para eles virem e me procurarem. Foi uma necessidade desta indústria fazer isso”, concluiu.

Atualmente Dan segue no Harlem e continua remixando marcas. Uma recente collab foi realizada com a Gap ao assinar Dap nos tradicionais moletons. Algo jamais feito pela marca. O feito confirmou a volta de Dan, bem como a sua vitória sobre a poderosa estrutura dos conglomerados de luxo. A coleção esgotou em horas.

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