Você já parou para pensar em como o mundo pode ser visto de maneiras diferentes por cada pessoa? Para quem tem daltonismo, cores que parecem vibrantes para muitos podem ser percebidas de formas distintas ou até confundidas entre si. A condição é um distúrbio visual que compromete a capacidade de discernir certas cores e atinge, majoritariamente, os homens.
A oftalmologista Clarice Lagares explica que o distúrbio é hereditário e resultado de mutações genéticas que afetam os fotorreceptores cone na retina do olho, aqueles responsáveis por detectar as cores vermelho, verde e azul. “No entanto, o daltonismo também pode ser adquirido”, revela a médica. Isso pode acontecer em decorrência de doenças neurológicas ou lesões nas células responsáveis pela visão.
E, apesar de parecer uma condição inofensiva, o daltonismo pode impactar significativamente a vida de quem possui o diagnóstico, ao afetar atividades diárias como a identificação de sinais de trânsito e a escolha de roupas. “Isso influencia, consequentemente, a qualidade de vida das pessoas e limita certas escolhas profissionais”, acredita Clarice, que destaca a importância do diagnóstico precoce e da busca por tratamentos eficazes, que possam minimizar os efeitos do daltonismo na vida dos afetados.
Para ela, é importante reconhecer a condição ainda na infância, por meio de atividades lúdicas como colorir desenhos. “Essa observação é fundamental para a implementação de estratégias de intervenção e adaptação”, afirma a oftalmologista.
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Foto: reprodução/Clínia de Olhos Moacir Cunha
O diagnóstico do daltonismo é um procedimento fundamental para identificar e compreender as limitações visuais de cada pessoa. Inicialmente, é feita uma avaliação clínica detalhada, com identificação de sintomas e pesquisa sobre antecedentes familiares. Em seguida, são aplicados testes específicos que ajudam a entender o tipo e a gravidade do daltonismo.
“O diagnóstico precoce é crucial, especialmente em crianças, pois facilita a implementação de estratégias educacionais e sociais adequadas para minimizar o impacto da condição ao longo da vida”, ressalta Clarice.
Para saber qual teste realizar, primeiro deve-se identificar qual é o tipo de daltonismo em questão. Existem três:
- Protanopia: hereditário, consiste na ausência completa dos fotorreceptores de cones sensíveis ao vermelho, provocando uma dificuldade em distinguir entre tons de vermelho e verde. Muitas vezes, o vermelho pode ser visto como preto, e algumas nuances de laranja, amarelo e verde podem parecer semelhantes. É mais comum em homens do que em mulheres;
- Deuteranopia: é caracterizada pela ausência de cones sensíveis à luz verde na retina, o que causa dificuldades na distinção entre cores que contêm vermelho e verde. Certos tons de vermelho e verde podem ser confundidos, enquanto azuis e roxos, sob determinadas condições de iluminação, também causam dificuldades;
- Tritanopia: tipo raro de daltonismo que resulta da ausência de cones sensíveis ao azul, faz com que as pessoas afetadas tenham dificuldade em distinguir entre azul e verde, além de tons de amarelo e vermelho. Afeta homens e mulheres igualmente.
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Teste de Ishihara | Foto: reprodução/Fortíssima
Embora ainda não exista uma cura definitiva para o daltonismo, diversos métodos têm sido aplicados para mitigar as dificuldades enfrentadas por quem sofre da condição. “As abordagens terapêuticas atuais para o tratamento estão principalmente focadas em melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados”, explica a médica.
Entre essas abordagens, destacam-se o uso de dispositivos que aprimoram a distinção de cores, como óculos e lentes de contato especiais, além do desenvolvimento de aplicativos e softwares que auxiliam na identificação precisa das cores. “Ainda, pesquisas contínuas visam compreender melhor a base genética do daltonismo, buscando intervenções mais eficazes”, comenta.
Ela ressalta, ainda, que tecnologias de ponta, como a inteligência artificial e a realidade aumentada, estão sendo exploradas para criar aplicações que auxiliam na distinção de cores em tempo real, aumentando, assim, a autonomia dos indivíduos com daltonismo.