Marcado pela tradicional distribuição de saquinhos de doces pela população às crianças, o Dia de Cosme e Damião é celebrado anualmente em setembro. Até hoje, não se sabe qual é a data exata do falecimento dos irmãos. Assim, é celebrada em 26 de setembro pela Igreja Católica, desde uma reforma feita pela instituição religiosa, em 1969; e, no dia 27, majoritariamente, pela população do Brasil e religiões afro-brasileiras.
Os irmãos são considerados padroeiros dos médicos, dos cirurgiões, farmacêuticos, parteiras e das faculdades de medicina. Segundo a Igreja Católica, os santos São Cosme e São Damião nasceram no século III, na Ásia, e dedicaram-se ao cuidado dos enfermos sem receber remuneração, no tempo da perseguição contra os cristãos. Além do cuidado com o corpo físico, eles preocupavam-se com a parte espiritual dos pacientes. Os médicos foram apelidados pelo termo grego “anárgiros”, que significa “sem prata”.
Nas religiões afro-brasileiras, os irmãos são identificados como orixá Ibeji, uma entidade infantil sincretizada com São Cosme e São Damião. Em geral, é realizada uma cerimônia em homenagem aos irmãos e são servidas comidas como caruru, vatapá, bolinhos, doces e balas.
Os gêmeos morreram no ano 300 da Era Cristã. Ambos foram perseguidos pelo imperador Diocleciano por que foram acusados de serem inimigos dos deuses, bem como de usar feitiçarias e meios diabólicos para disfarçar as curas. Depois do fato, a história dos irmãos ficou conhecida no mundo todo e até hoje há pessoas que cultivam a crença nos médicos.
Uma delas é a moradora do Guará, Valeria Carvalho Neves, 71 anos. Ela conta que tem crença na história dos irmãos e distribui doces há seis décadas para alegrar as crianças no Dia do Cosme e Damião. “Minha mãe começou a doar doces quando eu era pequena. Quando me casei, continuei com essa tradição. Em cada ano escolho um local para fazer essa boa ação. Às vezes, peço aos meus netos para levarem os doces para escola e, em outras ocasiões, entrego a doação em alguma creche”, diz.
A idosa devota aos irmãos chegou a fazer uma promessa quando seu filho sofreu uma queimadura. Ela pediu que ele não ficasse com marcas de cicatriz em troca da continuidade da doação dos doces. “Cosme e Damião são médicos e a gente sempre tem as horas de desespero com um neto ou um filho doente”, diz.
Juliana Reis também tem o hábito de colaborar solidariamente nessa data. Para ela, ser católica não foi nenhuma barreira para que ela ajudasse uma amiga de uma religião afro-brasileira a fazer os preparativos das comidas na data de homenagem aos gêmeos. “Tudo começou há aproximadamente dez anos, quando uma amiga que trabalha comigo me pediu ajuda para fazer os enfeites para festa de Cosme e Damião, já que sei fazer arcos de balão. Ela gostou e pede para fazer todo ano. Hoje, contribuo fazendo os enfeites, enchendo os saquinhos de doces e distribuindo, além de auxiliar na preparação do caruru, uma comida feita tradicionalmente pela religião dela. Acredito no respeito às diferentes religiões”, finaliza.