O primeiro dia de 2023 foi marcado pela **posse** do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante a cerimônia, um dos **momentos mais marcantes** foi quando um grupo de oito pessoas que **representavam a sociedade brasileira** subiu a rampa do Palácio do Planalto. Entre elas estava o influenciador PCD da inclusão, potiguar e politizado **Ivan Baron**.
Com tantos acontecimentos, o **_look_ do influencer** não passou despercebido. Ivan vestiu um conjunto de alfaiataria de calça e blazer dos artistas **Victor Hugo Soulivier e Juliana Gomes da Silva**, artistas que compõem o ateliê _Tela Ambulante_, responsável por produzir **obras icônicas** que caminham em vários ramos da arte, com o conceito da **sustentabilidade**.
Brasilienses e estudantes da Universidade de Brasília (UnB), o artista plástico e a designer de moda se juntaram em 2020. Em entrevista ao **GPS**, Victor contou detalhes sobre sua carreira, desejos, sonhos e muito mais. Confira!
**GPS: Como foi a experiência de vestir o Ivan Baron? Como essa oportunidade chegou até você?**
Victor Hugo: A oportunidade surgiu por meio de uma indicação do Diego Rocha. Ele entrou em contato comigo e eu apresentei o nosso coletivo _Tela Ambulante_ de arte e moda. Eu e Juliana Gomes nos unimos e criamos a obra de arte. A peça já estava pronta, ele comprou e nós customizamos. Temos um [formulário de encomenda]https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScA48EiCtCmSmAJ8WUh8UCbp0mUCqP5-i_wXsIY7sqQq6hu4w/viewform) que criamos junto com o cliente. Por lá, ele manda frases, referências e, a partir do imaginário do colecionador, nós vamos criando essa nova obra de arte com base, também, no que temos de bagagem interna.
Foi muito incrível ter essa experiência. Era um segredo, não sabíamos que ele ia subir a rampa. Descobrimos junto com vocês, no meio da Esplanada, com seis telões passando para o mundo todo. Ter essa experiência de vestir o Ivan, uma pessoa tão presente e influente nesse mundo, conhecê-lo pessoalmente foi muito especial. Mostrar que a micropolítica dentro da arte faz diferença sim.
**GPS: Como foi o início da sua carreira artística?**
Victor Hugo: Desde quando me entendo por gente, eu venho dessa base artística. Eu tenho fotos de criança fingindo ser cantor, ator. Minha mãe é costureira há mais de 25 anos. Atualmente, ela está se aposentando, inclusive. Meu pai foi um dos primeiros alunos da escola de música, ele era ator e me colocou com dez anos de idade na escola de teatro. Daí veio a minha paixão por dança, coreografia e palcos.
Com 14 anos eu trabalhei em um salão de beleza. Comecei na recepção e depois mudei para social mídia, foi um sucesso. Mas, precisei sair porque começou a atrapalhar meus estudos. Com o dinheiro da recisão do trabalho eu consegui comprar minha primeira câmera. A partir daí já entrei para o universo da fotografia. Hoje, com 25 anos, completo dez anos na cena artística de Brasília.
Foi com a fotografia que tudo iniciou de fato. Ensaios de nu artístico, editoriais de moda, conhecendo várias marcas de roupas… até que passei na Universidade de Brasília e tive a minha primeira exposição por lá. Primeiro passei para História da Arte e depois mudei para Artes Visuais Licenciatura. Desde então, fui me aprofundando em novas técnicas, pintura, escultura, pintura têxtil, onde uso memórias afetivas e ressignificações do passado, presente e futuro. No começo não tive tanto apoio, mas com o passar do tempo e minhas conquistas, consegui me legitimar como artista
**GPS: Quais são seus principais projetos?**
Victor Hugo: Atualmente meu projeto principal gira em torno do _Tela Ambulante_. É um coletivo de moda independente criado em Brasília. A gente se juntou na pandemia em 2020. Trabalhamos com os três R’s: redução, reutilização e reciclagem dos resíduos descartados no meio ambiente. As roupas são todas sem gênero. Esse é um dos meus principais projetos hoje, tanto social quanto artístico.
Tenho também a minha outra série que será inaugurada na Câmara dos Deputados dia 20 de março: _Desvaneios_. Uma exposição sobre sonhos, distopia e utopia do corpo preto LGBT em meio a uma sociedade que permeia devaneios coletivos e individuais. Será estreado com pinturas. Além disso, também estou me preparando para dar cursos no _Senai_ de _upcycling_ arte e moda. O _Tela Ambulante_ tem trabalhando cada vez mais e estão surgindo várias oportunidades. Muitas coisas estão acontecendo no momento. Novidades que ainda não posso compartilhar estão por vir.
Além disso, faço parte também da equipe de Arte da produção do Longa metragem “Ecoloucos” com direção de Cibele Amaral, que estará em 2023 nós cinemas. O coletivo Tela Ambulante assinou alguns look inusitadas para esse longa.
**GPS: Como é a sua versão profissional e pessoal?**
Victor Hugo: Eu, como artista tenho meus medos, inseguranças e preciso de apoio. Porém, me considero uma pessoa que gosta de ser alto astral, olhar afetuoso com o próximo, que tenta compreender a dicotomia do ser. Eu tenho uma compreensão mais aguçada.
Como artista profissional, eu me descrevo como comunicador. Foi a forma que escolhi como me comunicar com o mundo e fazer minhas denúncias, por meio da arte. A minha fuga, meu encontro, as minhas saudades, tudo é um grande desabafo. Dentro da minha profissão, eu sinto que sempre tem um diálogo intrínseco com a minha própria realidade e do meu subconsciente social. Do _street_, do piche, do grafite, que tem essa pegada de _hackear_ o sistema, gosto de estar em espaços alternativos, quebrando as paredes das galerias de cubo branco e transformando a arte em algo mais acessível.
**GPS: O que o Victor do futuro deseja para si e para o mundo?**
Victor Hugo: Meu grande sonho era saber quem seriam os 100 artistas principais de Brasília nos 100 anos da cidade. E, em 2021, eu ganhei o prêmio LGBTQIA+ das 50 pessoas reconhecidas pelo seu trabalho aqui no DF. Já foi uma realização de sonho.
Meu outro desejo era fazer história e, agora, se concretiza com Ivan subindo a rampa presidencial. Por isso, preciso de novos sonhos a serem construídos. Mas, um desejo que sempre estará em mim será poder viver da arte, que eu possa ser livre, com meus prazeres, fazendo o que eu gosto, viajar e ter galerias que possam me acolher e representar. Estar em bienais e salões de arte. E, para o mundo, eu desejo a paz mundial, no sentido do questionamento. Que se perguntem por que o mundo tá usando um padrão ou outro. Um olhar mais empático. E que elas possam compreender mais as conturbações do nosso ser.
**GPS: Como você se inspira? Existe algum artista que você gostaria de trabalhar junto?**
Victor Hugo: Em exposições de artes, livros, Instagram de pessoas novas, dentro da faculdade, buscando referências que mais se entrelaçam comigo, como _Jean-Michel Basquiat_. Os artistas brasileiros _Samuel de Saboia e Marcelo Solá_, são alguns dos que eu gostaria muito de trabalhar algum dia. Se comunicam visualmente muito forte com a minha obra, e tem essa pegada afrocentrada, dois artistas pretos incríveis.
**GPS: O seu portfólio é enorme. Gostaríamos de saber: você como um artista multifuncional, no que gosta mais de trabalhar?**
Victor Hugo: Sim, são 10 anos de caminhada. Já tentei carreira na área da música, produtor, mas o que mais gosto é direção de arte. Fiz meu primeiro longa em 2022, que vai estrear esse ano nos cinemas. Minha outra paixão é a pintura. Pintura em roupa, outros tipos de suporte. tenho muito forte essa linguagem da comunicação através de traços.
**GPS: Como surgiu o ateliê _Tela Ambulante_?**
Victor Hugo: Meu ateliê surgiu na minha casa, a partir do meu desenvolvimento no campo artístico. Eu e minha mãe desocupamos um dos quartos de casa para eu usar. Depois residimos no _Espaço Ferrugem_, a Fernanda Ferrugem é a madrinha da marca, sem ela não chegaram até aqui. Hoje, estamos divididos em dois ateliês: o da Juliana Gomes, na Granja do Torto, e o meu, na Vila Planalto, que é onde produzo a maior parte das roupas e telas. É um grande centro de reunião de amigos, onde nos encontramos, criamos, conversamos, filosofamos e trocamos sobre tudo. Temos vários brechós parceiros, como _Lu Saiu do Armário, Disco de Vinil e Lixomania_, estão sempre nos fornecendo as roupas para nossa arte.
No meu ateliê, o meu namorado, José Maurício, está me auxiliando na parte de assessoria de imprensa. Quanto a produção, sou eu e a Juliana Gomes, com nossas ideias e inspirações que saem na hora. Trabalhamos no modo empírico, onde deixamos fluir. O cliente e nós só sabemos o resultado no momento.
Gostou da entrevista? [Aqui](https://drive.google.com/file/d/1b9Eev97xVz5RgbX493Nz0hXLuUAQ7btl/view) você confere as obras disponíveis do artista! E, para saber mais, basta acessar o Instagram do Vicor Hugo @soulivieroficial, da Juliana Gomes @primeiramentesilvaju e do Ateliê Tela Ambulante @telambuante.