Uma paixão por cinema desde novinha culminou em uma das diretoras mais proeminentes do Brasil. Clarissa Campolina, uma mineirinha cinéfila, sempre acompanhou as novidades do cinema e até mesmo cursou a habilitação quando fez Comunicação Social. Foi em 1999, no entanto, que Rafael Conde a convidou para ser assistente de direção do longa-metragem “Samba-Canção”. A oportunidade abriu ainda mais o horizonte da brasileira, que já recebeu prêmios em Veneza, Mar Del Plata, Nantes, Havana, entre outros.
“Foi uma experiência muito intensa e transformadora, me apaixonei completamente. E o mais incrível é que já se passaram 24 anos e a vontade de continuar fazendo filmes continua e se renova sempre”, comenta.
A ideia do filme “Canção ao Longe” — em cartaz em diversos cinemas, inclusive em Brasília — nasceu em 2012, como pontuou a diretora, “em um Brasil bem diferente do que nós vivemos hoje”. O desejo era contar uma história que mostrasse as fissuras de um Brasil complexo, socialmente cheio de desafios, mas com esperança ao longo do caminho.
“Nos dedicamos, a princípio, a pensar o modelo de família e o silêncio, os segredos presentes nessa estrutura, inclusive para mantê-la de pé, para manter os lugares de poder e de privilégio”, conta sobre a narrativa do filme, que tem as relações familiares como centro e uma tentativa de ser mais independente e livre, no caso da personagem principal, Jimena — protagonizada por Mônica Maria.
Ao longo desses 10 anos de produção do filme, muito coisa se passou e, ainda assim, a história se provou atual e crítica às realidades que assolam o Brasil até hoje. Racismo estrutural, opressão, o foco na mulher negra, o longa-metragem questiona não só as relações familiares, como também essas relações sociais complexas e que perduram até hoje. O roteiro foi construído em conjunto, como conta Clarissa, ao lado de Mariana Pinheiro, Caetano Gotardo e Sara Pinheiro. As temáticas citadas, inclusive, vieram a partir do convite à Mônica Maria, trazendo legitimidade e local de fala sobre as questões.
“Nesse sentido, posso dizer que a construção do roteiro foi feito de forma muito fluida e colaborativa. Fizemos muita pesquisa e muitos encontros que promoviam a escuta e a troca entre todos nós da equipe e do elenco.”
E falando em elenco, a escolha para os atores partiu de uma mescla rica e diversa. Não só atores de filmes, mas alguns dos profissionais da atuação vierem de diversas áreas, como dança, música e teatro. “E considero isso um dos grandes desafios e méritos do filme. O elenco com bagagens diversas renovou a relação de atores e atrizes com a câmera e com a equipe”, destaca.
Enquanto diretora é sempre emocionante ver suas produções nas telinhas, segundo Clarissa. Em Brasília, o longa está em cartaz no Cine Brasília e é possível conhecer o filme às 21h30, exceto nesta segunda, 17. Confira a programação completa aqui.
“O momento da exibição é sempre muito emocionante. Porque é nessa hora que o filme existe, conversa com o público, é interpretado de diferentes maneiras. E esse deslocamento do olhar, de como eu vejo e leio o filme, me interessa muito, enquanto diretora. ”
Para o futuro, Clarissa já está trabalhando no seu próximo filme, “A Fera na Selva”, co-dirigido por Sérgio Borges e interpretado por Sinara Telles e Carlos Francisco. Na Anavilhana, produtora na qual está desde 2005, ainda participa da organização de um curso destinado a grupos de mulheres integrantes de movimentos sociais, que se chamará “A Ventura da História Múltipla”.