Março chegou com um alerta importante. O mês foi escolhido para conscientizar as mulheres sobre a endometriose, doença que afeta 1 em cada 10 mulheres no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Estima-se que esse número é ainda maior devido ao diagnóstico tardio da doença. Há relatos de pacientes que levaram mais de 10 anos para descobrir que tinham endometriose.
É o caso da biomédica Aline Azevedo. Desde os 15 anos de idade ela sofria com cólicas fortíssimas durante o período menstrual. Foi a vários médicos, fez exames e por muito tempo ouviu a mesma coisa.
“Eles diziam que era normal da idade, da função normal do organismo”, disse.
Aline só descobriu que tinha endometriose depois do primeiro filho, quando já estava com 27 anos.
“Aí foram feitos exames mais específicos e foi constatada a endometriose profunda. Durante esses 12 anos eu fiquei convivendo com as dores, tomando remédios e com um fluxo menstrual intenso achando que isso era normal, e não era”, continuou.
Dor muito forte durante a menstruação é o principal sintoma da endometriose, doença que muitas mulheres desconhecem. Por isso foi criado o março amarelo, mês de conscientização da doença. Só no Brasil, a Organização Mundial de Saúde estima que 7 milhões de mulheres tenham endometriose.
A endometriose é uma doença na qual tecido endometrial, que é o tecido que reveste o útero, cresce fora da cavidade uterina, podendo se alojar em várias partes do corpo, como ovários, tubas uterinas e até no intestino. Tratar a endometriose é fundamental para dar qualidade de vida às pacientes.
“O que acontece é que muitas mulheres têm os sintomas da doença, como cólica menstrual intensa, uso de medicações frequentes para cólica menstrual, não conseguem fazer suas atividades habituais, às vezes tem que fazer suas atividades habituais mas sentindo muita fadiga, sentem dor na relação sexual, sangramentos vaginais aumentado, distensão abdominal. Muitas vezes esses sintomas não são valorizados e isso atrasa o diagnóstico da doença. Então é importante a mulher ficar atenta ao seu corpo, conhecer os seus sintomas, conhecer o seu ciclo menstrual, e não aceitar dor. Sentir dor não é normal e toda dor deve ser investigada”, explica a cirurgiã ginecologista, Charbele Diniz, membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Para o médico Leonardo Campbell, cirurgião ginecologista, também membro da federação o diagnóstico da endometriose é tão difícil porque “culturalmente se entende que a mulher pode ter a dor menstrual, que isso é esperado, é normal. Mas não é. Se a dor afeta a qualidade de vida dessa mulher, deve-se procurar um médico especialista”, orienta.
Leonardo alerta que “precisar tomar antiinflamatórios durante o ciclo menstrual, remédios cada vez mais fortes todo mês, precisar ir no pronto socorro por conta da dor, ter o sangramento muito aumentado, faltar trabalho ou escola por causa do ciclo menstrual, nada disso é normal. Esses já são sintomas da endometriose”, diz.
Não há uma causa definida para a condição, como explica a ginecologista da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), Fabyanne Mazutti. Segundo ela, a prática de atividade física e a adoção de uma dieta saudável também auxiliam no controle dos sintomas.
“O plano terapêutico é individualizado, definido de acordo com a gravidade da doença, a idade e os sintomas da mulher, se há o desejo de engravidar. O tratamento pode ser feito com o bloqueio da menstruação com hormônios, cirurgia laparoscópica e, se for necessário, com tratamentos de reprodução assistida (como a fertilização in vitro) para mulheres com dificuldade de gestar”, explica.
Uma das consequências do diagnóstico tardio é que a endometriose também pode causar dificuldade para engravidar. “Não é toda mulher que tem dificuldade para engravidar que tem endometriose, mas quem tem endometriose pode ter dificuldade para engravidar. Eu já atendi muitas pacientes que tinham o desejo de engravidar e não sabiam que tinham endometriose,” explica Charbele.
A endometriose é uma doença que não tem cura, mas tem tratamento. É possível amenizar as dores com tratamentos clínicos e mudanças de alguns hábitos ou, em casos indicados, é possível fazer a cirurgia para a retirada dos focos da doença.
Segundo a base de dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA), em 2023, no DF, foram feitos 1.119 procedimentos relacionados à endometriose, envolvendo atendimentos, exames e tratamentos. Em 2022, foram 645.
Sintomas da endometriose
Embora os casos possam ser assintomáticos, existem alguns sintomas comuns da endometriose. Entre eles:
· Menstruação dolorosa
· Dor pélvica crônica
· Dor durante ou após a relação sexual
· Dor durante a micção ou ao evacuar
· Depressão ou ansiedade
· Inchaço abdominal e alterações intestinais antes ou durante a menstruação