Yumi Kuwano A dor crônica é uma das condições de saúde mais debilitantes e negligenciadas do mundo. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 30% da população têm dores persistentes que dura mais de três meses — que podem ter diversas causas. Essa condição não apenas afeta o bem-estar físico, mas compromete a saúde mental, a qualidade de vida e a capacidade de trabalho de quem convive com ela.
Diagnosticar dor crônica exige uma análise cuidadosa do histórico clínico, exames físicos detalhados e, em alguns casos, exames laboratoriais ou de imagem. Ainda assim, como a dor é subjetiva, o relato do paciente se torna peça-chave para o diagnóstico. “É sempre importante que a dor crônica seja diagnosticada por um médico especialista e acompanhada para definir as melhores estratégias”, alerta o ortopedista Fernando Jorge.
O tratamento, por sua vez, é multidisciplinar. Vai desde medicamentos analgésicos e fisioterapia até abordagens complementares como acupuntura, psicoterapia e mudanças no estilo de vida. Mas uma nova evidência científica aponta que um fator muitas vezes ignorado pode ter grande impacto: a alimentação.
Pesquisadores da Universidade do Sul da Austrália revelaram em estudo recente que uma dieta equilibrada pode reduzir significativamente a gravidade da dor crônica. A pesquisa investigou a relação entre dieta, gordura corporal e dor, e concluiu que o consumo de alimentos recomendados pelas Diretrizes Dietéticas Australianas — ricos em vegetais, frutas, grãos integrais, carnes magras e laticínios — está diretamente associado a menores níveis de dor corporal, especialmente entre mulheres.
Fernando Jorge destaca a relevância dessa descoberta: “Essa é uma maneira fácil e acessível para os pacientes controlarem melhor a condição. A alimentação saudável deve ser entendida como parte essencial no controle da dor e da melhora da qualidade de vida”.
Alimentação
A nutróloga Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), reforça: “Esse estudo mostra que a dieta saudável que compreende um padrão alimentar equilibrado, variado e o mais natural possível é uma excelente opção para o tratamento da dor”.
Ela explica que os efeitos positivos se devem, em parte, às propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes dos alimentos. “Opções como o morango, o mirtilo, a amora e a framboesa, a cenoura, o espinafre, o pimentão e os brócolis são interessantes, pois combatem o estresse oxidativo, a inflamação, ajudam a melhorar a saúde geral e a reduzir a ocorrência de dores crônicas“, diz. A médica ainda destaca o papel do ômega-3, presente em peixes como salmão e atum, e em sementes como linhaça e chia, que reduz inflamações, melhora a mobilidade e reduz a dor, especialmente em casos de artrite.
Apesar dos avanços, o Fernando Jorge faz um alerta: “É muito comum que pacientes com dor crônica retirem alimentos ou até mesmo grupos alimentares da dieta sem indicação médica. E isso, além de desnecessário, pode ser perigoso”. A Dra. Marcella complementa com um exemplo: “A falta de cálcio em pacientes que eliminam os lácteos sem uma dieta balanceada, por exemplo, pode causar dor abdominal, náuseas, dores ósseas, fraqueza muscular, confusão mental e fadiga”.
Embora o sobrepeso e a obesidade sejam fatores de risco para a dor crônica, o estudo apontou que uma alimentação saudável reduz a dor independentemente do peso corporal.
