Conhecido até então como “neófito na política” – mesmo depois de ser eleito em 2018 ao desbancar políticos tradicionais e reeleito quatro anos depois –, o governador Ibaneis Rocha (MDB) tem conseguido se descolar do termo ao se revelar um habilidoso articulador e com inteligência emocional pouco comum no cenário político do Distrito Federal, especialmente em situações adversas.
Com duas vitórias majoritárias eleitorais no currículo recente, apesar de não ter disputado cargos públicos anteriormente, desbancou a reeleição do então governador Rodrigo Rollemberg (PSB), em 2018, e tornou-se o primeiro chefe do Executivo local reeleito em primeiro turno na história do DF, superando, em 2022, o oposicionista Leandro Grass (PV), apoiado pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Agora, o emedebista se debruça sobre planos eleitorais e estratégicos para manter seu atual grupo político no comando do Palácio do Buriti, em 2026, assim como nas cadeiras destinadas ao Distrito Federal no Poder Legislativo.
Cabe lembrar que a Justiça Eleitoral impede que um chefe do Executivo – seja federal, estadual, distrital ou municipal – concorra ao mesmo cargo após já ter sido reeleito. Por isso, Ibaneis deve seguir o caminho de outros governadores os quais finalizaram o segundo mandato e, assim, disputar, possivelmente, uma vaga no Senado Federal, tido como a “casa dos ex-governadores e ex-presidentes”.
Para tanto, o emedebista tem se dedicado a atrair nomes competitivos para o MDB-DF, sigla que o abrigou, além de consolidar alianças com partidos tidos como leais e integrantes da atual base de apoio.
O objetivo é fortalecer o grupo para que, finalizado o próximo mandato no GDF, o emedebista tenha condições viáveis de, ao menos tentar, retornar ao governo do Distrito Federal em 2030.
Pragmático como é conhecido, Ibaneis aposta na vice-governadora, Celina Leão (PP), como principal nome para derrotar candidaturas adversárias, especialmente do campo ideológico da esquerda. Por isso, o advogado tem investido o tempo na articulação política e jurídica para viabilizar o projeto eleitoral de 2026.
Recentemente, tanto Ibaneis quanto Celina se livraram de acusações que poderiam comprometer a disputa do próximo ano. O governador teve arquivado o inquérito sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, quando foi investigado por suposta “omissão” nas invasões das sedes dos Três Poderes. O Supremo Tribunal Federal (STF) descartou a suspeita.
Da mesma forma, Celina Leão foi absolvida na ação resultante da Operação Drácon, a qual era acusada, ainda quando estava como presidente da Câmara Legislativa (CLDF), de desviar emendas da saúde junto a outros parlamentares distritais.
Pela decisão, todos foram inocentados na primeira instância do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). Ou seja: mais um esqueleto retirado do armário.
As duas acusações eram consideradas munições para possíveis adversários, visando desgastar, provavelmente, as imagens de ambos na campanha de 2026. Contudo, após as recentes decisões da Justiça, pelo menos por ora, os argumentos foram neutralizados.
Além disso, Ibaneis e Celina trabalham, tanto na esfera federal quanto na distrital, para reunir lideranças de peso dentro da esperada aliança partidária com foco no ano que vem.
Reconhecida pela boa interlocução política e institucional, a preferida candidata à sucessão do emedebista trabalha, silenciosamente, para solidificar a união da dita direita. Tanto que tem como principal aliada a amiga e ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), com quem tem viajado o país para defender a participação das mulheres na política.
A esposa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), confiante na preferência entre a maioria dos brasilienses, segundo pesquisas, deve disputar uma das duas cadeiras do Distrito Federal no Senado, como Jair Bolsonaro mesmo tem repetido. A ideia é que ela esteja na chapa ao lado do atual governador.
Filiações
Por outro lado, Ibaneis também tem mobilizado secretários, deputados e lideranças, com forte aceitação popular, para integrar oficialmente o grupo que tentará, mais uma vez, derrotar adversários políticos – como quando ocorreu com Rollemberg, em 2018, e com Leandro Grass (PV), em 2022.
O atual secretário de Governo, José Humberto Pires, é um exemplo dessa estratégia. Respeitado especialmente pelo setor produtivo do DF, Zé Humberto se filiou recentemente ao MDB, a pedido de Ibaneis, e pode disputar uma vaga de deputado federal no próximo ano. Além dele, a meta é atrair novos quadros para o partido do governador brasiliense.
Para se ter ideia, no dia 5 de abril, Ibaneis deve anunciar novas filiações durante um evento do MDB-DF, quando o político reforçará a base eleitoral para a disputa de 2026. Até o próximo ano, outros nomes relevantes podem ser incorporados ao projeto, incluindo forças empresariais.
O governador tem dito que pretende apostar em alguém com “perfil técnico” e de “plena confiança” para ocupar a candidatura de vice-governador na possível chapa encabeçada por Celina.
Entre os nomes cogitados, além de Humberto, está o chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha, um dos integrantes do núcleo mais confiável de Ibaneis. Tanto Gustavo quanto José Humberto ainda não foram testados nas urnas. Mas, ao vencer, o emedebista também não tinha vitórias no currículo “político”.
Ibaneis não é previsível, os mais próximos sabem disso. Desde que decidiu disputar o governo do DF, em 2018, mesmo sem a suposta bagagem “política”, apenas com a vitória como presidente da Seccional do Distrito Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) nos ombros, o emedebista não se intimidou com obstáculos.
Em 2018, após a decisão, iniciou a campanha ao GDF com pontuação ínfima nas pesquisas, sem sequer atingir um ponto percentual nas intenções de voto dos brasilienses. Escrevo porque estive no evento da pré-candidatura.
Ainda assim, manteve-se focado no projeto majoritário e, em pouco tempo de campanha, reverteu o cenário político, quando derrotou Rollemberg, então governador e que contava com o apoio da máquina pública local. Com base nesse passado, Ibaneis não deve entrar na nova disputa para perder.
Com a instável popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o desempenho de futuros concorrentes ao GDF, o governador aposta na validação de seu governo e no fortalecimento da base aliada para manter a influência política e o reconhecimento dos brasilienses.
O objetivo é efetivar a transferência de votos locais para Celina Leão, caso ela seja, realmente, efetivada como cabeça da chapa distrital.
Até agora, o cenário favorece o projeto atual. Ao menos que, caso um fator inesperado e externo ocorra, desestabilize a união partidária e implique nas candidaturas majoritárias projetadas pelo emedebista.
Com a decisão tomada, seja para o governo local ou para o Senado Federal, Ibaneis poderá perder ou ganhar a partir dos posicionamentos, até que o governador articule e coordene a campanha para voltar ao Buriti em 2030.