Um editorial da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado em janeiro deste ano na revista científica The Lancet Public Health afirma que não há níveis seguros de consumo de álcool para a saúde. O editorial enfatiza que o consumo de álcool é um fator significativo para mais de 200 tipos de prejuízos sanitários, incluindo câncer, doenças cardiovasculares e hepáticas, depressão, bem como comportamentos violentos, acidentes incapacitantes e fatais.
A OMS defende que as nações adotem políticas públicas de saúde que promovam a diminuição do consumo apoiadas por medidas como a elevação de impostos, a limitação da venda para menores de idade e a proibição da publicidade de bebidas alcoólicas.
De outra parte, a afirmação de que baixos níveis de ingestão de álcool podem trazer benefícios à saúde e proteção contra todas as causas de mortalidade é altamente controversa.
Embora estudos observacionais e metanálises relatem que indivíduos que consomem quantidades moderadas de álcool tendem a viver mais e têm menor probabilidade de desenvolver doenças cardíacas em comparação com abstêmios, há evidências de que esses resultados são influenciados por vieses sistemáticos, como o uso de indicadores de saúde não relacionados ao consumo de álcool, incluindo dieta, higiene bucal, renda individual e peso corporal.
Outros vieses incluem a falha em distinguir entre abstêmios completos, ex-bebedores e a possibilidade de que os abstêmios possam ter problemas de saúde por outras causas.
O que temos de novo?
No início de 2023, pesquisadores canadenses da University of Victoria veicularam no Journal of American Medical Association uma revisão sistemática e metanálise abrangendo 107 estudos publicados até julho de 2021, envolvendo mais de 4,8 milhões de participantes.
O que o estudo mostrou?
A revisão sistemática detectou que os erros em outras investigações envolvendo a classificação incorreta de bebedores ocasionais como abstêmios eram frequentes, com 86 das 107 pesquisas apresentando tais discrepâncias.
Após considerar possíveis vieses e efeitos de confusão associados à amostragem e classificação incorreta de ex-bebedores, foi constatado que a ingestão de baixa quantidade de álcool, menos de 25g/dia ou 02 drinques/dia, não ofereceu nenhum benefício protetor contra o risco de mortalidade por todas as causas em nenhum dos sexos frente aos abstêmios.
No entanto, o risco de mortalidade por todas as causas foi significativamente maior para mulheres que consumiram mais de 25g de álcool/dia e homens que beberam mais de 45 g de álcool/dia. Além disso, pessoas com alcoolismo tiveram um risco 19% maior de morte.
Cabe destacar, idosos que bebem pouco tendem a ser mais saudáveis não por uma proteção brindada pelo álcool, mas porque aqueles que adoecem precisam parar de beber por orientação médica. Por fim, é importante lembrar que correlação não é causalidade.
Beber uma taça de vinho por dia faz bem à saúde?
Durante muito tempo, foi difundida a hipótese sedutora de que o consumo equilibrado de álcool poderia estar associado a um estilo de vida saudável e sofisticado. No entanto, a ingestão limitada de bebidas alcoólicas não traz benefícios à saúde, enquanto o consumo excessivo pode trazer graves prejuízos.
É importante lembrar que os efeitos da sua ingestão variam de pessoa para pessoa e dependem de uma série de fatores, incluindo idade, sexo, histórico de saúde e genética. Idealmente, para promover a saúde de forma efetiva, o consumo de álcool deveria ser completamente evitado, mesmo em quantidades moderadas.