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Coluna Dr. Clayton Camargos: açúcar e adoçante

A discussão sobre os adoçantes artificiais pode ser controversa. Pesquisas científicas ainda estão em andamento para avaliar os efeitos desses produtos em nosso corpo

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O argumento em favor dos adoçantes artificiais pode, à primeira vista, parecer atraente. Todo o sabor doce do açúcar com menos (ou nenhuma) caloria. O que poderia ser melhor?

 

Tanto o açúcar quanto os adoçantes artificiais poderão ser prejudiciais à saúde. No entanto, cada vez mais pesquisas científicas mostram que, se estamos comparando o que é pior, os adoçantes artificiais podem ser ainda mais nocivos do que o açúcar.

 

Por que os adoçantes artificiais podem ser prejudiciais à saúde?

 

Adoçantes artificiais são compostos projetados para ter o gosto de açúcar, todavia, com menos calorias. A maioria tem menos de 3 kcal por colher de chá. Compare isso com uma colher de chá de açúcar, que tem 16 calorias. Eles também são comumente usados por pessoas com diabetes porque não afetam o nível de glicose no sangue da mesma forma que o açúcar.

 

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Foto: Reprodução

 

No entanto, isso não significa que os adoçantes artificiais sejam benéficos para nós. Os mais comuns incluem:

 

  • Sacarina;
  • Aspartame;
  • Sucralose.

 

Há também uma grande variedade de álcoois de açúcar que os fabricantes usam para adoçar alimentos. Eles incluem itens como xilitol, eritritol, sorbitol e maltitol. Uma vez no trato intestinal, o álcool de açúcar é fermentado por nossas bactérias colônicas, o que pode liberar gás, levando a distensão abdominal, cólicas e diarreia. O eritritol tem sido associado ao aumento do risco de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral.

 

A discussão sobre os adoçantes artificiais pode ser controversa, apesar de serem considerados seguros para consumo humano pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – e outras agências de saúde em todo o mundo. Enquanto isso, pesquisas científicas ainda estão em andamento para avaliar os efeitos desses produtos em nosso corpo.

 

Podemos fazer uma analogia com o hábito de fumar cigarros: embora seja autorizado para adultos, não significa que seja saudável para todos. De forma semelhante, o uso de adoçantes artificiais é permitido, mas isso não os torna necessariamente uma escolha saudável.

 

Já sabemos que o açúcar e alimentos doces devem ser consumidos com moderação, uma vez que não oferecem muitos nutrientes em termos de saúde. O açúcar estimula o sistema nervoso central e libera um neurotransmissor, a dopamina, que proporciona a sensação de prazer. Esse processo é semelhante à liberação de dopamina quando fumamos ou consumimos substâncias psicoativas.

 

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Foto: Freepik

 

O açúcar é absolutamente viciante. Além de estimular as áreas do cérebro relacionadas à adição, consumi-lo eleva os níveis de glicose no sangue, determinando o aumento da secreção do hormônio insulina e, consequentemente, uma queda de açúcar no organismo. Com efeito, sentimos a necessidade de ingeri-lo repetidamente, como em uma montanha-russa.

 

Os adoçantes artificiais também proporcionam aquele sabor intenso que nosso corpo está programado para desejar. O problema é que podem ser até 700 vezes mais doces que o açúcar. Isso resulta em um completo bombardeio do nosso sistema nervoso central com aquela doçura que libera dopamina.

 

Se comer açúcar dispara fogos de artifício no cérebro, os adoçantes artificiais eletrificam o sistema nervoso central. Porém, em breve a euforia se pacifica, e nosso organismo quer mais. Então buscamos mais alimentos adoçados artificialmente. E não nos preocupamos tanto com isso porque são de baixa caloria, não é mesmo?

 

Quando consumimos adoçantes artificiais, nosso corpo começa a desejar mais açúcar. E pode ser mais fácil ceder a esse desejo porque entendemos que estamos fazendo uma escolha supostamente “saudável”.

 

Tanto o adoçante artificial quanto o açúcar são viciantes. No entanto, nas últimas décadas, uma série de investigações tem mostrado que o uso prolongado de adoçantes artificiais pode ser particularmente prejudicial ao nosso corpo.

 

Nos anos 1990, estudos sugeriram uma possível correlação entre o câncer e o uso de adoçantes artificiais, especialmente a sacarina e o ciclamato de sódio. Entretanto, essa associação não foi definitivamente comprovada.

 

Outras pesquisas demonstraram, porém, que o consumo regular e excessivo de adoçantes artificiais pode estar associado a diversas condições adversas à saúde, tais como:

 

  • Obesidade;
  • Hipertensão;
  • Síndrome metabólica;
  • Diabetes tipo 2;
  • Doenças cardíacas.

 

De toda sorte, a resposta científica sobre se os adoçantes fazem mal ainda é incerta e mais estudos serão necessários para determinar completamente seus efeitos à saúde humana.

 

Se você estiver pronto para saltar da montanha-russa do açúcar, uma boa estratégia é limitar o consumo de alimentos industrializados e ultra processados. Observe o rótulo dos produtos, uma vez que aqueles que possuem as indicações de “baixa caloria”, “sem calorias”, “baixo teor de açúcar” e “sem adição de açúcar” podem conter adoçantes artificiais.

 

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Foto: Freepik

 

Até mesmo alimentos que não são considerados “doces” portam uma quantidade significativa de açúcar ou seus substitutos. Isso inclui itens como molhos para salada e macarrão, queijos e biscoitos. Por isso, é essencial ficar atento à rotulagem nutricional.

 

A American Heart Association (AHA) recomenda que os homens e indivíduos designados como homens ao nascerem não consumam mais do que 36 g (equivalente a 09 colheres de chá) de açúcar adicionado por dia, enquanto as mulheres e indivíduos designados como mulheres ao nascerem devem limitar o consumo a 25 g (equivalente a 06 colheres de chá) por dia. No entanto, é importante observar que são orientações gerais e que, para portadores de resistência à insulina, pré-diabetes ou diabetes, essa quantidade de açúcar adicionado poderá ser excessiva.

 

Embora alimentos doces e açucarados possam ser consumidos ocasionalmente, nenhum adoçante artificial transformará um alimento não saudável em saudável. A substituição de açúcar por adoçantes artificiais não oferece os benefícios que buscamos e, mesmo que as pesquisas não tenham sido conclusivas, a longo prazo, o consumo excessivo poderá se desdobrar em prejuízos à saúde.

 

Por fim, para fazer uma escolha entre açúcar e adoçantes artificiais, é importante levar em consideração a quantidade, frequência de consumo, bem como as necessidades e objetivos de saúde. É altamente recomendável consultar um nutricionista para determinar a melhor opção para cada indivíduo.

 

 

Fontes

 

Liu WW, Bohórquez DV. The neural basis of sugar preference. Nat Rev Neurosci. 2022 Oct;23(10):584-595. doi: 10.1038/s41583-022- 00613-5. Epub 2022 Jul 25.

 

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35879409/

 

Freeman CR, Zehra A, Ramirez V, Wiers CE, Volkow ND, Wang GJ. Impact of sugar on the body, brain, and behavior. Front Biosci (Landmark Ed). 2018 Jun 1;23(12):2255-2266.

 

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29772560/

 

DiNicolantonio JJ, O’Keefe JH, Wilson WL. Sugar addiction: is it real? A narrative review. Br J Sports Med. 2018 Jul;52(14):910-913. doi: 10.1136/bjsports-2017-097971.

 

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28835408/