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Coluna Clayton Camargos: emagrecendo com McDonalds

Recentemente, um estadunidense viralizou no tiktok ao revelar que conseguiu emagrecer mesmo se alimentando apenas de fast-food. Será que é saudável?

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Uma abordagem dietética criada por um homem estadunidense e compartilhada na rede Tik Tok está polemizando: o técnico de negócios Kevin Maginnis, um avô de 56 anos, divulgou seu plano de comer apenas 50% de cada preparação do McDonald’s em três refeições por dia durante 100 dias seguidos. Até o momento, com o projeto em curso desde 21/02/23, emagreceu 26,5 kg, saindo de 107,9 para 81,4 kg. Para ele “não é tanto o que você está comendo, é a quantidade do que você está comendo”.

 

Segundo publicações em seu perfil na supracitada rede social (@bigmaccoaching), Kevin comentou que antes de inaugurar a proposta coletou exames laboratoriais e vários dos resultados estavam alterados. Um tempo depois do início da estratégia, os achados de controle mostraram redução em marcadores como triglicerídeos, colesterol total e sua fração LDL. A curto prazo, a saúde cardíaca pode melhorar entre os portadores de obesidade que emagrecem uma quantidade significativa de peso a partir de uma dieta de baixa qualidade nutricional, ao  cabo que a redução ponderal ‘equilibrará’ o padrão alimentar não saudável.

 

Um dia desse cardápio é composto por hambúrgueres, batatas fritas e sobremesas. No entanto, ocorreu a troca de refrigerantes por água e a supressão dos lanches entre as 03 principais refeições – café da manhã, almoço e jantar. A recomendação de exercícios físicos não está incluída no plano, e Kevin afirma que caminha apenas em torno de 2.000 passos por dia.  

 

Isso é ou não saudável

 

A dieta exclusiva ‘Kevin com McDonald’s’ não é um plano alimentar consagrado cientificamente, isto é, não foi prescrita por nutricionistas e não há ensaios clínicos disponíveis para avaliar sua segurança e eficácia. De toda sorte, é possível emagrecer comendo fast food. O emagrecimento do norte-americano não surpreende, considerando que o objetivo é estritamente a redução ponderal, portanto, a quantidade consumida é mais relevante do que a qualidade.  

 

O tipo de alimento que ele está comendo também contribui: Kevin ingere proteínas em cada refeição, o que regula o apetite e o mantém satisfeito por mais tempo. Isso pode levar a menos lanches do que antes e, ao final do dia, a um déficit calórico. De outra parte, o emagrecimento não pode se limitar à restrição energética. Embora esse plano pareça funcionar, a redução ponderal se estabilizará e será necessário complementá-lo com exercícios físicos ou reduzir ainda mais o consumo de calorias para que o peso siga diminuindo.  

 

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Foto: Unsplash

 

 

Tudo o que consideramos saudável ao longo do tempo está faltando no cardápio do McDonald’s, e em outros tipos de alimentos altamente processados. Consumir entre 25-30 g de fibras diariamente, incluindo frutas, legumes e oleaginosas, contribui para o envelhecimento bem sucedido. Ao deixar de ingerir nutrientes essenciais, não se previne o risco de doenças cardíacas, neurodegenerativas, hipertensão, diabetes, acidentes vasculares cerebrais e câncer colorretal.

 

Para além disso, embora Kevin esteja reduzindo suas refeições pela metade, ainda ultrapassa o consumo diário de 02 g de sódio recomendado pela Organização Mundial de Saúde – OMS. Com efeito, uma porção de 15 unidades de nuggets de frango contém 1.5 g, e um Big Mac 867 mg de sódio sem a adição de molhos. Veja, não é sobre a quantidade de hambúrgueres e batatas fritas que se consome. É sobre os alimentos saudáveis que não se come há 100 dias. O destaque positivo foi ter substituído a ingestão de refrigerantes por água. Esta sempre será uma escolha inteligente.

 

O verdadeiro teste não será se ele conseguiu ou não emagrecer – diferentes dietas com balanço energético negativo levam à redução ponderal, mas sim se será capaz de mantê-lo. A maioria das pessoas recupera o peso emagrecido dentro de seis meses a um ano por circunstância de um mecanismo híbrido que envolve o aumento do desejo de comer combinado à diminuição do metabolismo. Ao interromper esse projeto, será imprescindível sustentar um déficit calórico significativo para preservação do resultado alcançado, sobretudo devido à ausência de exercícios físicos regulares.

 

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Foto: Unsplash

 

 

Por se tratar de um experimento de curto prazo, é difícil saber exatamente como afetará o organismo em um horizonte temporal estendido. Por isso, de antemão, ao iniciar qualquer dieta tenha a supervisão de um nutricionista – especialmente se envolver visitas frequentes ao drive thru. Afinal, essa não é a combinação ideal para conquistarmos anos de vida com qualidade. Esse projeto desperta inquietação não apenas pelos potenciais efeitos deletérios à saúde de Kevin, mas também pelas pessoas que nele encontram inspiração. O bem estar transcende a mera quantificação na balança