A temperatura subiu. Mirou alto, chegou mais alto ainda. Escaldou, temperou, alucinou – e mesmo com muito bom-humor no gelo para refrescar, a preocupação que vem com ela, esquenta. Pois é, de tanto falar-se que o aquecimento global era balela… virou. Global warming is so last season — o mundo está em ebulição global, e os impactos nós sentimos em base diária.
Naquela que deveria ser a época de chuva do planalto central, temperaturas abominantes abraçam o brasiliense dia após dia. O que fazer numa hora como essas? Além de muito banho frio e um filtro solar ‘porreta’, uma mudança no guarda-roupa é bem vinda: um tchau aos blazers e galochas! Em pleno outubro, vamos antecipar o verão.
Sim, está liberada a caipirinha de limão, o chá mate e a chinela Havaiana. Ah, e também todas as tendências que não vemos a hora de usar no fim de ano.
Ansiosa (e demasiado calorenta), elegi 5 elementos que não escaparão da minha mala de Réveillon — e que já estão dando seus pitacos nos meus looks atuais.
Das antigas
Essa história de usar pijama para sair de casa não é nova, mas ainda arregala olhares. O lounge wear, como é chamado após seu rebranding, já viu várias facetas: na década passada, virou pauta com os modelos estampados de Dolce & Gabbana. Durante o isolamento social tornou a ser febre, afinal, se é para ficar em casa, que seja com estilo.
A mais nova maneira de consumir esse traquejo fashion, contudo, tem um flerte com o passado. Em tons claros e materiais delicados, a pedida agora é por uma lingerie angelical, regencial e muito, muito romântica.
Das cobertas para as ondas: o retorno do lounge wear nesse verão
A grife de fundador brasileiro Mirror Palais foi uma das primeiras a relançar essa ideia. Com uma estética que resgata as heroínas da literatura brasileira, como Gabriela ou A Moreninha, a marca alcançou sucesso graças ao apelo poético de suas peças. Muito branco, algodão e renda produzem um look leve e descomplicado, eternamente belo e delicioso de se usar. Em sua mais recente coleção, Jacquemus também mirou no boudoir de uma figura ‘das histórias’ — ou melhor, da história. Apresentado nos jardins de Versailles, o Fall/Winter 2023 do designer francês trouxe às passarelas uma Maria Antonieta desconstruída, despida de seus vestidos de baile e trajada em sedas, em transparências e em toda a franqueza da sua gloriosa roupa de baixo. Um conceito sensual, mas nunca sexual, que romantiza desde as praias da Bahia até as baías provençais.
Mirror Palais e Jacquemus assumem o look ‘travesseiro-chic’ mesclando sensualidade e romantismo
Vitralizada
Se o argumento de ’tendência mais explorada dos últimos anos’ for posto à mesa, a transparência pode até não ser a pedida certa para todo mundo, mas com certeza vai fazer parte do prato. Há algumas boas temporadas que o conceito de ‘menos é mais’ ganhou novo sentido: ao invés de adornos, refere-se à cobertura. Mas muita pele não quer dizer pouco tecido, pelo contrário! Saias longas e blusas de manga comprida são a pedida, mas chegam em tecidos completamente translúcidos, como o tule e finas sedas. Com hotpant e top a postos, a festa está montada!
Deixe o preto na metrópole! A vez é da transparência colorida
E quem não se diverte com a ideia de usar uma saída de banho para a rua? É daqueles ‘desafios ao sistema’ que dão gosto doce à boca, mas com o tempo o preto fica tão sem graça, né? Entram em cena as transparências ilustradas, grandes vitrais sagrados que formam desenhos acima da pele. Transformam corpo em arte e fazem uma pintura em movimento. Com os cabelos presos para limpar o colo e chinelinhos grudados nos pés, dispensam ornamentos.
De se amarrar
Desde que Sandy Liang tomou pelos cabelos a cena fashion de Nova York, é difícil cruzar as ruas do Soho ou do Meatpacking sem vê-la pelas mechas ou pés da geração Z. Imersa numa estética ultra feminina, a grife é uma das principais responsáveis pelo estouro de uma tendência que já se vê bem longe da Big Apple: laços, copiosas quantidades de laços.
Eles estão em tudo. De presilhas capilares a broches e até meias, abraçam a feminilidade sem pedir licença para serem ‘coisa de menininha’. E para quem muito teve de reprimir a essência girly na missão de ser girl boss (uma troca nada válida, se cabe a mim dizer), os laços são o sopro de uma brisa fresca que permite mulheres serem mulheres. Não a toa, dominaram as passarelas, as ruas, e, em seguida, as areias.
Cabeça, ombro, joelho e pé: label nova-iorquina Sandy Liang propõe overdose de laços por todas as partes
No verão, são um bem-vindo detalhe que enriquece blusas frescas e vestidinhos rodados, oferecendo informação de moda sem se meter no conforto ou no bem-estar. Substituem botões e zíperes, conferindo um ar muito mais lírico ao look. E por mais inocentes que pareçam, são um convite silencioso ao desamarrar. Laços são frágeis não porque são femininos — mas porque no fundo, estão suplicando por serem desatados.
Ser mulher está em alta! Propostas hiper-femininas são a pedida certa para o verão
Jogo de damas
Pensar em vichy é pensar na França. Em toalhas de piquenique e baguetes com manteiga. Cinema preto-e-branco, Nouvelle Vague, calças cigarette e sapatilhas. Existe um sonho de verão mais doce que esse?
Um clássico da indústria têxtil, o vichy tem pose de nobre — mas está longe de ter sangue azul. Tem origem simples, é primo do guingão, um material barato feito em algodão tingido com tramas coloridas e brancas intercaladas. Não, no início, o vichy não era uma estampa — mas conte com Brigitte Bardot para mudar esse cenário!
A partir da década de 1970, tornou-se um staple do look feminino. Hoje, representa uma moda que vê beleza no tradicional e, mesmo tendo berço modesto, nunca perde a majestade.
‘Eita’ atrás de ‘eita’, ‘vichy’ atrás de ‘vichy’! O print que nunca saiu de moda retorna com gosto nessa temporada
Sua versão mais popular é a de branco com vermelho, mas não se engane! O vichy brilha nas mais diversas colorações. Azul, amarelo, rosa… independente da tonalidade, o padrão quadriculado garante leveza ao look e um latente sentimento de atemporalidade. Aposte em tecidos naturais e fique longe dos sintéticos: a ideia aqui é imprimir frescor na roupa. Com acessórios que também façam referência ao orgânico, compõem uma produção imortal e irretocável.
Emaranhado
Cabelo alinhado não tem vez no verão. Falei. Tô leve.
Os lisos, os perfeitamente calculados e penteados… deixe-os guardados com as meias ide lã e as baixas temperaturas. Ok, aquele coque grudado no gel vem a calhar quando o calor aperta (e o samba chama tão alto que simplesmente não há tempo de encabeçar qualquer outra coisa) mas a graça do calor é a cabeleira bagunçada.
Nesse verão, esqueça o pente na mala e assuma a cabeça livre
A textura de praia é o alvo: amassada, desregrada, sem muita ordem nem muita lei. Pense em Bardot (olha ela de novo!), Gabriela Cravo e Canela, Carrie Bradshaw… a lista é longa. O babyliss vêm muito a calhar na hora de reproduzir o efeito ‘messy’. Melhor que ele, o bombado triondas também é certeiro para imitar o aspecto ‘de praia’. Presilhas, laços e outros acessórios também são bem-vindos — tudo vale! Só não vale a monotonia.