O **peso da idade da mulher para a gestação** voltou à discussão com o anúncio da **gravidez da atriz Claudia Raia aos 55 anos**. Embora ainda faltem detalhes, o tom de **surpresa** que cercou a notícia sugere que tenha sido uma concepção espontânea, sem o auxílio de métodos de reprodução assistida. Trazido a público pela própria atriz em suas redes sociais, o caso surpreendeu e **emocionou seus familiares e amigos**. Contudo, o ginecologista especialista no assunto, **Ricardo Pimentel**, ressalta que embora seja uma excelente notícia, o sucesso de uma gravidez nessa idade desafia a ciência. “_A chance de uma gravidez espontânea aos 55 anos **é quase nula** visto que a qualidade do óvulo é proporcional à idade da mulher_”, explica.
**Estatísticas e a exceção**
Para esclarecer o que torna tão baixa a probabilidade de uma mulher ter um bebê após os 50 anos de idade, Ricardo levanta alguns pontos importantes relacionados ao funcionamento do sistema reprodutor feminino. “_Algumas evidências científicas mostram que **após os 47 anos de idade praticamente 100% dos óvulos que ainda restam são aneuploides**, ou seja, alterados geneticamente. Consequentemente, eles também irão formar embriões alterados geneticamente que não vão conseguir implantar ou que podem implantar, mas **não darão seguimento ao seu desenvolvimento**_”, pontua.
Além disso, estatísticas mostram que já **entre os 43 e 45 anos as chances de uma gravidez espontânea circulam entre 1% e 2%**. Outro ponto que torna evidente que o sucesso da concepção da atriz é contabilizado entre as exceções é o fato de que, em média, a mulher brasileira inicia a menopausa entre os 50 e 52 anos. “_Isso significa a **aposentadoria do ovário**. Ou seja, os folículos, únicos responsáveis por produzirem hormônios nos ovários, são extinguidos. Com isso, a mulher perde a unidade funcional e simplesmente a capacidade reprodutiva se torna nula_”, completa.
Diante disso, o ginecologista destaca outros pontos que devem ser observados com muita atenção durante uma gestação capaz de desafiar dados científicos. “_Se temos **um óvulo com uma qualidade muito ruim ele também vai gerar um embrião muito ruim**. A não ser que contrarie totalmente as estatísticas para a idade, esse embriãozinho não irá se desenvolver_”, pontua,
Mais do que isso, Ricardo Pimentel conta que **gestações após os 45 anos de idade têm mais de 50% de risco de evoluir para um natimorto**, enquanto o risco de aborto entre 45 e 47 anos ultrapassa os 90%.
**Idade segue determinante**
Sendo assim, o especialista salienta o papel do relógio reprodutivo feminino. “_Ao contrário do que muitos podem imaginar, essa notícia não é uma notícia tranquilizadora sobre o quesito idade. **Ela continua sendo o fator mais impactante** e devemos sim antecipar nossas chances de gravidez sempre que possível_”, argumenta.
E isso vale mesmo para as técnicas de reprodução assistida. O médico explica que a resolução que delimita a aplicação desses métodos só permite o uso das técnicas **desde que exista a possibilidade de sucesso e baixa probabilidade de risco grave à saúde da paciente e do possível descendente**. Por isso, a idade limite estabelecida é de **50 anos** e casos que vão além disso são tratados como exceções com base em critérios técnicos e científicos.
Por fim, o especialista Pimentel frisa que o anúncio é uma **ótima notícia e que os detalhes envolvidos nela são de foro íntimo do casal**. Contudo, ele reforça a importância de enxergar a realidade dessa gestação. “_Sendo uma gravidez espontânea, não devemos nos apegar à exceção como sendo uma regra. **Caso seja resultado de técnicas de reprodução assistida bem-sucedidas**, certamente foi comprovado que a paciente tem a saúde apta para isso, o que não muda o fato de que essa será uma gestação de alto risco pelo fator idade_”, conclui.