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Clássico goiano teve resultado parcial comprado por grupo de apostadores

Goiás x Goiânia, pelo Campeonato Goiano deste ano, é o primeiro jogo em que apostadores agiram para manipular diretamente o resultado. Diálogos, comprovantes de apostas e de pagamentos e capturas de tela do WhatsApp apontam para o envolvimento de cinco jogadores do Goiânia, que deveria perder o primeiro tempo do clássico estadual, o que efetivamente aconteceu. Os registros constam da segunda fase da Operação Penalidade Máxima, em curso no Ministério Público de Goiás (MP-GO).

 

No dia 12 de fevereiro, Denner Barbosa, ex-jogador do Corinthians e, à época atleta do Operário-MT, em contato com Bruno Lopez Moura, conhecido como BL e apontado como um dos líderes da quadrilha de apostas, combinaram para que a partida fosse manipulada em seu fator mais crucial: o resultado.

 

Nos diálogos, foi combinado que o Goiânia “entregaria” – este foi um dos termos utilizados – o primeiro tempo da partida para o Goiás. De acordo com Denner, “a linha de trás” estava combinada para o time sair derrotado nos 45 minutos iniciais, o que de fato aconteceu: 2 x 0, com gols de Lucas Halter, aos 6 minutos, e Vinicius Silva, aos 44 minutos. Segundo ele, em conversas com Bruno, cinco jogadores estariam envolvidos no esquema.

 

Diálogos, comprovantes de apostas e de pagamentos e capturas de tela do WhatsApp sugerem que os jogadores, que não tiveram seus nomes revelados, estavam cientes de que deveriam perder o primeiro tempo para o Goiás. Na ocasião, a zaga titular do Goiânia foi composta por Eduardo Leite, Gabriel Alves e Marcelo Xavier. Nenhum dos nomes está entre os citados no documento.

 

No dia 11 de fevereiro, um dia antes da partida, Denner contatou Bruno Lopez, informando que conseguiria “uma odd dois no Goiano de gol”. Na linguagem das apostas, isso significa que a manipulação ocorreria no resultado da partida. “Eu tenho um time no Campeonato Goiano com a linha de trás todinha”, complementou o jogador. “Perder primeiro tempo.”

 

Confira trecho da conversa entre Bruno Lopez e Denner Barbosa:

Denner Barbosa: Mas eu tenho um time no Campeonato Goiano com a linha de trás todinha.

Bruno Lopez: Me manda o time do Goiano e eu já coto. Se ficar boa…

Denner Barbosa: Perder primeiro tempo.

Bruno Lopez: Vamos fechar essa parada então?

Denner Barbosa: Preciso saber quanto você paga, que aí eu corro atrás aqui na ligação com os caras.

Bruno Lopez: 10 cruzeiros (R$ 10 mil) para cada.

 

Thiago Chambó Andrade, conhecido como TCY e outro dos apostadores envolvido no esquema de manipulação, chega a ponderar em conversas como BL se o grupo, realmente, deveria entrar nesta aposta. “Não dá para garantir a operação o resultado pro Goiás no primeiro tempo. Ou os ‘cara’ que vai jogar contra o Goiás vai entregar”, afirmou. Prontamente, BL reafirma que o resultado já está combinado. “Marcha”, escreveu.

 

Antes da partida, Bruno Lopez realizou uma transferência bancária, na Conta de Denner, no valor de R$ 25 mil. Cada jogador receberia R$ 10 mil e, ao final do jogo, foi transferido R$ 100 mil à conta de Denner.

 

No dia do jogo, Bruno Lopez e Denner voltaram a conversar, antes e depois da partida. O apostador se certificou de que os atletas estariam dispostos a “entregar” o confronto, fato que Denner voltou a confirmar. “Sim, c****. Os ‘moleques’ é nosso”, escreveu.

 

Depois do jogo, eles voltam a se falar pra comemorar o resultado

Denner Barbosa: Os mlk é nosso.

Bruno Lopez: Boa papai. Coisa linda, hein.

 

Além da aposta no jogo entre Goiás e Goiânia, os apostadores manipularam, na mesma data, o número de escanteios na partida entre Luverdense e Operário, no Campeonato Mato-Grossense. Após a partida, “os meninos”, como são chamados os atletas ao longo do diálogo, insistiram para que Denner cobrasse o valor acordado na manipulação.

 

Em abril, o promotor Fernando Cesconetto, do Ministério Público de Goiás, já havia citado que Goiás x Goiânia era um dos jogos suspeitos de manipulação. Ele afirmou, na ocasião, que existia a suspeita de que atleta do Goiânia haviam tramado para perder o primeiro tempo, mas não citou nomes. “O que tivemos era uma aposta de R$ 80 mil com parte de valores para que os jogadores do Goiânia assegurassem a derrota no primeiro tempo”, dissera Cesconetto. O jornal O Estado de S.Paulo tentou contato com as defesas de Bruno Lopez Moura e Denner Barbosa, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

 

Quem são Denner Barbosa e Bruno Lopez? 

Hoje com 29 anos, Denner iniciou sua carreira como lateral-esquerdo no Corinthians, em 2011. Ao todo, disputou apenas quatro partidas pelo clube, três destas no Campeonato Brasileiro de 2012. Desde então, iniciou uma cruzada pelo futebol brasileiro até aparecer como um dos aliciadores na manipulação de apostas.

 

Na última década, passou por Bragantino, Atlético-GO, RB Brasil, São Bento e Portuguesa. Atualmente defende o Operário-MT, onde se envolveu no esquema de manipulação em partidas dos Estaduais na região Centro-Oeste.

 

O empresário Bruno Lopez de Moura é um dos três presos na segunda fase da operação Penalidade Máxima. Considerado pelo Ministério Público de Goiás o líder de uma organização que supostamente manipulava resultados de jogos do Campeonato Brasileiro das Séries A e B para favorecer apostadores nos sites, ele foi preso duas vezes.

 

A primeira prisão, que foi temporária, ocorreu na operação anterior, em 14 de fevereiro. Na denúncia daquela detenção de Bruno, os promotores públicos informaram que ele era o “cabeça” da única gangue que foi desmantelada. Depois, o empresário de jogadores dono da BC Sport Management foi detido preventivamente, ou seja, sem previsão de soltura.

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