“Acho que o que me motivou foi contar histórias”, inicia Cibele Amaral, a brasiliense com vasta experiência em quase todas as áreas do Cinema que podemos imaginar. Ela fez faculdade na Itália e nesta época conheceu o set de filmagem na Cinecittá, em Roma. A partir daí se encantou e trabalhou como figurante, atriz, roteirista, figurinista, produtora e, finalmente, assistente de direção, onde há anos queria estar.
Engana-se, porém, quem pensa que Cibele parou por aí. Curiosa por natureza e sempre disposta a contar cada vez mais histórias, a diretora ainda se aventurou pela Psicologia e hoje acumula o título no diploma. Do papel para a vida real, ela conta que a psicologia foi uma necessidade “desde muito cedo”.
“Venho de uma família disfuncional. Muitos problemas na infância, traumas. Mas tive a sorte de contar com uma mãe que já havia entendido o importância da Psicologia. Passar de cliente a psicóloga foi algo que mudou minha vida. Amadureci muito com a faculdade, os estágios, a formação (incompleta ainda) em Análise Bioenergética, e, enfim, os atendimentos” conta.
Seja por necessidade ou paixão, de qualquer forma, Cibele reúne os conhecimentos e, claro, que um influenciaria no outro. Segundo ela, a psicologia sempre influenciou desde o curta-metragem ‘Momento Trágico’ (2003) até as produções mais atuais.
“Venho desenvolvendo projetos em parceria com outros psicólogos. Isso é muito interessante. No momento tenho um projeto em desenvolvimento que traz muito do meu trabalho como psicóloga, se chama ‘Consenso’, longa-metragem e série. Fala sobre a sexualidade feminina e sobre homens agressores. Espero realizá-lo, mas ainda dependo de financiamento”, destaca.
Brasília como local de alegrias e dores
Nascida no Distrito Federal, a brasiliense sabe bem as complexidades da cidade. Tanto para o bem, quanto para o mal, Brasília além de casa é, também, objeto de criatividade dentro do espectro que a capital impulsiona dentro de Cibele.
“Brasília me inspira pelo que tem de bom e de ruim. No meu filme ‘Um Assalto de Fé’, uma comédia, eu mostrei o DF solar, cheio de calor e energia, poeira vermelha, cores quentes. No ‘Por que Você Não Chora’, mostrei uma Brasília fria, cheia de espaços enormes nos quais o ser humano se sente perdido e solitário. Muita chuva. Em ‘Rir Pra Não Chorar’, mostrei uma Brasília mais classe média, com seus dramas familiares. Já no filme que vou lançar ano que vem, ‘Socorro’, usei os monumentos para fazer ficção científica. Na série ‘Réus’, que acabei de gravar, temos a Brasília dos prédios, comércios, parecida com as outras grandes capitais”, explica.
E o cinema no Brasil?
Além das dificuldades pela falta de investimento no setor, Cibele ainda questiona os desafios do audiovisual no quesito gênero. “As melhores oportunidades sempre vão para os homens”, inicia. “Acho que o cinema e o audiovisual ainda estão muito tímidos aqui no Brasil quando se fala de empoderamento feminino. As mulheres são minoria nas funções de protagonismo como roteiro e direção. E mesmo as que estão sempre trabalhando, como eu, devem isso à própria resiliência”, analisa.
Para a a diretora há espaço para quebrar esses muros impostos pelo que ela chama de “patriarcado”, mas ainda é necessário ir mais fundo e perceber que entre as próprias mulheres é necessário haver mais união. “As mulheres estão começando a se unir e dar oportunidades para outras mulheres, mas tudo ainda muito confuso. Grandes alianças são feitas com o patriarcado. A mulher jovem não se projeta na mulher madura. As mulheridades não conversam ainda como deveriam. O audiovisual pode e deve mudar essa realidade, principalmente trazendo para as telas boas relações entre mulheres, histórias contadas por mulheres. Precisamos de oportunidades”, finaliza.
Os filmes mais recentes
De novidade é que ‘Rir Pra Não Chorar’, a comédia dirigida por Cibele, deve chegar ao streaming logo mais. Para além disso, no entanto, dos filmes que mais marcaram ‘Por que Você Não Chora?’ tem um lugar especial no coração da diretora, já que conversa com suas duas paixões: Cinema e Psicologia.
Protagonizado por Bárbara Paz, ‘Por que Você Não Chora?’ é um drama que, segundo Cibele, tem se tornado até referência em faculdades de psicologia. Na narrativa, a cineasta fez um “relato do turbilhão de emoções e experiências que foi a faculdade de psicologia” para ela, além de conseguir expressar sua solidão em meio a alguns transtornos, no caminho, encontrou companhia e afago daqueles que passam pelas mesmas dores.
“Tudo o que eu tinha vivido até ali na terapia, passava a fazer muito mais sentido. A Bárbara, personagem vivido por Bárbara Paz, é muito parecida comigo. Jéssica, por outro lado, vivida pela atriz Carolina Monterosa, é o oposto. As duas são dois lados do Transtorno Borderline, um que implode e outro que explode. É um filme que trouxe e ainda traz muita gratificação. Cumpriu totalmente sua missão”, comenta.
Os planos para o futuro
Como uma excelente comunicóloga, Cibele raramente fica parada. Tem trabalhado em diversos projetos concomitantemente e em 2024 pretende lançar dois filmes e uma série. O primeiro, ‘Ecoloucos – Uma Comédia Insustentável’, com Maria Paula, Cristiana Oliveira, Robson Nunes, Victor Leal, Fabio Rabin e grande elenco, discute greenwashing e traz uma narrativa mais divertida.
Ao mesmo tempo, ‘Socorro’ ou ‘O Socorro Não Virá’, possíveis títulos ainda sem definição, será uma metalinguagem sobre narcisismo intelectual num mundo de ficção científica, utópico. No elenco, Fabio Rabin, Cris Paiva, Cláudio Heinrich e Naiara Lira.
Como já citado pela diretora, ‘Réus’ também está em sua lista de produções, com Cláudio Heinrich e Juliana Tavares. É uma série criminal para o canal Prime Box Brazil. Um longa-metragem de terror sob o título ‘O Morto Na Sala’ também está em andamento e a boa notícia é que já tem recursos captados e será filmado em 2024.