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Cine Brasília apresenta sessão especial de “Deus e o Diabo na Terra do Sol”

Versão restaurada do clássico filme brasileiro do Cinema Novo traz discussão sobre o processo de recuperação do título em 4K e a importância da narrativa para o cinema brasileiro

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Indicado à Palma de Ouro em Cannes de 1965, mas lançado em 1964, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” é o clássico do Cinema Novo que colocou o cinema brasileiro ao lado da cinematografia moderna internacional. O título é do baiano Glauber Rocha (1939 – 1981) e conta a história de Manuel, um vaqueiro que se revolta contra a exploração imposta pelo coronel Moraes, que morre após uma briga com o funcionário. A narrativa envolve religião, mais assassinatos e o retrato de uma cultura brasileira cheia de desafios. 

 

O longametragem a definição nua e crua do Cinema Novo, que surge no Brasil nos anos 1960 e 1970, com uma honestidade agressiva sobre realidades sociais. Outra característica do período é a realização dos filmes com baixo orçamento e autorais. É um dos momentos cinematográficos brasileiros mais marcantes e traz clássicos como Cinco Vezes Favela (1962), de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), Cacá Diegues (1940) e Leon Hirszman (1937-1987); Os Cafajestes (1962), de Ruy Guerra (1931); Vidas Secas (1963), de Nelson Pereira dos Santos (1928-2018); e o filme restaurado em 4k, Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha (1939-1981).

 

Nesta segunda-feira, 19, às 19h, além da sessão especial do filme restaurado no Cine Brasília, haverá um debate com a participação de Paloma Rocha, primogênita de Glauber, e Míriam Silvestre, doutora em História. O diretor de cinema Lino Meireles também comparecerá. Paloma e Lino foram os responsáveis pelo processo de restauração que, inclusive, o levou à Cannes mais uma vez

 

Confira o trailer:

 

“O filme colocou o Brasil no mapa da cinematografia mundial”, afirma o jornalista e crítico de cinema Sérgio Moriconi, programador do espaço gerido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec). “É uma obra original que mescla influências do (cineasta russo) Sergei Eisenstein, de toda a vanguarda soviética, do (cineasta francês) Jean-Luc Godard e do neorrealismo italiano, inaugurando o cinema nacional adulto”, conclui.

 

O bem contra o mal

Deus e o Diabo na Terra do Sol é o segundo filme de Glauber após o seminal Barravento (1962), que o diretor roteirizou e produziu após a desistência de Luiz Paulino dos Santos. Muito da inspiração do roteiro do clássico, marcado por personagens fortes da cultura nordestina, teve inspiração na literatura de cordel.

 

Na trama convulsiva, o vaqueiro Manuel (Geraldo Del Rey) e a mulher Rosa (Yoná Magalhães) são obrigados a fugir para o sertão após desavença que acaba com a morte do latifundiário autoritário. Pelo caminho, depara com a figura do beato Sebastião (Lídio Silva) e do cangaceiro Antônio das Mortes (Maurício do Valle), que trava duelo antológico com o diabo loiro Corisco (Othon Bastos em atuação hipnótica).

 

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Nas entrelinhas dessa saga delirante do bem contra o mal, o profano contra o sagrado, temas caros ao brasileiro como a miséria, a fome, a violência, as injustiças sociais, a luta de classe, enfim, ao som da voz tonitruante do cantor e compositor Sérgio Ricardo e dos rompantes líricos da música Heitor Villa-Lobos, o desejo do homem de ver “o sertão virar mar”.