O ciclone-bomba continua a causar uma forte tempestade de inverno nos Estados Unidos, com nevascas, chuvas, inundações e muito frio. O país já soma 49 mortos desde quinta-feira (22), de acordo com a AFP e a CNN. Segundo autoridades locais citadas pela rede NBC, o número chega a 57. A nevasca e os ventos polares atingem de forma mais severa a cidade de Buffalo, no Estado de Nova York, onde morreram 28 das vítimas.
Na cidade, cortes de energia duraram horas e corpos foram encontrados dentro de veículos e sob pilhas de neve, enquanto equipes de emergência continuam procurando pessoas que precisem de resgate. Buffalo acumula 2,4 metros de neve e a falta de eletricidade ameaça as condições de sobrevivência. Aquantidade de neve dificulta a ação dos serviços de emergência.
A governadora do estado de Nova York, Kathy Hochul, reforçou os pedidos para que as pessoas permaneçam em casa e alertou que a tempestade, chamada por ela de “nevasca do século”, está longe de acabar. “É como ir para uma zona de guerra”, afirmou Hochul, nascida em Buffalo, acrescentando que a situação continua perigosa e que há risco de novas mortes em decorrência do frio extremo. “Estamos diante de um evento que será comentado durante várias gerações”, acrescentou.
O presidente americano, Joe Biden, escreveu no Twitter que falou com a governadora de Nova York por telefone. “Meu coração está com aqueles que perderam entes queridos neste fim de semana de feriado. Vocês estão em minhas orações e nas de Jill (a primeira-dama)”, afirmou. Biden decretou emergência no Estado de Nova York e ordenou assistência federal para suplementar os esforços de resposta estadual e local. A decisão foi divulgada em comunicado, publicado no fim da noite de segunda-feira (26).
Kathy Hochul agradeceu Biden pela declaração de emergência, feita a pedido dela. Ela também cumprimentou os funcionários do estado pelo esforço. A governadora advertiu que havia mais neve prevista para esta terça-feira (27), reforçando que equipes estaduais, a Guarda Nacional e soldados estão de prontidão para ajudar as pessoas que necessitem.
**Aeroporto fechado**
O aeroporto internacional de Buffalo, onde quase 1,30 metro de neve se acumulou, permanecerá fechado até pelo menos esta terça-feira (27), e uma proibição para dirigir permanece em vigor em todo o condado de Erie, onde a cidade está localizada. “A menos que sejam socorristas, não dirijam”, disse Mark Poloncarz, da administração regional de Erie. De acordo com ele, há relatos de pessoas que sofreram paradas cardíacas devido ao esforço físico sob temperatura ainda muito baixa ao tentar limpar a neve acumulada em frente às suas casas.
Segundo Poloncarz, o número de óbitos no condado deve superar o de uma tempestade de 1977, também em Buffalo, quando 28 pessoas morreram. Hochul, que tinha 18 anos na época, disse que ninguém pensou que um fenômeno semelhante àquele seria visto novamente.
No condado de Niágara, um homem de 27 anos morreu intoxicado depois de a neve bloquear a exaustão do sistema de aquecimento de sua casa, prendendo o monóxido de carbono no imóvel. Equipes de emergência têm tido dificuldade para se locomover na neve, e muitos caminhões, ambulâncias e outros veículos de emergência também precisaram ser resgatados depois de ficarem presos, disseram autoridades locais.
Centenas de soldados da Guarda Nacional ajudaram socorristas locais e a polícia estadual a resgatar pessoas presas em casas e carros e a entregar alimentos e suprimentos básicos. O jornal _The New York Times_ reportou que moradores precisaram caminhar por quase 50 minutos para encontrar mercados que abriram as portas depois de dias fechados
**Natal de caos**
O frio extremo frustrou os planos de milhares de famílias para o Natal. Mais de 200 mil pessoas em vários estados despertaram sem energia elétrica na manhã de domingo (25). Outras tiveram de cancelar viagens, embora a intensidade da tempestade tenha mostrado sinais de alívio.
A tempestade provocou o cancelamento de quase 3 mil voos no domingo (25), além de cerca de 3,5 mil no sábado (24) e quase 6 mil na sexta (23), segundo o site especializado FlightAware. Nesta segunda (26), cerca de mil foram cancelados. Os aeroportos mais afetados foram os de Atlanta, Chicago, Denver, Detroit e Nova York.
O gelo nas estradas também levou ao fechamento temporário de algumas das vias mais movimentadas do país, incluindo a Interestadual 70, que atravessa boa parte dos EUA de leste a oeste. De acordo com boletim do Serviço Meteorológico Nacional (NWS, na sigla em inglês), grande parte do leste dos EUA permaneceria “congelada nesta segunda (26), antes que se estabeleça uma tendência de moderação a partir de terça-feira (27)”.
O clima extremo afetou severamente as redes elétricas, com vários fornecedores de energia pedindo à população que reduza o uso de eletricidade para minimizar os apagões em lugares como a Carolina do Norte e o Tennessee. No sábado (24), quase 1,7 milhão de casas em todo país ficaram sem energia, de acordo com a Poweroutage.us. Esse número caiu substancialmente na noite de domingo (25), embora mais de 50 mil usuários nos estados do leste americano ainda estivessem sem energia nesta segunda.
**Transtornos também no Canadá**
O Canadá também foi afetado pela tempestade, e todas as províncias dispararam alertas meteorológicos. Acredita-se que um acidente de ônibus na Colúmbia Britânica no fim de semana, com quatro mortos e 53 feridos, tenha sido causado pelo gelo nas estradas. Centenas de milhares de pessoas ficaram sem energia em Ontário e em Québec, e os aeroportos de Vancouver, Toronto e Montreal tiveram voos cancelados.
Segundo o Serviço Nacional de Meteorologia, as condições para as tempestades de inverno e para o ciclone-bomba que derrubaram as temperaturas da costa leste, em Nova York, à fronteira com o México, no Texas, a leste, foram criadas na região dos Grandes Lagos, próximo ao Canadá. Lá, o ar gelado do Ártico se encontra com massas quentes do leste. Neste ano, porém, o fenômeno ganhou intensidade acima da média – algo que, segundo analistas, se deve também à crise climática. **(Com agências internacionais)**.