Nessa terça-feira (8), a Chanel apresentou sua última coleção antes da estreia do diretor criativo Matthieu Blazy, programada para outubro. O outono-inverno 2025/2026 de Alta-Costura da maison foi desfilado na Semana de Moda de Paris.
A marca transformou uma das galerias superiores do Grand Palais (recém-reformado), em réplica dos lendários salões da Rue Cambon, com sofás bege e espelhos que remetem à escadaria Art Déco onde Gabrielle Chanel assistia, discretamente, aos desfiles.
Em clima íntimo e elegante, com cortinas do chão ao teto e carpetes espessos evocando o silêncio dos fittings privados, o cenário contrastava com as propostas da coleção: uma Chanel ao ar livre, com casacos robustos, botas de cano alto e uma cartela de tons naturais como marrom, verde-musgo, marfim e preto.
Entre tradição e novos começos
Esta é a última coleção desenvolvida pela equipe de design da marca, que há décadas trabalhou com grandes nomes como Karl Lagerfeld e Virginie Viard, antes de Matthieu Blazy oficialmente assumir o posto, em outubro. Mas a transição criativa já dá sinais sutis: “Esses são os primeiros indícios da influência de Matthieu”, afirmou Bruno Pavlovsky, presidente da Chanel. “Ele começou a contribuir e essa transição gradual está funcionando muito bem.”
No ano em que celebra os 110 anos de sua divisão sob medida, a grife também presenteou os convidados com uma edição antecipada do livro Chanel Haute Couture, editado por Sofia Coppola. Nas peças, o passado de Coco Chanel foi homenageado em múltiplos níveis: dos fios dourados aos símbolos recorrentes, como as espigas de trigo, vistas em bordados e botões-jóia. O trigo, vale lembrar, era símbolo de abundância para a fundadora.
Havia referências à Escócia (onde Coco descobriu o tweed) em conjuntos com saias sereia, casacos com bolsos militares e coletes longos de lã dourada. A textura foi o grande destaque: casacos com ombros de penas, franjas desfiadas, lã bouclé e plumas misturadas ao chiffon evocavam força e delicadeza. Alguns volumes extremos, no entanto, beiravam o excesso, como em tailleurs com bordados densos em trama de passementerie.
Trompe-l’oeil e efeitos óticos também apareceram com frequência, como nas gotas de lantejoulas que imitavam chuva em um casaco laqueado, ou na gola de renda esvoaçante de um vestido preto com textura de neve recém-caída. Entre os looks mais marcantes, chamou atenção um terno de lã verde-oliva em padronagem camuflada, que unia rusticidade e brilho com seus botões pretos cintilantes.
Entre passado e presente, a Chanel reafirma seu legado e prepara terreno para uma nova fase — com raízes profundas, mas olhos atentos ao que está por vir.