Os CEOs de montadoras de automóveis no Brasil debateram a transição energética. As opiniões unânimes foram de que é preciso investir em mais de uma alternativa aos motores à combustão. Além disso, os presidentes das companhias falaram sobre as necessidades de investimento em infraestrutura e apoio estatal.
Em um evento no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, as montadoras expuseram carros elétricos e híbridos. O seminário Conduzindo o Futuro da Eletrificação no Brasil foi promovido pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Márcio Lima Leite, presidente da Anfavea, falou ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB), que a expectativa da indústria era de que se alcançasse novamente o maior patamar da história. “Queremos voltar a produzir 3,8 milhões de veículos em um ano”, disse.
Em resposta, o vice-presidente disse que o ambiente nos próximos anos seria favorável para que essa marca fosse batida. “O câmbio está competitivo, bom para exportações. A Reforma Tributária vai tirar a cumulatividade de impostos, simplificar e atrair investimentos”, avaliou. Alckmin voltou a engrossar o coro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela queda da Selic.
“O juro real está subindo, mesmo que a Selic esteja há um tempo na faixa dos 13%, porque, à medida que a inflação cai e a taxa se mantém, estamos aumentando os juros reais”, disse. Por fim, o vice-presidente revelou que o BNDES vai disponibilizar linhas de crédito de R$ 5 bilhões ao ano para pesquisa, inovação e digitalização das empresas.
Antes da fala de Alckimin, foram apresentados indícios de que haverá apoio por parte do BNDES a veículos elétricos e híbridos. O gerente de Inovação, Indústria 4.0 e Manufatura da Área Industrial do banco, Bruno Plattek, revelou os planos de financiar a indústria de forma mais ativa. “Estamos em fase de organização”, conta. Mas a previsão é apostar em alternativas como eletrificação de ônibus de transporte urbano e ampliar a oferta de postos de carregamento de veículos no âmbito das concessões de rodovias.
Expectativas
O presidente da Toyota no Brasil, Rafael Chang, afirmou que a montadora trabalha em paralelo com alternativas para os veículos à combustão. Chang elencou os híbridos flex, híbridos plugin e a possibilidade de produzir hidrogênio a partir do etanol. A melhora para o consumidor, de acordo com o executivo, tem que ser o objetivo. “A tecnologia é só um meio”, afirmou.
Para Márcio Querichelli, presidente da Iveco na América Latina, o continente é estratégico para o desenvolvimento de novas tecnologias. O dirigente elencou gargalos que o Brasil precisa superar. “Alguns estados brasileiros têm ICMS de veículo elétrico superior a gasolina e diesel. A eletrificação não é uma batalha que se vence sozinho. Precisamos trabalhar em conjunto, respeitando a estratégia de cada um”, disse.
O presidente da Mercedes-Benz Caminhões no Brasil, Archim Puchert, cobrou que seja melhorado o ambiente para o desenvolvimento tecnológico no Brasil. “O que nós compartilhamos em comum é querer melhores cidades, um melhor futuro. Nossa responsabilidade social é contribuir para a diminuição da emissão de carbono. Nós estamos trabalhando em veículos na Europa, Japão e Estados Unidos e começamos só agora a trazer elétricos para o Brasil”, contou.
Para que os veículos eletrificados avancem em solo brasileiro, são necessários investimentos em ensino e infraestrutura, segundo Puchert.
Já para Christopher Podgorski, presidente da Scania no Brasil, o maior motivo para a busca de alternativas aos combustíveis fósseis é a “potencial catástrofe climática”. Mesmo assim, serão necessárias alternativas, não apenas limitadas aos carros elétricos. “Nós investimos 2 bilhões de euros nos motores à combustão mais eficientes, apesar de muitos analisas não entenderem. A diferença é que esses propulsores já estão preparados para o uso de todos os combustíveis renováveis”.
A expectativa de Ricardo Gondo, presidente da Renault Brasil, é que a transição energética do Brasil seja mais demorada em relação à Europa, onde houve maior incentivo e exigência à indústria. A multinacional trabalha com duas divisões. A Horse está desenvolvendo veículos híbridos, o que inclui o Megane E-tech, a ser lançado no Brasil no segundo semestre. Outro setor da empresa tratará exclusivamente de modelos elétricos. “Em 204, metade dos motores no mundo inteiro ainda será térmico, por conta dos híbridos que permanecerão na frota”, projetou.
O presidente da General Motors na América do Sul, Santiago Chamorro, revelou dados que mostram a visão dos brasileiros em relação aos eletrificados. “É um mito que os consumidores não estão interessados em modelos elétricos. Os donos de elétricos estão extremamente satisfeitos com suas compras e 0% quer voltar a carros à combustão”, analisou.