Cármen Lúcia promete pesquisa sobre motivos de abstenção

Segundo a ministra, o TSE irá investigar os motivos das abstenções junto com os Tribunais Regionais Eleitorais | Foto: Alejandro Zambrana/ TSE

A Justiça Eleitoral fará uma pesquisa para descobrir as causas das abstenções e tentar reduzir o não comparecimento nas próximas eleições, em 2026, disse nesta noite a presidenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia. As ausências subiram de 21,68% no primeiro turno para 29,26% no segundo.

“Há um aumento de abstenção no segundo turno. Tivemos casos climáticos, outros problemas. Vamos verificar e ver o que podemos aperfeiçoar. Vamos ter que apurar em cada local e trabalhar com os dados”, afirmou Cármen Lúcia em entrevista coletiva para fazer o balanço do segundo turno das eleições municipais deste ano.

Segundo a ministra, o TSE fará uma pesquisa com os Tribunais Regionais Eleitorais para identificar os principais entraves ao comparecimento de eleitores em cada localidade. Ela prometeu apresentar um relatório antes da diplomação dos candidatos eleitos, em dezembro.

Tradicionalmente, a abstenção aumenta entre o primeiro e o segundo turno, principalmente por causa de eleitores descontentes com os dois candidatos. As eleições de 2024 registraram o segundo maior volume de ausências da história, só perdendo para 2020, no auge da pandemia de covid-19, quando 23,2% deixaram de votar no primeiro turno e 29,5% no segundo turno.

A ministra advertiu que o TSE precisará tratar localmente as variáveis que influenciam a abstenção. “Houve município em que teve 16% de abstenção e houve município com 30%”, justificou.

No Amazonas, afetado pela baixa dos rios que impacta o transporte, a abstenção, informou Cármen Lúcia, ficou menor que a média nacional. Única cidade a ter segundo turno no estado, a capital Manaus registrou 23,61% de abstenções no segundo turno, contra 19,94% no primeiro turno deste ano e 22,23% no segundo turno de 2020.

“No Amazonas, onde tínhamos uma preocupação em relação à estiagem, tivemos o menor índice de abstenção do que a gente tinha apurado [na média nacional]. Ali funcionou esse recado dado [pela Justiça Eleitoral] talvez porque a nossa preocupação fosse maior”, declarou.

Segundo Cármen Lúcia, o temporal que caiu nesta manhã em Porto Velho aumentou a abstenção, principalmente de eleitores idosos não obrigados a votar. A capital rondoniense registrou 30,63% de abstenções, contra 19,37% no primeiro turno deste ano. O número, no entanto, caiu em relação ao segundo turno de 2020, quando as ausências chegaram a 34,18%.

 

Estatísticas

O TSE forneceu mais estatísticas das eleições deste ano. O primeiro local com resultado definido foi Belém, com a proclamação do candidato matematicamente eleito às 17h30.

Em relação às urnas substituídas, houve 171 nos dois turnos, de um total de 97.392. O percentual chega a 0,12% no segundo turno e 0,63% no primeiro turno. Tocantins não teve nenhuma urna substituída, e nenhuma seção teve votação manual nos dois turnos.

Em relação às justificativas pelo aplicativo e-Título, o segundo turno registrou 740.388 justificativas por georreferenciamento (eleitores fora do município de votação) e 83.363 justificativas de eleitores no exterior.

A ministra afirmou que a democracia é o espaço no qual todos podem e devem conviver com civilidade. Ela ressaltou que o TSE continuará a trabalhar para garantir a tranquilidade e a lisura do processo eleitoral. “Amanhã recomeçamos os trabalhos até porque os trabalhos são incessantes e as eleições sigam sendo serenas”, disse.,

 

Recorde em São Paulo

Ricardo Nunes foi reeleito prefeito de São Paulo neste domingo (27) em votação que teve abstenção recorde. A capital paulista registrou neste ano o maior índice de ausência em um segundo turno desde a redemocratização: mais de 2,94 milhões de eleitores (31,54%) não foram às urnas.

O número supera a votação de Guilherme Boulos (PSOL), que recebeu pouco mais de 2,3 milhões de votos. Nulos e brancos somaram mais de 665 mil (10,42%), abaixo dos 879 mil registrados em 2020, o que significa que quase 42% dos eleitores não votaram em nenhum dos dois candidatos no segundo turno desta eleição.

Em 2020, na última disputa municipal em que houve segundo turno, entre Bruno Covas (PSDB) e Boulos, a abstenção registrada já havia batido um recorde, chegando a 30,81% – ou seja, 2,77 milhões de eleitores.

Na eleição de 2016, João Dória (PSDB) derrotou Fernando Haddad (PT) no primeiro turno com uma abstenção de 21,8%. No segundo turno da eleição de 2012, quando Haddad venceu José Serra (PSDB), o índice havia sido de 19,99%.

Em 2008, Gilberto Kassab (PSD) venceu Marta Suplicy (PT) com um índice de abstenção de 17,54%. E, em 2004, quando Marta foi derrotada por Serra, a ausência ficou em 17,55%. Para alguns analistas, o aumento da abstenção ao longo dos anos poderia indicar uma tendência de insatisfação com a democracia representativa. A menor abstenção desde a redemocratização foi registrada em 1988 (6,98%), na disputa em que Luiza Erundina (PT) ganhou de Paulo Maluf (PDS).

 

*Com informações do Estadão Conteúdo

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