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Caio Dutra: Resiliente e persistente, Brasília segue fazendo seu Carnaval

Ao longo de sua vida, o Setor Carnavalesco Sul possibilitou a existência de vários blocos que poderiam ter desaparecido

Em 2025, a comunidade carnavalesca do DF está, mais uma vez, sofrendo para fazer Carnaval. A beleza do brilho das purpurinas e o ânimo da música que alegra e movimenta, por ora, dão lugar à indefinição e ao reflexo de um cobertor curto demais! Mas não é só falta de dinheiro, é que o que tem é mal usado. A mim, que estou de fora, deixando de fazer a festa popular mais maravilhosa do planeta, depois de oito anos carnavalizando a cidade, vejo com tristeza o cenário se repetir. 

Em 2025, assim como em 2024, 2023, 2020… a véspera passou a ser um dos momentos mais importantes do Carnaval. É quando o bloco se afina, sai para a rua, tira as ‘teias’, ocupa as quadras, mas também é um momento de angústia, de perceber que, ano a ano, o carnaval é descaso e falta de compromisso. E não digo que é só do poder público, esse leva 90% de uma ansiedade acumulada, mas é, também, da própria comunidade carnavalesca. 

Sabemos que o governo poderia não deixar para a última hora. A menos de um mês do Carnaval, o edital de fomento foi publicado, despublicado, republicado… Nas últimas semanas, dezenas de produtores culturais do Distrito Federal passaram boa parte do tempo escrevendo e reescrevendo recursos para tentar que seu ‘bloco não fique de fora’. Mas é fato, muitos vão ficar. O cobertor é curto demais e mal distribuído.

Foto: Cortesia/Nina Quintana

Esse atraso compromete a estruturação de blocos, a contratação de serviços e, consequentemente, o retorno econômico que a festa gera para diversos profissionais da cultura. O poder público segue um padrão de funcionamento letárgico, com a máquina administrativa operando no limite de poucos servidores que, entre muitas funções, precisam também ler e reler recursos, pontuar, divulgar e, infelizmente, dizer alguns “nãos”. O modus operandi de não ter servidores suficientes torna o serviço lento demais para o tempo dos blocos, não conseguimos a resolutividade que precisamos. Todo ano, quando acaba a festa, uma nova promessa é feita, “Vamos trabalhar o ano inteiro pelo carnaval” – eles dizem. Conhecemos essa história de cor!

E, mais uma vez, sem organização, a véspera é beleza e calvário. Se a intenção de melhorar fosse de verdade, não seria preciso correr em janeiro. Se fosse uma política de cultura, não seria preciso deixar tantos para fora. Um pedido antigo, e que muitos acreditam que poderia agilizar os processos, é a formalização de uma associação que representasse o coletivo de blocos de maneira efetiva, mas nem mesmo uma instância de discussão recorrente que fortaleça a interlocução com o governo e com a iniciativa privada nós temos. Em outros estados, esse modelo funciona como uma espécie de intermediário para garantir financiamento e planejamento a longo prazo. Aqui, cada grupo luta isoladamente por seu espaço, sem uma estratégia coesa.

Mas não é apenas a ausência do Carnaval como política de cultura que prejudica a construção da festividade. Intermináveis disputas internas por recursos e legitimidade, por parte dos próprios agentes culturais e dos blocos de rua, enfraquecem o caminhar coletivo. O que deveria ser um movimento de unidade e cooperação se fragmenta em vaidades e disputas de espaço. Blocos tradicionais, coletivos emergentes e lideranças carnavalescas disputam protagonismo ao invés de reconhecer a pluralidade da festa e trabalhar a sua consolidação juntos. Vivenciar o Carnaval dentro de um ambiente de confronto, ofensas e acusações é ruim para todo mundo! Ainda assim, eu amo fazer Carnaval!

Amo, mas este ano não vou fazer. Resolvi direcionar minha energia para vivenciar outras experiências, carnavalescas, é claro.. mas não estarei por aqui.

Foto: Cortesia/Nina Quintana

Mas calma, o Setor Carnavalesco Sul está garantido! O Instituto Cultural e Social No Setor vai fazer uma das festas mais lindas que tivemos, rasgando sua essência e reconectando os prazeres do Carnaval. A opção do GDF por lançar um edital para plataformas foi fundamental. Muitos dos blocos não contemplados no edital de Carnaval, vão conseguir sair usando, pelo menos, a estrutura prontinha para receber bandas e foliões. Eles não vão se preocupar com palco, banheiros, som, iluminação ou equipe de produção, porque a plataforma garante todas essas facilidades. E ela nasceu para isso, para receber, somar, construir, levar adiante a festa que amamos.

Ao longo de sua vida, o Setor Carnavalesco Sul, possibilitou a existência de vários blocos que, sem essa organização, poderiam ter desaparecido. O Setor Carnavalesco cresceu e mostrou que, quando existe união e planejamento, o Carnaval de Brasília tem tudo para ser gigante. 

Meu mais profundo desejo é que o carnaval, em seus rostos, suas fantasias, sua turma de backstage, de quem toca e de quem dança seja lindo. E sempre o é. Mas não se engane, depois que a potência festiva acaba, não esquecemos das porradas, não esquecemos das adversidades, não esquecemos de quem samba do lado e de quem difama. Tudo deixa o carnaval mais forte! E assim, resilientes e persistentes, seguimos fazendo a festa mais bonita do planeta.

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