Café com cor: aulas de aquarela transformam cafeterias de Brasília em refúgios criativos

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Em meio ao aroma de café fresco, pincéis deslizam sobre o papel, formando paisagens, flores delicadas e, acima de tudo, instantes de pausa. Cafeterias espalhadas pela capital federal estão se reinventando ao aliar gastronomia, arte e bem-estar, com oficinas de aquarela e outras expressões artísticas conquistando o coração dos clientes.

A iniciativa no Vert Café surgiu de uma afinidade natural entre arte e ambiente. Lígia Braga, proprietária da casa, conta que sempre gostou muito de aquarela e outras formas de arte. “Acho que elas têm super a ver com o café“. A conexão com a professora Mirian Lindgren foi o ponto de partida para as oficinas, hoje fixas nas duas unidades da cafeteria. As aulas são realizadas sempre nas manhãs de terça no Vert Águas Claras, e todas as quartas no Vert Asa Sul.

O perfil do público é predominantemente feminino, curioso e aberto a novas experiências. “Normalmente, são mulheres que não possuíam experiência prévia com pintura e estão em busca de uma nova habilidade ou mesmo de só dar uma pausa no seu dia”, explica Lígia e, para ela, o retorno tem sido imediato e positivo: “Acredito que pintar em um local tão bonito convivendo com outras pessoas com o mesmo interesse ao mesmo tempo que se toma um café é tudo o que a gente precisa para “desestressar a rotina“.

Um dos momentos mais marcantes, segundo ela, foi quando uma estrangeira buscou a aula para conhecer novas pessoas, já que era nova em Brasília. “Acredito que ela saiu com verdadeiras novas amizades. Foi bem gratificante de ver que pudemos contribuir para que ela tivesse uma vida mais leve e com novas conexões interpessoais“, comenta a empresária. 

No Castália, o encontro entre café e arte já era antigo. Desde sua fundação, o espaço conta com exposições e obras de artistas locais. Atualmente, o café tem duas galerias: a Galeria Castália Norte e a Galeria Castália Pontão. Mas foi no fim de 2024 que a curadora Joaninha Guimarães elevou a proposta a outro nível. “A recepção foi tão calorosa que, em janeiro, decidimos expandir para aulas de pintura, mais especificamente, aquarela“, conta. 

A proposta virou um verdadeiro abraço criativo. “As aulas aprofundaram o vínculo entre a Castália e o público. Criaram uma atmosfera de encantamento, pertencimento e descoberta”, ressalta Joaninha. 

A aquarela é uma técnica de pintura onde os pigmentos são dissolvidos ou suspensos em água e aplicados em um suporte, geralmente papel. 

Ester Diamantino diz que as aulas em cafeterias tornam a arte mais acessível e até menos intimidante, fazendo com que as pessoas se aproximem da experiência artística em ambientes aconchegantes. 

“Brasília tem acolhido muito bem essa proposta, e os cafés se tornam espaços de encontro, criatividade e cuidado. É uma forma de reconectar arte, cotidiano e o prazer de criar algo novo pela primeira vez”, analisa. 

Com o projeto CastaliArt & Wine, uma vez por mês, arte, vinho e petiscos se misturam em experiências sensoriais completas. As propostas são variadas, com pintura, bordado, crochê e tricô. “Elas [as alunas] saem leves, inspiradas, algumas até emocionadas. É comum ouvirmos que foi terapia para a alma“, diz. 

Joaninha define bem o espírito do espaço: “Um lugar de pausa, de beleza, de reencontro consigo mesmas — através da arte, da conversa ou de um simples café com amor“.

A experiência é parecida no aconchegante Cardabelle, onde a aquarela surgiu de forma estratégica — mas se tornou um fenômeno. Juliana Santos, publicitária responsável pelo marketing, diz que percebeu que o ato de ir à cafeteria era muito mais do que comida, mas um momento de autocuidado, por isso veio a ideia das aulas. 

A primeira ação, a oficina de pintura na taça, segundo ela, viralizou. “Tivemos quatro turmas esgotadas em 1h, um projeto lindo em parceria também com a Aquarelas Botânicas“, conta. Desde então, a Cardabelle oferece até quatro oficinas por mês, incluindo aquarela, pintura em porcelana, tela e nas icônicas taças. Todas conduzidas pela artista plástica Margarete Lima.

Além de atrair novos frequentadores para a cafeteria, a iniciativa superou as barreiras do marketing, e as aulas geraram pertencimento. “Isso cria uma memória afetiva em relação à nossa marca, o que fideliza e faz o cliente querer voltar. Um dos momentos mais especiais foi presenciar três gerações, avó, mãe e netos, pintando lado a lado. Foi lindo de ver”, conta Juliana. 

E a professora de aquarela, Ester Diamantino ressalta que não existe hora certa para começar. “Já dei aulas para crianças e para pessoas com mais de setenta anos. A aquarela é gentil com todos, pois respeita o tempo de cada um. E nunca é tarde para despertar ou reencontrar a criatividade“, explica. 

Demanda

A crescente demanda por oficinas de arte nas cafeterias da cidade mostra algo maior do que uma tendência: um desejo coletivo de conexão. Seja para explorar talentos escondidos ou respirar entre um compromisso e outro, os pincéis têm feito mais do que colorir papéis e têm desenhado um novo papel para as casas da cidade: o de espaços de pausa, arte e afeto.

“Ver esse despertar artístico acontecer diante dos nossos olhos é algo profundamente emocionante — é quando sentimos que estamos cumprindo nossa missão“, diz Joaninha. 

E para isso, a Castália está ampliando o calendário de aulas, com novas linguagens artísticas e experiências sensoriais. Bordado, crochê, tricô e outros estilos de arte, estão no radar do café para que haja sempre uma programação cultural diversificada. Já no Vert, o próximo passo é oferecer pintura em porcelana, que está sendo estruturada. 

A Cardabelle confirmou que tem outros projetos em andamento, inclusive uma iniciativa inédita em Brasília, como espaço gastronômico que promove uma corrida de rua para o café: “Os corredores participam e depois têm direito a um brunch francês à vontade na nossa cafeteria“, explica Juliana. A segunda edição será neste domingo (6).

Como se inscrever?

Vert

As aulas ocorrem sempre às 9h30, todas as terças-feiras no Vert Águas Claras, e às quartas no Vert Asa Sul. As inscrições são feitas diretamente com a professora, pelo WhatsApp. Valor: R$150 a aula, com material incluso.

Castália

As turmas pequenas e o espaço oferece horários diversos: terças-feiras (unidade Pontão) e quintas-feiras (unidade Asa Norte), das 10h às 12h e das 16h às 18h. As aulas são conduzidas por Marcelo Albuquerque. Valor: R$ 160, com material incluso e sem consumação.

Cardabelle

As turmas, que mesclam as técnicas, não possuem datas fixas e são divulgadas previamente pelas redes sociais da empresa. São abertas de duas a quatro turmas por mês, sendo 15 vagas, com lista de espera. A inscrição é feita via direct no Instagram e costumam esgotar rapidamente. Valor: R$ 110 por oficina – sujeito à alteração a qualquer momento – com brunch incluso.