A Polícia Federal indiciou o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, por estelionato e fraude em competição esportiva. A decisão veio após a análise de conversas encontradas no celular do irmão do jogador, Wander Nunes Pinto Júnior, que revelam o possível envolvimento de Bruno Henrique em um esquema de manipulação de apostas, com foco na partida entre Flamengo e Santos pelo Campeonato Brasileiro de 2023.
“Contra o Santos”
Uma troca de mensagens entre Bruno Henrique e Wander, em 29 de agosto de 2023, chamou a atenção dos investigadores. O irmão do jogador pergunta:
— “Tio, você tá com 2 cartão no Brasileiro?”
— “Sim”, responde Bruno Henrique.
Wander emenda:
— “Quando o pessoal mandar tomar o 3, liga nós hein kkkk”
O atacante completa:
— “Contra o Santos”
Diante disso, Wander brinca:
— “Será que você vai aguentar ficar até lá sem cartão? kkkkkk”
Bruno Henrique responde com ironia:
— “Não vou reclamar. Só se eu entrar forte em alguém.”
Wander encerra:
— “Boua, já vou guardar o dinheiro, investimento com sucesso.”
Para a PF, os diálogos indicam que o jogador repassava informações privilegiadas sobre sua atuação em campo, possibilitando apostas direcionadas ao recebimento de cartões.
Apostas em família
Três parentes de Bruno Henrique foram identificados como beneficiados com apostas no mesmo jogo contra o Santos:
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Wander Nunes Pinto Júnior (irmão): apostou R$ 380,86 e lucrou R$ 1.180,67
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Ludymilla Araújo Lima (cunhada): apostou em duas plataformas e obteve lucros de R$ 1.180,67 e R$ 1.425
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Poliana Ester Nunes Cardoso (prima): mesmo valor e retorno do irmão
Além deles, a PF identificou mais sete pessoas envolvidas com apostas suspeitas.
“Tem que ter 10k todo final de semana”
Em nova troca de mensagens, no dia 7 de outubro, Bruno Henrique pergunta ao irmão:
— “Vc consegue fazer Pix no valor alto da sua conta?”
— “Consigo BH. Qual valor?”
— “10 conto.”
— “Consigo.”
Ao perceber o interesse do irmão no esquema, Bruno Henrique recua:
— “Você não pode ser. Temos nomes igual. Vai dar ruim.”
Wander insiste:
— “Uai, dá essa ideia aí que vou apostar. Tô precisando de dinheiro kkkkkk”
O jogador então alerta:
— “Esse aqui pesado. Não dá pra você não.”
E acrescenta:
— “Tem que ter 10k todo final de semana.”
Segundo a PF, o jogador tentava manter o irmão fora da operação por receio do envolvimento direto de um parente com o mesmo sobrenome.
Sinais de fraude
Em outras mensagens, Wander pergunta se o jogador poderia receber um cartão amarelo em determinada partida. A resposta:
— “Dá não. Tenho 1 já.”
Bruno Henrique, de fato, levou o segundo cartão naquela partida contra o Corinthians.
Outro trecho intrigante ocorre quando o jogador responde com a palavra “Lajinha” e o número “10”, o que para a PF indica o nome de uma terceira pessoa envolvida no repasse de informações ou dinheiro.
Em seguida, Wander celebra:
— “Boa kkkkkk. Só comemorar agora. Tá apostando vitória ou cartão?”
— “Não é nada disso não. Parada de cavalo.”, diz BH.
Esse trecho levanta suspeitas sobre possíveis apostas em corridas de cavalo.
Investigação e indiciamento
A apuração começou após a International Betting Integrity Association (IBIA) alertar a CBF sobre apostas atípicas na partida entre Flamengo e Santos, realizada em 1º de novembro de 2023. A entidade detectou movimentações suspeitas, muitas originadas de Belo Horizonte, cidade natal de Bruno Henrique.
A CBF repassou os dados à Polícia Federal, que identificou comportamento anormal do jogador: ele recebeu cartão amarelo por falta e, posteriormente, foi expulso por ofender o árbitro — atitude considerada fora do padrão e que reforçou as suspeitas de manipulação.
Bruno Henrique e outras 10 pessoas foram indiciadas. A assessoria do jogador foi procurada, mas informou que ele não irá se manifestar neste momento.