“Seja breve, não amole, / senão acabo perdendo o controle / e vou cobrar o tempo que você me deve!”. O samba de Noel Rosa já alertava, com humor e ironia, para o valor da brevidade. Se ela era importante em 1933, o que dizer de agora, quase um século depois? Em plena era das multitelas, das notícias e finanças instantâneas, da cultura global. E com a inteligência artificial acelerando no calcanhar das habilidades humanas.
O conselho sábio do Poeta da Vila foi ouvido atentamente por João Palmo que lança, a partir dessa semana, o seu livro Brevê, uma compilação de poemas breves. Mas a publicação será feita, ela também, em pílulas curtinhas. Ou melhor: página por página, poema a poema, em vídeos semanais, ao longo de um ano, aqui na GPS Lifetime.
Para seduzir esse público mais amplo da GPS, a Caravela Filmes se esmerou na produção. “Seria fácil resolver em estúdio, mas nós quisemos colocar o poeta interagindo com a cidade.” – diz o diretor Léo Côrtes. “Mostrá-lo sempre em movimento, com os poemas mentalizados e, enquanto caminha e declama, a paisagem urbana vai sugerindo outras camadas poéticas.”. As locações mesclarão pontos clássicos e surpreendentes do DF. A abertura musical, um rearranjo eletrônico do samba clássico de Noel citado no início da matéria, foi um auxílio luxuoso de Eduardo Raggi ao projeto.
Rafael Badra, gestor da GPS, lembra que os melhores jornais e revistas sempre tiveram relação estreita com a literatura, abrigando colunas, seções ou cadernos inteiros dedicados à crônica, à poesia, à crítica literária. E até mesmo a novelas publicadas em capítulos ou fascículos. “A GPS é um portal de notícias, mas nosso DNA é de revista, ainda que de ‘revista eletrônica’ ou digital. A publicação do Brevê, com um vídeo por semana, é uma experiência de retomada dessa relação revista/literatura, mas num formato pensado e produzido para o ambiente digital.”.
Na rede social o poeta (@joaopalmo) posta outro tipo de videopoemas, mais artesanais: ele mesmo se filma, edita e sonoriza. “Como o meu canal é só pra isso, ali eu faço poemas mais longos e densos, celular fechado no rosto. Foco total na palavra, pra quem encontra tempo pra mergulhar mais fundo. Já a proposta do Brevê é falar com todo mundo”.
A palavra brevê remete a brevidade, mas é também o nome da licença de voo, aquilo que permite que um sujeito pilote um avião e decole. Que assim seja com a poesia, sempre. E que daqui a um ano a gente possa ver alçar voo, também, a versão impressa do livro, com um QR code para cada página (ou videopoema). Fica a dica.