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Brasiliense Poli Pieratti une teatro, pintura e transdisciplinaridade em sua jornada artística

Multiartista divide relatos da realização de um sonho de infância em entrevista ao GPS|Brasília

Como se começa a voar? Quais os primeiros passos? Às vezes, são muitas voltas antes de se arriscar. É preciso um empurrão para perder o medo de cair. Foi assim com a multiartista Poli Pieratti, 37 anos. Antes de se tornar a artista plástica que está com segunda exposição individual, na Galeria Cavalo, no Rio de Janeiro, a brasiliense abriu diversas portas das artes. Iniciou no teatro, como atriz mirim. Também criança, revelou para a sua mãe um sonho de ser pintora, que ficou adormecido até criar maturidade para revelá-lo ao mundo.

Poli parecia seguir o caminho que a levaria a ser atriz. “O teatro foi minha grande escola”, diz à GPS|Brasília. Não só pelos trabalhos, mas também pelos estudos. Por cerca de dez anos, dedicou-se ao teatro profissional, mas em um fim de ano, um presente intuitivo de sua mãe a reconectou com as artes visuais. “Chegou perto de um Natal, por uma perspicácia muito maluca, minha mãe me mandou uma carta que dizia: ‘filha, quando você tinha cinco anos, eu te perguntei o que você queria ser quando crescer e você me disse, pintadora de quadros. Este é um momento de renascimento. Estou te dando esse presente para ver se você se conecta com isso’”, relembra.

Foto: Pat Kilgore

Foto: Pat Kilgore

Esse reencontro foi um processo gradual. “Mas passou um ano e eu ainda não havia produzido nada. Foi quando procurei o Renato Rios, um amigo pintor”. Com suas orientações, Poli voou. Aos poucos, ela foi entendendo seu estilo. O primeiro conselho foi optar por pintar em óleo monocromático, para entender melhor sobre luz. E já nesse momento, ela foi “um pouco desobediente e colocou um ponto de vermelho”. “Deixei um fundo quente, no preto, e é curioso porque hoje não uso preto de forma alguma. Chego à escuridão por meio de misturas de ar cromático ou do uso de azul-marinho fechado, mas preto nunca. É uma cor que não entra na minha paleta”.

Foto: Pat Kilgore

As obras de Poli passam por tons pastéis e terrosos, com a delicadeza e profundidade de um rio, que tem o elemento que ela considera o fio condutor de seus trabalhos: a água. A artista, inclusive, brinca, dizendo que a água é o rio condutor de seus trabalhos. “Sinto que conecta cada fase, cada dúvida e faz as partes seguirem juntas, em fluxo”. Também diz que os animais, como a cachorra Pina, que muitas vezes está ao seu lado no processo criativo, a natureza e os sonhos a inspiram, assim como leituras e a constante presença de artistas ao seu redor.

“Na pintura, sou bem metódica, eu crio sistemas e os repito. Como sou autodidata, o meu jeito de pintar passa por uma metodologia muito pessoal. Começo olhando uma imagem. Depois de muito ver, sublinho simbolicamente as partes que me interessam, repito elementos, excluo outros, refaço rotas. Como composição parte da desfiguração, então, os resultados tendem à abstração”, revela.

Não demorou para esse processo amadurecer e para que ela começasse a se inscrever em editais, tornar-se finalista em concursos e engajar-se com a criação artística. “Foi quando participei da Mostra Bienal da Caixa Cultural, a primeira para novos artistas, que percorreu sete capitais”. E, embora tivesse começado, Poli não estava inserida no mercado profissional das artes e em paralelo seguia com o teatro e os estudos.

Foto: Pat Kilgore

A mostra ocorreu em 2015, mas é possível dizer que o florescimento como artista plástica só veio em 2023, ano em que participou de uma residência artística na casa Domo Damo, projeto do estrategista francês David Laloum, que ocupa uma casa arquitetada por Paulo Mendes da Rocha. “Pintei trinta telas em três meses”, diz. E lá, se consolidou como artista de grandes formatos – afinal, seus voos são altos. “Eu já gostava dessa ideia de pintar uma tela maior do que o meu corpo. Acho também que as mulheres têm que ocupar espaço no mundo. Então, eu gosto de pintar grandes formatos para ocupar o espaço.”

No mesmo ano, Poli foi convidada para sua primeira exposição individual, a Submersas, na Zipper Galeria, em São Paulo. E, agora, está em sua segunda exposição, no Rio de Janeiro. Desta vez, além de voar, a artista brinca com seu nome, e se define como uma pessoa poli, inclusive, “poliartista” e também assume a bissexualidade ao se dizer “poliamorosa”.

Foto: Ana Pigosso

Esse universo se estruturou em meio a diversas experiências que o teatro e os estudos proporcionaram. Em Brasília, no Espaço Cultural Renato Russo, estudou com a artista docente Adriana Lodi desde a percepção de corpo e autoconsciência até a transformação do texto em cena. Cursou Artes Cênicas na Universidade de Brasília (UnB), onde transitou por literatura, psicologia, filosofia e artes visuais, consolidando sua ampla visão plástica. “No teatro, tudo se conecta: luz, corpo, texto, cenografia, figurino. Ele é uma arte múltipla por excelência”, conta.

A relação com o teatro fez com ela se mudasse para São Paulo. A mudança ocorreu no mesmo dia que apresentou seu trabalho final do curso de graduação em Artes Cênicas na UnB, em 2010. Na capital paulista, ela trabalhou com publicidade. Por uma paixão amorosa, mudou-se para o Rio de Janeiro anos depois. Lá, estudou Artes Plásticas no Parque Laje e piano na Escola de Música Villa-Lobos. Logo depois, decidiu fazer mestrado em Artes Plásticas em Lisboa. Foi nesse período, entre 2017 e 2020, que conseguiu se dedicar 100% à pintura. E, hoje, em uma fase da vida um pouco nômade, mas com residência na capital paulista, Poli relembra sua trajetória e diz que cada flerte com outros campos da arte ajudaram a formar o que é hoje.

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