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“Brasília tem um pouquinho de Roriz em cada canto”, diz Dona Weslian

Em entrevista exclusiva, a eterna primeira-dama relembra o amor, o legado e as saudades do ex-governador do DF

Saudade. Essa é a palavra que define a entrevista exclusiva de Weslian Roriz para a revista GPS|Brasília. Viúva do ex-governador Joaquim Roriz, primeiro político eleito democraticamente para o cargo desde a mudança da capital para o Centro-Oeste, ela guarda no coração, de forma doce e nostálgica, lembranças de uma Brasília que ajudou a construir ao lado do marido

Com Roriz, a eterna primeira-dama da capital acompanhou cada passo de importantes períodos da cidade, testemunhando a criação e o desenvolvimento de várias regiões administrativas. Com emoção, relembra as filhas Weslliane, Jaqueline e Liliane, os netos e bisnetos, além das conquistas durante a vida, especialmente nos quatro mandatos do marido no Palácio do Buriti. “Fica muita saudade. Eu creio que não só em mim, mas em todas as pessoas que participaram junto com a gente no governo Roriz. Ver Brasília como está hoje, maravilhosa, bonita, dá orgulho”, afirma.

Ao voltar no tempo, lembra do companheiro, com quem conviveu por décadas, e que ficou conhecido como o “governador dos mais humildes”. “Joaquim não tinha barreiras. Tratava todos da mesma forma, fosse alguma autoridade ou uma pessoa mais humilde. Isso marcou muito Brasília. Joaquim deixou saudade por essa gratidão que o povo tem ainda hoje por ele. É muito louvável”.

Poucos sabem, mas a família de Dona Weslian, muito tradicional em Goiás, aceitou desapropriar várias áreas para que “o sonho” de Brasília pudesse sair do papel. O fato ocorreu após um pedido do então presidente Juscelino Kubitschek, fundador da capital, aos pais daquela que seria a primeira-dama do Distrito Federal. “O papai recebeu uma carta de Juscelino e dizia que, quando ele precisasse de qualquer coisa, pedisse. Mas o papai nunca precisou. Ele morreu sem usar essa carta. O papai não era uma pessoa que cobraria nada de JK. Nunca recebemos nada sobre essas terras e acredito que foi um presente deles, dos meus pais, para Brasília”, revela. 

Desde que esteve ao lado do marido nas posses para o comando do Distrito Federal, Dona Weslian passou a ser elogiada pela elegância e discrição. Recentemente, a atual primeira-dama do DF, Mayara Noronha Rocha, classificou a viúva de Roriz como “uma grande referência de mulher”. Apesar disso, a viúva de Roriz minimiza o reconhecimento e credita a postura nas aparições oficiais aos ensinamentos da mãe e à criação familiar. “Minha mãe me dizia que o comportamento de mulher de político tem que ser muito discreto e simples, para que as pessoas não guardem uma impressão ruim. Isso foi um ensinamento que levei para a vida”, conta.

A admiração pela postura como mulher do governador da capital do País durante todos os mandatos não é à toa. Foi Dona Weslian Roriz que, ao assumir o posto de primeira-dama, solicitou ao marido que sua segurança pessoal fosse feita por policiais militares mulheres, tradição que se mantém até hoje em várias regiões do Brasil. “Fui eu que escolhi isso. E deu até em revista. Eu falei apenas que uma mulher se sentia mais à vontade junto com uma policial mulher do que com um homem. Com isso, passou a ser natural em quase todos os estados que uma mulher acompanhasse a esposa do governador”, pontua. 

Impacto social e reconhecimento

Admirada por evitar os holofotes, naturais para quem se casa com um chefe de Estado, Dona Weslian trabalhou durante todos os mandatos do marido de forma silenciosa, mas manteve o protagonismo em inúmeras ações sociais e que ainda são lembradas pelos moradores do DF. Uma emoção recente foi reencontrar uma mulher que, anos antes, recebeu um enxoval de bebê em um programa idealizado por ela. “Fui abordada por uma funcionária da Canção Nova, que disse que sua mãe sempre foi grata porque eu havia dado o enxoval para seu nascimento. Isso me marcou muito, porque eu fazia questão de beijar as barrigas das gestantes a quem entregava os enxovais”, lembra.

Seu trabalho se estendeu ao apoio a deficientes visuais por meio do Instituto Integra, entidade que presidiu por muitos anos. “Comecei com a entrega de cães-guia, depois vieram os cobertores no inverno e o Natal ao Alcance de Todos, levando alegria às crianças das regiões mais carentes. Lembro com carinho do Papai Noel Azul, que fez muito sucesso”, afirma ao recordar da cor escolhida por Roriz nas campanhas eleitorais.

Além disso, ela distribuía sopa nas noites frias para aqueles que, com poucos recursos, lutavam para construir suas moradias nos programas habitacionais criados por Roriz. “Saíamos de madrugada com grandes panelas de sopa e cobertores. Era uma satisfação, uma alegria que a gente tinha e fez parte da nossa vida. Eu acho que foi uma época muito boa”, relembra. 

Amor por Brasília

Mesmo antes de governar, Joaquim Roriz já tinha uma história e paixão por Brasília. Aliás, antes mesmo do casamento. “Brasília tem um pouquinho de Roriz em cada canto. Ele viu essa cidade crescer. Transportou areia de Goiás para cá para a construção dos ministérios e fez história na política local. Quando ele precisou decidir entre Brasília e Goiás, Joaquim escolheu ficar. Era uma predestinação”, afirma.

Entre tantas conquistas do legado do ex-governador, Dona Weslian considera a entrega da moradia para as pessoas mais humildes a maior delas. “Eu deixo aqui, assim, uma gratidão às pessoas que ainda guardam a memória de Joaquim e que ainda preservam aquilo que ele amava, que era trazer as pessoas mais simples para junto da gente, sabe? Eu acho que Joaquim, já naquele tempo, não tinha barreira”, diz. 

Durante a conversa, que ocorreu a alguns passos do Lago Paranoá, na casa de uma amiga, no Lago Sul, Dona Weslian arriscou dizer o que Roriz, caso estivesse vivo, avaliaria sobre o atual momento da cidade. Sem hesitar, a ex-primeira-dama homenageou o governador Ibaneis Rocha (MDB) e elogiou o político, de quem diz ser admiradora. “Eu falei para ele [Ibaneis]: ‘Olha, o senhor está de parabéns’. Acho que o Ibaneis está fazendo muita coisa boa para Brasília. Meu marido ficaria satisfeito. Ele [Ibaneis] é uma pessoa que nasceu em Brasília. E Brasília é feita para quem tem história com ela. Governar não é fácil, mas quem tem raízes aqui, faz com amor”, elogia.

Weslian também recordou a inesperada decisão de substituir Roriz na disputa pelo Governo do Distrito Federal, em 2010, após ele ser impedido pela Lei da Ficha Limpa. “Eu falava pra ele: ‘Bem, mas isso não é pra mim, não’. E a gente sabia que não ia dar mesmo. Foi a maior demonstração de amor, porque eu falava: ‘Joaquim, eu não tenho preparo pra isso’. E ele falava: ‘Bem, você vai’”. Naquele momento, ergueu a bandeira do “rorizismo” e decidiu enfrentar o cenário político. “O doutor Jofran Frejat (in memorian) foi uma pessoa por quem tivemos muito carinho. Na época, eu falava: ‘É o senhor que vai’. E ele respondia: ‘Não, não, é a senhora’”, lembra o aliado falecido em 2020 e que foi candidato a vice-governador na chapa. A dupla foi derrotada com 33% dos votos, no segundo turno, com Agnelo Queiroz (PT).

Após sete anos do falecimento do ex-governador, Dona Weslian ainda reverencia o primeiro “e único amor”, com quem se casou aos 17 anos. Segundo ela, foram vários, mas os principais momentos foram quando o casal recebia o resultado das eleições distritais, sempre muito disputadas. “Os dias mais felizes eram os das eleições. Parecia a final de Copa do Mundo. Era o resultado do trabalho de Joaquim, e isso emocionava muito a gente.”

Aos 82 anos, e boa parte deles dedicada a Brasília e ao Distrito Federal, a eterna primeira-dama despista, de forma muito elegante, a pergunta sobre o que ainda pretende realizar até o fim da vida. “Acho que a minha missão já está feita. Eu já cumpri o meu dever com o meu marido. Eu o amei demasiadamente. Tive minhas filhas. Eu tenho meus netos, meus bisnetos, o mais novo que acabou de chegar. Então, eu acho que a minha vida está completa. E sou feliz por isso”, finaliza.

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