No coração do Lago Oeste, área rural de Brasília, o produtor rural Nivaldo Alves, conhecido por muitos apenas como “o marido da Zuleica”, cultiva flores há 26 anos. O negócio familiar, que já chega à terceira geração com a participação ativa dos netos, emprega 12 pessoas e produz, mensalmente, o equivalente a 30 mil vasos de flores e plantas ornamentais.
A produção impressiona e ilustra como as flores estão enraizadas no dia a dia do brasiliense. Não à toa, a capital federal consome, proporcionalmente, o dobro da média nacional, conforme dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Segundo a pasta, o mercado é responsável por 0,72% do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio nacional.
No Distrito Federal, a floricultura tem crescido ano a ano. Em 2024, o comércio de flores, plantas ornamentais e arranjos arrecadou mais de R$ 265 milhões, com destaque para as forrações, palmeiras e plantas de vaso em geral, enquanto, em 2023, o resultado foi de R$ 205 milhões. Trata-se de um aumento de 29,39% no valor bruto de produção.
Para Nivaldo, o diferencial da floricultura brasiliense está na tecnologia. As plantas cultivadas pelo produtor, por exemplo, recebem tratamento diferenciado, com direito a bioativação – um processo biotecnológico para melhorar a qualidade do solo e potencializar o crescimento das plantas.
“A gente exporta esse conhecimento. A bioativação é um banquete para os microrganismos. Essa inovação é tecnologia nossa, mérito do DF”, explica com orgulho o produtor.

Clarrisa e Nivaldo | Foto: Rayra Paiva/ GPS Brasília
Raízes firmes
A história de Nivaldo se confunde com a de muitos que hoje se consideram brasilienses. Natural de São Paulo, chegou à capital com planos de atuar na iniciativa privada, mas as raízes no campo logo falaram mais alto. Encantado pelo Cerrado, ele não hesitou em investir no Lago Oeste, em uma época em que a região ainda era pouco explorada e distante do protagonismo que hoje ocupa no agronegócio local.
Hoje, mesmo com a expansão da região, Nivaldo faz questão de manter o pé na terra, e as mãos também. O produtor é responsável por fazer a própria distribuição da produção, usando um pequeno caminhão-baú, que percorre todas as regiões do DF e polos de floricultura – atualmente, mais de 120 pontos.
Além disso, o produtor não nega a venda para quem chega à sua propriedade. “Não priorizei o conforto, mas tenho orgulho de dizer que é tudo limpinho aqui”, afirma, acrescentando que pretende montar uma estrutura voltada para o turismo rural de flores. “A procura é grande, mas ainda prefiro a paz do almoço de família nos fins de semana”.

Foto: Rayra Paiva/ GPS Brasília
Potencial produtivo
Toda a produção de Nivaldo é acompanhada de perto pela engenheira-agrônoma Clarissa Campos, extensionista rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF).
A técnica explica que, apesar do recente crescimento do setor, Brasília responde por apenas 20% do mercado interno – percentual que, segundo ela, pode crescer ainda mais dado o potencial produtivo local.
“Brasília está pronta para o salto: tem tecnologia e reputação para isso. Estamos acompanhando esse processo evolutivo de perto”, pondera a servidora.

A extensionista rural da Emater Clarissa Campos | Foto: Rayra Paiva/ GPS Brasília
Segundo Nivaldo, um dos principais entraves à expansão da produção local é a falta de regularização fundiária em parte das propriedades. Ele afirma que, sem a escritura definitiva da terra, os produtores enfrentam insegurança jurídica e têm dificuldade para acessar linhas de crédito com juros mais baixos.
“Nós fazemos a nossa parte: pesquisamos, corremos atrás e viajamos pelo Brasil para aprender sobre as melhores técnicas aplicadas nacionalmente. Estamos fazendo o dever de casa e mostrando do que somos capazes. Mas ainda nos falta esse apoio”, completa Nivaldo.

Foto: Rayra Paiva/ GPS Brasília