Paulista de nascimento, carioca de coração e brasiliense na alma, Roberto Burle Marx entrou para a história como o introdutor do paisagismo modernista no Brasil. Usando e abusando de plantas nativas em suas concepções, era um profundo conhecedor dos biomas brasileiros. Deixou marcas também em Recife, Belo Horizonte, Águas de Lindoia, Teresina e Florianópolis, em milhares de projetos de jardins.
A alma brasiliense do artista está desenhada no Eixo Monumental. Mas parte importante dela ficou incompleta por 48 anos, como lembrou o governador Ibaneis Rocha. Desde 1975, quando o paisagista idealizou o jardim entre a Rodoviária do Plano Piloto e a Torre de TV, a área ficou abandonada. Virou um gramado. Ou melhor, uma zona de guerra com o que há de pior: tráfico, assalto, atentado ao pudor…
Batizado com o nome do próprio Burle Marx, a homenagem ficou sem sentido. Afinal, era um não-jardim para homenagear quem elaborou os conceituados jardins no Brasil e no mundo. No lugar do olhar voltado à natureza do paisagista havia o descaso.
Mas o destino resolveu inverter a lógica. Em vez de apostar na degradação definitiva de uma área que poderia ser linda, colocou um brasiliense para resgatá-la. E pôs também, no lugar certo, um pernambucano para gerar os recursos necessários e transformar a área em… um jardim DO e DE Burle Marx.
Na noite de quarta-feira (27), após longos 48 anos de espera, o governador Ibaneis Rocha, nascido em Brasília, entregou aos seus cidadãos o Jardim Burle Marx. A obra custou R$ 13 milhões e foi financiada pelo Banco de Brasília (BRB), presidido por Paulo Henrique Costa, pernambucano como o Parque Ecológico do Recife, projeto de 1937 de Burle Marx.
Junto com o BRB, empresas históricas da cidade ajudaram nesta recuperação. Lá estão as marcas da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e a Companhia Energética de Brasília (CEB). Um investimento que vai retornar em melhorias para a própria cidade, como prevê não só o governador, mas também o bisneto de Juscelino Kubitschek. Diretor da Rede Plaza Brasília, André Octávio Kubitschek acredita que a recuperação da área agradará especialmente aos turistas.
“Agora há harmonia na integração da Torre de TV e da Rodoviária com a Esplanada dos Ministérios. Esse conceito de boulevard completa um cartão postal pensado pelos homens que estiveram à frente da maior epopeia do século passado”, conta André.
Beleza por toda parte
Em seu discurso, Ibaneis Rocha reforçou a opinião do executivo e bisneto de JK. “É uma obra foi feita com muito carinho e que vai encantar tanto as pessoas que visitam, quanto as que moram aqui. Agora a gente vê a beleza desse local”, afirmou.
Antes de mais nada, tudo ficou belo, acessível e com charme especial. Os dois espelhos d’água, as pontes, as cascatas, as árvores e passeios públicos completam a paisagem, com a Torre de TV. Outro equipamento público que, há quatro anos, estava abandonado. Mas o investimento de R$ 20 milhões do BRB em todo o complexo resgatou esta área nobre do ostracismo.
“A gente recebeu a determinação do governador Ibaneis Rocha que atuássemos em conjunto com as secretarias. Começamos com a revitalização da torre e chegamos a esta esperada entrega, em um espaço onde reconstruímos tudo. Estamos cada vez mais próximos da população, como um banco que conhece a dinâmica da cidade e que participa desta transformação”, conta o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa.
Por isso, a noite de reinauguração foi repleta de autoridades. Ao lado de Ibaneis Rocha, de Paulo Henrique Costa e de André Octávio Kubitschek estavam a vice-governadora Celina Leão, os secretários de Governo, José Humberto Pires de Araújo; da Mulher, Giselle Ferreira; de Cultura e Economia Criativa, Claudio Abrantes; e de Educação, Hélvia Paranaguá, além de deputados distritais e federais. Mas os convidados mais importantes foram os cidadãos e cidadãs de Brasília, que viram nascer um jardim que demorou tempo demais para desabrochar.
Lá do céu, onde mora desde 1994, quem deve estar feliz é Burle Marx. Finalmente sua obra está pronta.
