Brasil teve julho mais quente da história. O que diz a ciência?

Brasília com sol quente | Foto: Agência Brasília

Mesmo no inverno, os termômetros brasileiros registraram um mês quente com as temperaturas mais altas dos últimos 61 anos. Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) revelam que a temperatura média do mês de julho chegou a 22,8ºC, um aumento de 0,82 grau acima da média histórica registrada em 2015, fazendo de julho de 2022 o mais quente que se tem registro na história do Brasil para o período. 

A meteorologista do Inmet Danielle Barros explica que, nos últimos anos, o país tem registrado invernos mais quentes. “A gente está tendo invernos mais quentes, principalmente nos últimos 10 anos. Isso aí pode estar relacionado muito à persistência de massas de ar quente sobre a região central. O que é comum, mas elas estão mais frequentes. Aumento também das áreas mais desmatadas que estão levando pouca chuva para região central nessa época do ano”, afirmou.

Mas esse evento não está restrito ao Brasil. A Agência Estatal de Meteorologia da Espanha, por exemplo, que fica no lado norte do hemisfério terrestre, também registrou recorde em julho ao atingir uma temperatura média de 25,6°C. Os países do Hemisfério Norte estão no verão.

Outro caso foi no Reino Unido, com o registro da temperatura mais alta de sua história. Segundo o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido, os termômetros de Londres marcaram 40,2ºC. O país também viu seu nível de chuvas cair para os níveis mais baixos desde 1836. A situação foi agravada pela ausência de ar condicionado no cotidiano do país, acostumado a temperaturas amenas. Apenas 3% das casas inglesas têm o aparelho.

As altas temperaturas e a falta de chuvas levaram o oeste da Europa a vivenciar uma série de incêndios de grandes proporções. França, Espanha e Portugal sofreram com as queimadas, a ponto do governo espanhol alertar para a interrupção na produção de azeite – o país corresponde a metade da produção mundial. 

Portugal registrou uma temperatura assustadora em julho, com os termômetros batendo 47ºC.

A Organização Meteorológica Mundial (OMM) afirma que julho está entre os três mais quentes já registrados, com ondas de calor prolongadas e intensas afetando partes da Europa. A temperatura ficou cerca de 0,4°C acima do período de referência, de 1991 a 2020. De acordo com a OMM, em comparação a 2019, as médias foram um pouco mais baixas e ligeiramente mais quentes que em 2016. 

“Estamos vendo, realmente, uma seca sem precedentes em muitas partes” da Europa, disse Carlo Buontempo, diretor do Serviço de Mudança Climática Copernicus da União Europeia. As temperaturas extremas secam mais ainda o solo superficial já com umidade baixa. A onda de calor também faz com que árvores suguem água do subsolo mais profundo enquanto tentam sobreviver, esgotando o lençol freático do qual agricultores, cidades e natureza dependem como reserva durante os períodos de seca.

![Espanha alertou para incêndios interromperem produção de azeite](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/espanh_85b739acf8.webp)

Uma coisa é consenso entre os cientistas: o aquecimento global, causado pela atividade industrial e emissões de gases do efeito estufa, está tornando episódios esporádicos e pontuais em uma realidade mais intensa e mais provável de acontecer. O que vivenciamos hoje é reflexo do que foi feito no passado, de modo que cada onda de calor, como as de 2022, foram intensificadas pela queima de combustíveis fósseis nas décadas anteriores e acabam por contribuir para as próximas grandes ondas, em um intervalo menor. Ou seja, a situação deve ficar pior e mais frequente.

Para agosto, a meteorologista do Inmet também prevê temperaturas altas. “Eu acredito que as temperaturas em agosto possam ser acima da média, mas não tanto quanto essas de julho. Foi um mês atípico.” 

Relacionados.

GDF terá de indenizar aluno que sofreu reação alérgica alimentar

Pelo menos 10% do território nacional é ocupado pela agropecuária

Valendo: Lula sanciona lei que confirma reajuste de 9% dos salário de servidores federais