Jornalista, cartunista e escritor, Ziraldo Alves Pinto morreu neste sábado (6), aos 91 anos. Dono de biografia única, o mineiro de Caratinga vinha sofrendo com alguns problemas de saúde nos últimos 11 anos. Ziraldo faleceu de causas naturais, em casa, na Lagoa, no Rio de Janeiro, por volta das 14h30, enquanto dormia. O velório acontecerá neste domingo (7), a partir das 10h, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio de Janeiro. O sepultamento será no Cemitério São João Batista, às 16h30.
A saúde do multiartista e multitalentoso Ziraldo começou a ficar abalada em 2013, quando teve um infarto leve na cidade alemã de Frankfurt. Fumante por quatro décadas, ele precisou passar por um cateterismo, mesmo tendo abandonado o vício anos antes. Em 2014, voltou a ser internado após um mal-estar. Em 2018, ficou um mês hospitalizado após sofrer um AVC (acidente vascular cerebral).
Ao longo de sua carreira, Ziraldo foi um exímio comunicador. Atuou como cartazista, chargista, cartunista, quadrinista, pintor, dramaturgo, cronista e humorista, entre outras tarefas na área. Criador do Menino Maluquinho, também fez carreira na literatura infanto-juvenil brasileira. Na vida política, Ziraldo teve atuação importantíssima na luta contra a ditadura militar, como um dos mais atuantes membros do semanário “O Pasquim”, ícone da resistência cultural entre o fim dos anos 1960 e o começo dos anos 1990.
Precoce e promissor
Nascido em 24 de outubro de 1932, Ziraldo mostrou seu talento com apenas 6 anos, fazendo caricaturas. Com isso, conseguiu ter publicado um desenho em um jornal mineiro. Logo desenvolveu aptidão e interesse pelas histórias em quadrinhos, o que levaria à criação de personagens como o já citado Menino Maluquinho e a Turma do Pererê que, em 1960, foi a primeira revista em quadrinhos feita por um só autor, totalmente em cores e produzida no País. A publicação foi descontinuada após o golpe militar de 1964.
No Rio de Janeiro, o traço de Ziraldo foi alvo de inúmeras agências de publicidade e revistas, com destaque para O Cruzeiro, a mais importante do País à época. Também trabalhou para revistas do exterior, como a suíça Graphis e a norte-americana Penthouse, de cunho erótico como a brasileira Revista do Homem, antecessora da edição nacional da Playboy.
Em 1969, com o recrudescimento da ditadura militar após a decretação do AI-5, Ziraldo juntou-se ao time de fundadores de O Pasquim, ao lado de Jaguar, Sérgio Cabral (pai) e Tarso de Castro, e que contou com a participação de outros ícones do jornalismo e da cultura. Mas seu traço não se restringiu apenas às páginas do semanário. Ziraldo foi um importante chargista político na ditadura, atuando na área até 1982, no Jornal do Brasil. Também lançou a revista Bundas e depois do participou do relançamento de O Pasquim, em 2002, que teve vida breve.
Talento sempre premiado
A primeira premiação de destaque de Ziraldo foi o de humor no 32º Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas, em 1969, ano em que também conquistou o Prêmio Merghantealler. Em seguida, foi o primeiro brasileiro a fazer o cartaz de Natal da Unicef. No cartazismo atuou com destaque junto aos diretores do Cinema Novo, sendo autor dos cartazes dos filmes “Os fuzis”, “Os cafajestes”, “Assalto ao trem pagador” e “Todas as mulheres do mundo”. Seu traço também foi visto nas divulgações do primeiro Festival Internacional da Canção, dos shows de Jô Soares e da Feira da Providência.
Em 1980, Ziraldo lançou o livro “O Menino Maluquinho”, sucesso que rendeu o Prêmio Jabuti daquele ano, passou por gerações e que, em quase 130 edições, vendeu mais de 4 milhões de exemplares apenas no Brasil, com traduções e versões sendo publicadas em mais de dez países e duas adaptações para as telas dos cinemas brasileiros. O personagem infanto-juvenil era um desafio para um homem com visão crítica e erótica aguçada como ele.
“Leva-se muito tempo até encontrarmos a medida certa para elas. Por isso, acho absurdo quando ainda encontro pessoas que consideram a literatura infantil como uma literatura menor”, disse, na Bienal do Livro do Rio, em 2017.
Também conquistaria, em 2004, o Premio Andersen – Il mondo dell’infanzia, como melhor livro já premiado, com Flicts, outro grande sucesso. Em 2005, foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural, comenda dada a personalidades brasileiras e estrangeiras como forma de reconhecer suas contribuições à cultura do Brasil. Ziraldo ganharia outro Prêmio Jabuti em 2012, com Os Meninos do Espaço.
Desde 2013, quando foi fundado o Instituto Ziraldo, a família do artista vem catalogando sua obra, tendo como primeiro fruto a exposição “Os planetas de Ziraldo”, de 2018, com curadoria da filha, cineasta e cenógrafa Daniela Thomas. Ele também deixa os filhos Antonio Pinto e Fabrízia Alves Pinto. Ziraldo foi casado com Vilma Gontijo Alves Pinto, entre 1958 e 2000, quando ficou viúvo. Anos depois, casou-se novamente, com Márcia Martins da Silva.