Recentemente estreada, a produção é inspirada em uma **história real**, que há oito anos **aterrorizou** os proprietários de uma casa em Nova Jersey nos EUA. Estrelada por Naomi Watts (‘Goodnight Mommy’) e Bobby Cannavale (‘Mr. Robot’), a série conta a história de um casal que compra aquela que seria a sua casa dos **sonhos** e começa a receber cartas **assustadoras** de alguém que os **vigia**. Disponível na Netflix desde o dia 13 de outubro, a trama tem feito sucesso e aparece entre o top 10.
A série criada por Ryan Murphy e Ian Brennan, como toda produção fictícia e não documental, tomou algumas liberdades criativas na construção da sua narrativa (como mostrar a família morando na casa, algo que não aconteceu na história real). Mas os fatos verdadeiros foram ainda mais assustadores que sua versão dramatizada.
Tudo começou em 2014, quando Maria Broaddus e o marido Derek Broaddus compraram uma casa colonial holandesa de seis quartos, localizada no endereço 657 Boulevard, em Westfield, Nova Jersey.
Antes mesmo de a venda se tornar pública, Derek encontrou a primeira carta anônima na caixa de correio (conforme apontam os dados de um processo que o casal iniciou contra as pessoas que lhes venderam o imóvel).
Em tom bizarro, a carta dizia: “Você precisa encher a casa com o sangue jovem que eu pedi. Assim que souber seus nomes, vou chamá-los e atraí-los para mim. Pedi aos [proprietários anteriores] que me trouxessem sangue jovem.”
O autor da carta dizia que sua família observara aquela casa durante gerações e ele se dizia insatisfeito com as recentes reformas feitas no imóvel. “Você conhece a história da casa? Você sabe o que está dentro dos muros do 657 Boulevard? Por que você está aqui? Vou descobrir.”
A segunda e terceira cartas, recebidas em 18 de junho e 18 de julho de 2014, foram ainda mais preocupantes. “Quem vai ficar nos quartos de frente para a rua?” perguntou o misterioso autor. “Eu saberei assim que você se mudar. Vai me ajudar a saber quem está em qual quarto para que eu possa planejar melhor.”
As cartas foram endereçadas aos novos moradores, por mais que o nome estivesse escrito incorretamente. O autor ainda citou os apelidos das crianças, o que indicava que estava perto o suficiente para conseguir ouvi-los, conforme apontado em um artigo escrito por Reeves Wiedeman para Magazine e publicado em 2018 – que serviu de base para a série da Netflix.
Suspeitando que o autor das cartas pudesse ser um dos seus vizinhos mais próximos, Derek e Maria levaram as cartas para a polícia. “Não era alguém do outro lado da cidade ou de outro lugar… Era alguém que estava lá”, disse Wiedeman. “E isso indicava alguém que morava muito perto ou passava muito tempo por lá.”
A família processou os antigos proprietários da casa em 2015, alegando que eles deveriam ter divulgado uma carta anterior enviada pelo mesmo sujeito. Depois que o processo virou notícia, o detetive da polícia de Westfield, Barron Chambliss, resolveu investigar o caso novamente.
Chambliss suspeitava que uma irmã do vizinho entrevistado poderia ter sido a pessoa que lambeu o envelope. Porém, quando conseguiu uma amostra de DNA dela, viu que não era compatível.
O detetive também perseguiu uma pista envolvendo um casal visto em um carro estacionado do lado de fora da casa certa noite. A mulher disse que o homem, seu namorado, jogava videogames “obscuros”, incluindo um que envolvia um “observador”. Mas o homem não atendeu à intimação para ir à delegacia e, posteriormente, mudou-se para fora do estado.
Com a investigação sem resolução, a família Broaddus desistiu de se mudar para a casa. Eles compraram outra moradia e estavam tentando vender a casa assombrada pelas cartas. Porém, ao contrário dos donos anteriores, eles se sentiam na obrigação de avisar possíveis compradores a respeito do que tinha acontecido lá.
Diante da dificuldade em vender a residência, a família chegou a considerar demolir a casa e dividir o terreno em dois lotes diferentes. Essa ideia encontrou muita resistência entre os moradores da região, que pareciam não se importar muito com as cartas que a família recebia. Os planos de demolição foram enterrados quando o conselho de planejamento da cidade rejeitou o projeto.
Em 2017, algumas semanas depois de o jornal The Star-Ledger publicar que novos inquilinos tinham se mudado para a casa, uma quarta carta foi recebida.
Conforme relatado no artigo da revista New York, o tom da nova carta era muito mais agressivo, com ameaças físicas, sugerindo que os moradores sofreriam algum tipo de violência, seja na forma de um acidente, um incêndio, uma doença misteriosa ou talvez na morte de um animal de estimação.
Um ano depois, um juiz indeferiu a ação de Broaddus e outra dos proprietários anteriores, que alegaram difamação. Mais um ano se passou até que o casal finalmente conseguiu vender sua casa dos sonhos para uma família que não parecia se importar com a história daquele local.
Os novos proprietários pagaram US$ 959 mil pela casa, o que representou uma perda de quase US$ 400 mil para a família Broaddus, que havia gasto US$ 1,3 milhões, isso sem mencionar os anos de pagamentos de hipotecas e impostos que investiram na casa, sem nunca ter morado lá dentro. Aparentemente, os novos ocupantes não receberam nenhuma carta desde que se mudaram.
Derek e Maria Broaddus ainda vivem com os filhos em Westfield e precisaram lidar com a exposição na mídia despertada pela nova série, além da desconfiança dos seus vizinhos, os quais suspeitam que eles próprios criaram a farsa – o que não faz sentido algum, visto que perderam muito dinheiro com isso.
Nem mesmo a venda dos direitos da sua história para o canal pago Lifetime, que desenvolveu um telefilme, e para a série da Netflix compensou as despesas que eles tiveram.
Até hoje não se sabe quem é o autor das misteriosas cartas.
_Assista abaixo o trailer de ‘Bem-Vindos à Vizinhança’:_