Segundo a Associação Brasileira de Reprodução Assistida, mulheres com menos de 35 anos têm cerca de 15% de chance de sofrerem um aborto, enquanto naquelas com idade entre 35 e 39 anos, o risco aumenta para 25%. O número cresce mais ainda quando se trata de mulheres entre os 40 e 44 anos, em que 50% das gestações podem acabar na interrupção da gravidez.
A perda gestacional é uma experiência que afeta profundamente as famílias, especialmente as mães, por toda a expectativa já havia sido criada e também pela dor do luto. Porém, quando a mulher consegue ter uma gravidez saudável, o nascimento do bebê se torna um momento indescritível. À criança que nasce após uma gestação que terminou em aborto é dado o nome de bebê arco-íris, fenômeno da natureza que surge ao final – ou em meio – a uma tempestade.
A médica ginecologista Taciana Fontes, especialista em fertilidade, conversou com o GPS|Brasília sobre esse momento tão delicado que milhares de mulheres já vivenciaram, e deixa uma mensagem de esperança neste Dia das Mães. Confira abaixo:
O que é um bebê arco-íris?
Um bebê arco-íris é aquele que nasce após a mulher passar por uma perda gestacional ou neonatal. Assim como o arco-íris aparece depois de uma tempestade, esse bebê surge depois de um período de dor intensa, medo e luto, e traz consigo um novo sopro de esperança. Ele não apaga a memória da(s) perda(s) anterior(es), mas ilumina o caminho com a promessa de que a vida pode florescer novamente, mesmo após o caos.
Quais as repercussões emocionais que a mulher enfrenta após um ou mais abortos?
A perda gestacional é um luto silencioso e uma dor solitária. Muitas vezes, ninguém vê ou compreende a profundidade da dor que essa mulher carrega. Há culpa, mesmo quando ela não deveria existir. Há medo, ansiedade, uma sensação de que o corpo falhou ou que o sonho foi roubado. Em casos de perdas recorrentes, tudo isso se intensifica: cada novo positivo vem acompanhado do pavor de mais uma despedida, como se a esperança andasse sempre com os pés descalços sobre o vidro quebrado da dor anterior.
Como normalmente as mulheres que têm um bebê arco-íris se sentem ao pegá-los no colo depois de viver tanta dor?
É um momento de entrega e parece que o mundo pára. Um misto de gratidão, medo e cura. Quando essa mãe abraça seu bebê arco-íris pela primeira vez, ela segura não só uma nova vida, mas todas as suas versões que choraram, esperaram e oraram para que esse instante acontecesse. É como se o tempo parasse para honrar sua coragem. Muitas choram. Algumas parecem não acreditar que é real. Outras se lembram, no mesmo segundo, de todos os filhos que não puderam embalar. Mas todas sentem que, de alguma forma, aquele bebê é também a resposta de um céu que nunca deixou de ouvi-las.
Como a reprodução assistida pode ajudar mulheres com perdas gestacionais recorrentes?
A medicina reprodutiva é uma extensão da esperança. Para mulheres com perdas recorrentes, ela oferece investigação cuidadosa, carinho técnico e soluções personalizadas. A reprodução assistida pode revelar causas escondidas, tratar desequilíbrios e abrir portas que antes pareciam seladas. Não é apenas sobre exames ou procedimentos; é sobre devolver às mulheres o direito de sonhar de novo, com mais segurança, menos medo e, principalmente, com acolhimento.
Mensagem de incentivo, fé e esperança para as mulheres que tiveram perdas gestacionais ou neonatais:
Querida mulher, se você está lendo isso com um coração partido, saiba que sua dor é real e merece ser respeitada. Não há prazo para o luto, nem medida para o amor que você já sentia. Mas também não há escuridão que não possa ser atravessada. Mesmo que hoje pareça impossível, a vida ainda pode te surpreender com novas formas de amar e de ser mãe. Confie no tempo, na ciência e naquilo que você carrega dentro de si: uma força ancestral que sabe renascer. A dor não define o fim da história. Ela pode ser, sim, o prólogo de uma jornada de fé, coragem e recomeço. Você não está sozinha. E mesmo que ninguém veja, Deus vê. E cuida.