Beatriz Haddad Maia é a primeira brasileira nas oitavas de Grand Slam desde Patrícia Medrado, em 1979. O feito foi alcançado neste sábado (3) com vitória em um confronto intenso contra a russa Ekaterina Alexandrova, número 23 do ranking da WTA. Bia Haddad mostrou coragem e frieza para recuperar um match point e vencer de virada por 2 sets a 1, com parciais de 5/7, 6/4 e 7/5, e alcançar a quarta fase de Roland Garros.
Número 14 do mundo, Bia Haddad enfrentará a espanhola Sara Sorribes Tormo, número 132 do ranking, nas oitavas de final. A classificação de Bia Haddad neste sábado veio após 2h48min de partida na quadra Simonne Mathieu, em um jogo cheio de reviravoltas e emoção.
“Eu tentei não desistir. O jogo começou muito rápido, eu não estava no meu melhor dia. Não estava servindo, jogando da forma que eu gostaria. Mas assim é o tênis, fiquei muito feliz por não ter me entregado e terei uma nova chance amanhã (domingo)“, afirmou a paulista.
Quando chegou às oitavas em 1979, Patrícia Medrado foi eliminada pela norte-americana Chris Evert, então cabeça de chave número 1 e uma das lendas do tênis mundial. Neste sábado, Bia demorou para entrar no jogo, mas buscou uma desvantagem e deu trabalho para Alexandrova já no primeiro set. Com sofrimento no segundo set, Bia se salvou e igualou o jogo.
O nervosismo só aumentava e a brasileira foi corajosa ao salvar um match point e buscar a virada no set decisivo. Beatriz ainda tirou um tempo na entrevista pós-jogo para agradecer, em português, pelo apoio da torcida brasileira em Paris. “Há muitos brasileiros aqui, obrigada à torcida. É muito especial receber este apoio de vocês, teremos uma nova oportunidade de representar nosso tênis amanhã. Estou muito feliz. Ainda terei duplas para jogar hoje”, agradeceu.
Bia Haddad levou um tempo para entrar no ritmo de jogo e começar a acertar suas batidas na bola. Enquanto isso, Alexandrova abriu 5 games a 1, fazendo duas quebras para cima da brasileira. No fim do set, Beatriz se encontrou e venceu quatro games seguidos para empatar o confronto por 5 a 5. Os dois games finais foram disputados, mas a russa levou a melhor, fechando o set inicial por 7 a 5.
Com o timing melhorado para o segundo set e Alexandrova errando bastante. Após sofrer uma quebra e ir em busca do empate por 4 a 4, a russa foi surpreendida no game seguinte em que sacava e podia virar o set. Bia abriu 5 a 4 e fechou com 6 a 4, empatando o confronto na quadra Simonne Mathieu.
O terceiro set foi extremamente nervoso para as duas tenistas, que cometeram erros não forçados. O set começou com uma quebra de Bia, que abriu 4 a 1, conseguindo mais uma quebra no quinto game. Nervosa, a brasileira deixou Alexandrova vencer três games seguidos e empatar por 4 a 4.
Sacando, a tenista russa foi efetiva nas bolas e buscou a virada por 5 a 4, levando o jogo para definição. Com 40 a 30 no placar, Alexandrova chegou ao match point, mas Bia foi buscar. A brasileira mostrou coragem para recuperar o match point e venceu o game. A pressão mudou de lado, Bia conseguiu nova quebra e fez 6 a 5 para voltar a liderar no saque e fechar em 7/5.
Facilidade nas duplas mistas
Enquanto Bia Haddad iniciava a partida contra Alexandrova, os brasileiros Luisa Stefani e Rafael Matos venciam seu compromisso pelas duplas mistas em Roland Garros. Eles derrotaram a dupla formada pelo croata Ivan Dodig e a chinesa Zhang Shuai por 2 sets a 0, com parciais de duplo 6/2. Nas quartas-de-final, Luisa Stefani e Rafael Matos enfrentarão a japonesa Miyu Kato e o alemão Tim Puetz.
Wild cai na chave masculina
Também neste sábado, a saga do brasileiro Thiago Wild em Roland Garros chegou ao fim com uma derrota por 3 a 2 para o japonês Yoshihito Nishioka, pela terceira rodada. A partida na quadra Simonne Mathieu teve ânimos aflorados, muitas reviravoltas e terminou com o japonês se classificando para as oitavas de final com parciais de 3/6, 7/6 (10/8), 2/6, 6/4 e 6/0, após 3h39min.
Número 172 do ranking da ATP, o paranaense Thiago Wild passou pelo qualifying e surpreendeu ao eliminar o atual número dois do mundo, o russo Daniil Medvedev. Para chegar à terceira rodada, o brasileiro ainda deixou pelo caminho o experiente argentino Guido Pella.
O primeiro set neste sábado teve Thiago Wild confirmando seus serviços com winners certeiros. O brasileiro conseguiu uma quebra no oitavo game e fechou com 6/3 na sequência. As emoções estavam à flor da pele já no segundo set. Nishioka tomou um point penalty no break point contra por atravessar a quadra e reclamar de uma bola fora. Wild quebrou uma raquete após ser quebrado na sequência, quando sacava para o set em 6/5. No tie-break, Nishioka saiu de 1 a 5, salvou três set points e venceu com parcial de 10 a 8.
No terceiro set, o jogo começou a se desenhar positivamente para Thiago. O brasileiro começou logo com uma quebra no segundo game e encaminhou a vitória no set por 6 a 2 rapidamente. No quarto e decisivo set, Nishioka se recompôs rápido e saiu do 40 a 0 para quebrar o serviço de Thiago no primeiro game. Thiago sentiu o game perdido, não conseguiu devolver a quebra e o set terminou 6 a 4 para o tenista japonês, número 33 do mundo.
O cansaço físico e psicológico tomou conta de Thiago Wild no quinto set, Nishioka sustentou quebras em todos os serviços de Wild e colocou a vitória no bolso. Após ceder o primeiro game em longa disputa, Thiago sentiu o peso do jogo e viu o tenista japonês sacar para a fase de oitavas de final. O set foi fechado com resultado de 6 a 0.
Violência doméstica
O desempenho do paranaense Thiago Wild em Roland Garros dividiu as manchetes esportivas com uma denúncia de violência doméstica contra sua ex-mulher, Thayane Lima. O tenista não foi encontrado pela Justiça brasileira para ser intimidado para o processo em nenhum dos endereços informados até o momento e segue sem responder ao processo.
Thayane Lima veio a público em 2021 para relatar episódios de um relacionamento abusivo que viveu com Thiago Wild. Na época, já separada do atleta, Thayane relatou ter que passar por tratamento psicológico. Após o relato da ex-mulher, a polícia do estado do Rio de Janeiro passou a investigar o tenista por violência psicológica, injúria e lesão corporal. Em outubro de 2021, Wild foi indiciado pelos crimes pelas autoridades e o Ministério Público denunciou o atleta.
Após a eliminação, Thiago Wild agradeceu a torcida e comentou sobre os processos judiciais que estão em andamento. Em nota, o tenista paranaense destacou que as ações entre ele e a ex-companheira, Thayane Lima, estão em segredo de justiça.
“Acima de tudo quero lembrar e reforçar que não houve julgamento, então não posso ser considerado culpado”, afirmou Wild. “Quanto às matérias e postagens veiculadas ao longo desta semana a meu respeito, quero esclarecer que os processos em andamento no Brasil, bem como um procedimento criminal em que apareço como vítima, tramitam sob segredo de Justiça. Isso significa que não posso fazer declarações, comentários ou exposição de conversas, o que também deveria valer para a outra parte, de acordo com liminar expedida em 16/09/2021 pelo Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. Mas acima de tudo quero lembrar e reforçar que não houve julgamento, então não posso ser considerado culpado”, disse Wild.
“Não recebi ainda o mandado de citação expedido pela Justiça do Rio de Janeiro pois já não possuo residência fixa no Brasil. Passei os últimos meses treinando na Argentina ou competindo em outros países. O mesmo acontece com a outra parte, que também não foi citada por não residir no Brasil. De qualquer forma, meus advogados já notificaram à Justiça o endereço de meus pais no Paraná. Neste momento estou totalmente focado em minha carreira, de volta ao melhor nível de jogo, e confiante de que minha inocência será comprovada no devido tempo”, completou em comunicado.
Ainda em nota, o brasileiro falou sobre a partida deste sábado. “Obrigado a todos pelo apoio hoje. Significou muito. Mesmo que a partida não tenha corrido do jeito que eu esperava, estou muito orgulhoso do trabalho que minha equipe e eu fizemos para chegar até aqui. Foi uma ótima semana em Roland Garros e agora vamos continuar trabalhando por mais resultados na temporada”, agradeceu Wild após a despedida do Grand Slam.
Em entrevista coletiva na terça-feira (30), Wild foi questionado sobre o processo de violência doméstica contra a ex-mulher e se negou a comentar sobre o assunto. “Não acho que seja um assunto que devamos falar aqui. Acho que é uma pergunta que você não deveria fazer a ninguém. Não acho que cabe a você decidir se é o lugar para falar sobre isso ou não”, disse o tenista.