O Banco Central aumentou a sua projeção para a inflação no horizonte relevante da política monetária, que passou do primeiro para o segundo trimestre de 2026, de 3,5% para 3,6% – demonstrando que mesmo o aumento da taxa Selic antecipado pelo relatório Focus é insuficiente para levar o IPCA ao centro da meta, de 3%.
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar os juros em 0,50 ponto porcentual, de 10,75% para 11,25%, acelerando o ritmo de aperto frente à reunião d00e setembro, quando havia aumentado a taxa em 0,25 ponto. Esse movimento estava precificado na curva e era esperado por 71 das 73 instituições ouvidas na última pesquisa Projeções Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).
“O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação”, diz o comunicado, que destaca entre os riscos de alta para cenário inflacionário e as expectativas de inflação: uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
As variáveis observadas pelo Copom se deterioraram entre setembro e a decisão de hoje. A taxa de câmbio usada nas projeções do comitê aumentou de R$ 5,60 para R$ 5,75. As expectativas de inflação do mercado subiram para 2024 (4,35% para 4,59%) e 2025 (3,95% para 4,03%), e permaneceram descoladas da meta para 2026, em 3,61%.
As projeções de inflação do Copom aumentaram para todo o horizonte de projeções. A estimativa para a inflação de 2024 saltou de 4,3% para 4,6%, já acima do teto da meta este ano, de 4,5%. A projeção para 2025 subiu de 3,7% para 3,9%, afastando-se do centro do alvo, de 3%.
Todas as estimativas levam em conta a evolução da taxa de câmbio conforme a paridade do poder de compra (PPC) e o preço do petróleo seguindo a curva futura por aproximadamente seis meses, passando a aumentar 2% ao ano posteriormente. Também consideram a trajetória de Selic embutida no Focus, que pressupõe juros em 11,75% no fim deste ano, 11,50% no fim de 2025 e 9,75% no fim de 2026 – respectivamente, 0,50 ponto, 1,0 ponto e 0,25 ponto acima da reunião de setembro. No cenário de referência, o Copom adotou ainda a hipótese de bandeira tarifária amarela em dezembro de 2024 e 2025.
Também nesse cenário de referência, o Copom ajustou as suas projeções para a inflação de preços livres em 2024 (4,4% para 4,5%), 2025 (3,6% para 3,8%) e o segundo trimestre de 2026 (3,3% para 3,4%). A projeção para os preços administrados passou de 4,2% para 4,9% este ano, 4,0% para 4,2% no próximo e 4,1% para 4,3% no horizonte relevante.
Em seu comunicado, o Copom destacou ainda que “o ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed”.
Juro real
O aumento da Selic leva a taxa de juros real ex-ante – ou seja, descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses – do Brasil a 8,08%, a terceira maior do mundo, segundo levantamento do site MoneyYou. O País está atrás só da Turquia (15,18%) e Rússia (12,19%).