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Barbie, uma ideia viva que encanta adultos e crianças

As muitas vidas de Barbie podem ser observadas por um viés histórico e sociológico. Barbie é mais do que apenas um brinquedo, ela é uma reflexão da evolução de sua época. Sua popularidade nasce da sua habilidade em se adaptar às mudanças dos tempos, renovando-se constantemente. Barbie simboliza uma mudança cultural desde seu lançamento em 1959. A infância da geração baby boomer era incentivada política e comercialmente pela ideologia dominante do pós-guerra, que preconizava os papéis domésticos e maternais exclusivamente às mulheres. Para as meninas, as bonecas Barbie representavam mulheres como elas poderiam se imaginar no futuro, adotando todos os sonhos e ambições da vida contemporânea.

Cada um de nós tem uma memória associada à Barbie, enxergamos a boneca através de diferentes olhares, especialmente quando o tema é feminismo. Recentemente, Barbie entrou para as telas do cinema na produção de Margot Robbie, que também é a estrela do filme, e direção de Greta Gerwig. Segundo elas, ao acreditarmos que homens e mulheres devem ser iguais, somos feministas. Apoiadas nesse discurso, ambas afirmam que Barbie é um filme feminista com objetivo de honrar o legado da boneca e ao mesmo tempo sustentar uma conversa aculturada sobre aquilo a que nos sujeitamos enquanto sociedade hoje. Falar sobre o sentimento de nunca conseguir “fazer direito” dialoga com todos nós. É sobre todos nós, não apenas mulheres.

Um pouco de história

Foi em uma viagem de férias à Lucerna, na Suíça, que Ruth Handler conheceu a boneca alemã Lilli, em 1956. Ruth, cofundadora da fábrica de brinquedos Mattel junto com seu marido, Elliot, teve a ideia de criar uma boneca parecida com a alemã. Em março de 1959, Ruth lançava sua boneca na feira internacional de brinquedos de Nova Iorque. O nome Barbie veio do apelido de sua filha Barbara e mais tarde seria seu filho Kenneth a dar vida a Ken. Barbie começou representando o sonho americano, a “American way of life”, porém, com o passar dos anos, a imagem magra e ultra loura da boneca passou a denotar um certo conformismo com a indústria que impunha estereótipos não inclusivos nem globalizados. Foi então que a empresa abraçou a diversidade, fazendo com que a boneca representasse mais de 150 profissões, 23 cores de cabelo, 18 cores de olhos, oito tons de pele, 14 rostos e quatro silhuetas. Barbie foi astronauta antes mesmo que Neil Armstrong pisasse na lua.

Em 1962, a revista americana Time publicou um artigo no qual conferia o sucesso da boneca Barbie ao fato de ela parecer adulta e que os pais gostavam do preço, apenas três dólares. A boneca era fabricada no Japão. A linha de roupas, bolsas e até vestido de noiva que podia ser comprada à parte também foi um grande sucesso de vendas, assim como Ken, o namorado criado como um dos acessórios de Barbie.

Ao tornar-se um objeto de produção em massa, Barbie atraiu o olhar de Andy Warhol, que imortalizou a boneca em uma série de seus famosos retratos da Pop Art. Ao completar 50 anos, Barbie já tinha batido o recorde de vendas, mais de um bilhão de cópias vendidas em mais de 150 países ao redor do planeta. Em 2016, Barbie tornou-se tema de exposição no Musée des Arts Décoratifs, em Paris. Foi a primeira vez que um museu francês hospedou uma mostra inteiramente dedicada a uma boneca como prova de sua contribuição para a história cultural e social dos séculos 20 e 21.

Fashionista

Uma das maiores diversões com a Barbie é brincar de vestir. Curiosamente, ao considerarmos nossa sociedade e as mídias sociais, observamos que se fantasiar e brincar de “personagens” faz parte da realidade contemporânea. Barbie entrou para o mundo da moda como celebridade. Entre os grandes nomes que criaram looks para ela estão Christian Louboutin, Maison Dior, Jean Paul Gaultier, Maison Martin Margiela, Paco Rabanne, e Versace. Em setembro de 2014, Jeremy Scott, diretor criativo da casa italiana Moschino, dedicou a coleção verão 2015 à Barbie. Na época, Scott declarou: “Ela e eu compartilhamos as mesmas coisas – nós só queremos levar diversão às pessoas”. E certamente ele conseguiu, a passarela teve até uma modelo patinadora.

A cor rosa, considerada o tom Barbie por excelência, surgiu no mundo da boneca na década de 70, com o objetivo de atrair mais meninas novas do que as adolescentes. A estratégia de marketing passou a usar o rosa vivo claro como a cor principal da identidade da marca visual da boneca. E assim a cor Barbie pink 219C passou a representar a Barbieland com direitos autorais Pantone.

A partir dos anos 90, Barbie tornou-se tendência. Barbiecore foi divulgada por meio do filme As Patricinhas de Beverly Hills, seguido de Legalmente Loira e Meninas Malvadas. Sempre vestidas de rosa, celebridades como Paris Hilton, Nicole Richie e a cantora Britney Spears ajudaram a popularizar a trend. Em 2022, foi a vez de Pierpaolo Piccioli apelar para o rosa, mas desta vez o diretor criativo da Valentino também criou seu próprio tom Pantone PinkPP. O filme Barbie, de 2023, traz cinco looks Chanel, afinal, Margot Robbie é uma das embaixadoras da maison francesa.

Finalmente, o que nos faz sonhar, o que nos reúne a todas as Barbies, é a doçura de seu caráter, sua inocência e sua inesgotável vontade de se divertir. Se buscarmos uma receita para seu sucesso, descobriremos: “Você pode ser tudo o que quiser!”.

“Ideias vivem para sempre!”, já dizia Ruth Handler.

 

*Artigo escrito por Maria Thereza Laudares para a revista GPS 38

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