A Azul protocolou o pedido de Chapter 11, equivalente à recuperação judicial, na Justiça dos Estados Unidos, nesta quarta-feira (28). A ação da empresa aérea já era esperada pelo mercado diante das dificuldades recentes da companhia para levantar capital e renegociar dívidas.
A recuperação contempla aproximadamente US$ 1,6 bilhão em financiamento durante o processo, eliminação de mais de US$ 2 bilhões em dívidas e previsão de até US$ 950 milhões em novos aportes de capital no momento da saída, segundo fato relevante divulgado pela empresa. A Azul destaca ainda que garantiu financiamento DIP de aproximadamente US$ 1,6 bilhão de parceiros financeiros após celebrar “acordos de apoio à reestruturação” com seus principais stakeholders.
Neste grupo estão incluídos detentores de títulos da companhia, sua maior arrendadora, a AerCap – que representa a maior parte das obrigações da companhia com leasing -, e os parceiros estratégicos United Airlines e American Airlines.
Esses acordos marcam um passo significativo na transformação do nosso negócio, pois nos permitirá emergir como líderes do setor nos principais aspectos da nossa atividade”, afirma o CEO da Azul, John Rodgerson.
Ao final do processo, está prevista a amortização do DIP com recursos de uma oferta de subscrição de ações de até US$ 650 milhões, com garantia firme dos referidos investidores, além de um possível investimento adicional de até US$ 300 milhões por parte da United Airlines e American Airlines, sujeito a determinadas condições. A Azul informou ainda a descontinuição de todas as projeções para este ano com o início do Chapter 11.
Última a recorrer ao Chapter 11
Entre as três principais companhias que operam no Brasil, a Azul era a única que ainda não tinha recorrido ao Chapter 11. A Latam entrou no processo durante a pandemia e encerrou a recuperação judicial em 2022. A Gol, que entrou com o pedido no início de 2024, deve sair do processo em junho.
O Chapter 11 voltou a ser uma possibilidade para a Azul após a piora da situação financeira da companhia. No balanço do primeiro trimestre, o indicador de alavancagem da empresa subiu para 5,2 vezes, de 4,9 vezes no final de 2024 e bem acima do que estava há um ano, em 3,7 vezes. A dívida bruta da companhia aérea encerrou março em R$ 34,6 bilhões, crescimento de 42% em 12 meses.
A Azul buscou várias formas nos últimos meses para tentar evitar essa medida e pretende fazer nova oferta de ações. Mas a avaliação é que só vai conseguir fazer quando o operacional da empresa melhorar. Em oferta feita em abril para a troca obrigatória de dívida em dólar por ações, do lote extra reservado ao mercado, de R$ 1,6 bilhão, só R$ 48 milhões foram colocados.
A adoção do Chapter 11 põe em xeque a potencial fusão entre Azul e Gol. A previsão era que as negociações, em andamento desde janeiro deste ano, andassem após a ação da Gol. Contudo, a expectativa é que os esforços da Azul se concentrem agora no próprio processo de recuperação financeira.
Medida mira desalavancagem
A Azul prevê que o Chapter 11 permita uma desalavancagem significativa da companhia. A estimativa da aérea é que a alavancagem caia de 5,1 vezes para 3 vezes com o processo. Para 2026, estima que o indicador desacelere para 2,2 vezes, enquanto deve atingir 1,7 vez em 2027.
A companhia espera também redução na despesa com juros. Com o plano revisado, projeta uma cifra de US$ 113 milhões para 2025 ante US$ 216 milhões anteriormente. No ano que vem, estima que a redução caia de US$ 255 milhões para US$ 85 milhões. Já para 2027, a projeção foi reduzida de US$ 253 milhões para US$ 105 milhões.
Para entrar em recuperação, a Azul elaborou um novo plano de negócios. A estratégia é focada na “otimização significativa da frota com crescimento moderado do ASK (oferta), a fim de melhorar a resiliência e reduzir o risco geral, a exposição cambial e a alavancagem”, segundo informou a companhia. As medidas incluem uma redução de 35% na frota futura da companhia.
A expectativa é que essa diminuição leve a redução de despesas com custos e manutenção e crescimento mais reduzido da oferta (ASK). Com isso, a otimização da frota e a desalavancagem devem contribuir para reduzir a exposição cambial.
O Conselho de Administração da Azul aprovou ainda a criação de um comitê independente especial para tratar dos temos relacionados ao Chapter 11. Ele atuará como um órgão consultivo do conselho de administração. Com isso, terá poderes e competência para avaliar, revisar, planejar, supervisionar negociações e dar recomendações ao conselho sobre quaisquer assuntos decorrentes ou relacionados aos procedimentos do Chapter 11. Ele é composto por Renata Faber Rocha Ribeiro, Jonathan Seth Zinman e James Jason Grant, conselheiros independentes da Azul.