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“As redes sociais criam um padrão estético que não existe”, alerta doutor Rodrigo Bastos

Cirurgião plástico esclarece o cenário da obsessão pela imagem e a necessidade da regulamentação
Rodrigo Bastos
Rodrigo Bastos | Foto: Vanessa Castro

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A crescente influência das redes sociais na vida cotidiana tem gerado uma série de questões relacionadas à saúde mental e física, especialmente no que diz respeito à estética. Doutor Rodrigo Bastos conversou com o GPS | Brasília sobre como os canais digitais têm moldado padrões irreais de beleza e os perigos que isso representa.

Bastos é cirurgião plástico. Especializou-se em cirurgia plástica Facelift em Nova York e Saint Louis, sendo pioneiro no Preservation Deep Plane Facelift, técnica avançada de lifting facial, uma das maiores procuras de seu consultório, juntamente com o Lifting cervical, mastopexia e prótese mamária de recuperação rápida.

Sua presença é requisitada em congressos internacionais, a exemplo do Deep Plane Brazil, o maior congresso de Facelift do país que acontece todo ano em São Paulo, em que Rodrigo foi o único palestrante de Brasília. Além disso, o Teo-Nayak Course na Turquia, onde será o único representante brasileiro no corpo docente de Facelift em setembro desse ano.

Com experiência vivida em sua clínica Versona, o cirurgião entende que as redes sociais estão promovendo um padrão estético que não existe. “Muitas pessoas, usando celular e tirando selfies com filtros, querem cada vez mais parecer melhores e perfeitas. Isso cria um padrão estético que realmente não condiz com qualquer realidade”, afirma.

Para Bastos, a responsabilidade dos influenciadores é crucial. “Sugerir um padrão, não ser verdadeiro em seu posicionamento ou criar um personagem gera um encantamento ilusório na audiência. Isso é um perigo”, ressalta. “Muitas pessoas acham que podem ter o mesmo estilo de vida de um influenciador que malha duas vezes ao dia, tem comida regrada, personal trainer e nutricionista em casa”.

O marketing médico

As redes sociais se tornaram uma ferramenta poderosa nos últimos anos, especialmente após a pandemia. Com algoritmos inteligentes e buscas de leads assertivos, a informação chega ao seu destino final. Bastos endossa a relevância dessa abordagem quando fundamentada tão somente na verdade, gerando conteúdo de valor.

“É importante dar voz aos profissionais capacitados nas redes sociais, muitos são verdadeiras autoridades”, ressalta.

No entanto, ainda há um certo preconceito por parte de muitos médicos em se expor nas redes sociais. Segundo o cirurgião, eles hesitam por acharem que serão vistos como blogueiros. “Mas quando os bons se calam, os ruins prevalecem”, provoca Bastos, que tem mais de cem mil seguidores no Instagram e forte engajamento com a sua audiência.

A ética, a fama e o dinheiro

A falta de capacitação adequada e a busca por ganhos financeiros rápidos são outros problemas apontados por Bastos. “Essa questão é muito polêmica porque cada conselho defende o seu profissional. Eu, por exemplo, levei 12 anos para me formar, sem contar os períodos de pós-graduação, que incluíram cursos no exterior. A rede social cria pseudo celebridades e pseudo autoridades que muitas vezes não têm a capacidade necessária”, comenta.

O especialista ressalta a importância da ética no atendimento. “O profissional que visa apenas o dinheiro não vai se podar para fazer o que é necessário para o paciente. No meu dia a dia no consultório, eu freio os pacientes quando eles querem coisas demais”, conta. Exemplifica e diz que é normal se posicionar frente aos pacientes: “Não vai ficar bom para você, não vamos fazer” , valendo também para procedimentos estéticos pouco invasivos, mas que exigem formação e conhecimento por sua complexidade.

Regulamentar e monitorar

Dados mais recentes da pesquisa elaborada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), divulgada em 2022, o Brasil se encontra em segundo lugar no ranking mundial. Ao mesmo tempo, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) mostra que mais de 1,5 milhão de procedimentos estéticos são feitos no Brasil todos os anos.

Diante deste cenário, é relevante estabelecer diretrizes e normas para a publicidade de produtos de saúde, uma vez que o interesse da audiência no conteúdo estético é maior que o interesse por temas científicos. Currículos imagéticos com fotos e vídeos não podem ter mais importância que formação, especialização e experiência.

“Quando o legislativo regulamenta, podemos esperar punições com rigor da lei. Já que no direito privado, o que não é proibido é permitido”, provoca Bastos. Para ele, a situação é delicada: “Pois permite que muitos profissionais inescrupulosos usem produtos não autorizados para ganhar dinheiro, resultando em mortes e sequelas graves”, conclui.