Atenção: o texto contém spoilers. Coringa: Delírio a Dois começa com uma premissa intrigante e esteticamente envolvente. A direção de Todd Phillips, como no primeiro filme, é visualmente deslumbrante. O início, com sua atmosfera sombria e a promessa de uma nova abordagem, desperta a curiosidade do público. As primeiras cenas trazem o retorno do caos mental de Arthur Fleck, e a trilha sonora, juntamente com números musicais impactantes e figurinos marcantes, são pontos altos que prendem a atenção. Mas logo fica claro que essas qualidades visuais e sonoras não são suficientes para sustentar o filme.
A maior decepção de Coringa: Delírio a Dois é que ele tenta evitar as armadilhas do fan-service, algo que grandes produções, como as da Marvel, utilizam para se conectar com seu público fiel. Apesar de uma escolha concisa, acaba falhando quando o resto do enredo não entrega. Aqui, Phillips rejeita qualquer referência fácil ou conexão mais palpável com o universo de quadrinhos. Embora essa abordagem possa parecer ousada, o filme acaba se distanciando demais de seus próprios fãs. O filme falha em encontrar um equilíbrio entre inovação e expectativa, isolando tanto os entusiastas de quadrinhos quanto os Little Monsters de Lady Gaga, que esperavam o retorno da estrela às telas com algo mais dinâmico e envolvente.
Phillips, que já havia estabelecido um tom sombrio no primeiro Joker, dobra a aposta na sua visão obscura. Porém, dessa vez, a narrativa se torna confusa e sobrecarregada. O filme tenta misturar uma história de amor fantasiosa com elementos de musical, mas essa escolha funciona muito melhor no papel do que na tela. A teatralidade e a grandiosidade que Phillips tenta alcançar se perdem em uma execução apática e descoordenada, com a relação entre Arthur (Joaquin Phoenix) e Lee (Lady Gaga) carecendo de profundidade.
Nem mesmo a performance carismática de Lady Gaga consegue salvar o filme de sua letargia narrativa, que sacrifica muito em nome da estética, resultando em uma trama que mais confunde do que engaja. Embora sua atuação vocal seja impressionante, ela é sufocada por um roteiro que parece estar mais interessado em autoindulgência do que em entreter ou engajar o público. O filme, que poderia ter sido uma poderosa combinação de drama psicológico e romance musical, se arrasta em um ritmo lento, sem a coesão necessária para transformar essas ideias em algo cativante.
A tentativa do filme de ser ousado e “inteligente” se perde sob uma direção que, apesar de visualmente marcante, é estática e incapaz de oferecer desenvolvimento emocional. O tom de crueldade gratuita e niilismo que permeia a história acaba tornando a experiência menos uma reflexão sobre a mente de Arthur Fleck (e do Coringa) e mais uma repetição do mesmo tema: autocomiseração. A trama, que deveria aprofundar a complexidade do personagem, e a promessa de uma história de amor trágica e explosiva acabam se tornando uma sequência previsível, de baixo impacto e arrastada, com um final que deixa mais dúvidas do que respostas.
No fim das contas, Coringa: Delírio a Dois, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (3), é uma continuação sem grandes acertos. A combinação de musical, romance e drama judicial poderia ter sido algo inovador, mas o filme se torna uma experiência mundana e pouco envolvente. A produção visual impressiona e a trilha sonora tem momentos brilhantes, mas o filme falha em entregar uma narrativa que faça jus a esses elementos. Para aqueles que esperavam uma continuação emocionalmente envolvente ou ao menos divertida, essa sequência pode se revelar uma experiência decepcionante.