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Artigo: ‘São nossos interesses que estão nas urnas’

A minha percepção sobre o profissional mais habilidoso da face da Terra foi sendo modificada conforme aumentavam os meus contatos na área política. Eu, pretensiosamente — reconheço —, achava que os advogados estivessem no topo da lista, mas, já há algum tempo, tenho plena convicção de que esse título pertence aos **políticos**, que estão muitos degraus à frente.

E não falo isso com demérito, pois os políticos estão sujeitos ao escrutínio público. Essa esperteza, digamos assim, vem de uma inteligência aprimorada pela batalha de ideias na arte da política, na qual os participantes tentam controlar a narrativa por meio de valores e crenças enraizados, não invocando objetivamente os próprios interesses, mas o senso do próprio eleitorado, e olha que há uma concorrência acirrada.

E isso não é simplesmente um jogo de palavras. A **linguagem** é, de fato, uma arma dos políticos, ainda mais em tempos em que os dados do eleitor podem ser usados para informar as campanhas não apenas no início, mas também durante todo o processo eleitoral.

Como eternos candidatos, os políticos têm uma linguagem tão habilmente trabalhada que **pode desvirtuar a verdade** de tal maneira tornando difícil até mesmo para um observador mais cuidadoso detectar. É o que os especialistas chamam de **técnica de distorção**, em que os políticos apelam apenas para as nossas fraquezas, de eleitores, utilizando recursos da psicologia e das ciências sociais.

Para ser mais direito, utilizo a áspera definição do economista americano Paul Samuelson: “_os políticos gostam de dizer às pessoas o que elas querem ouvir, e **o que elas querem ouvir é o que não vai acontecer**_”.

As técnicas de distorção podem ser percebidas por **ataques a um oponente** com base em **características** que não afetarão o seu desempenho no cargo, mas que são sutilmente usadas para incutir preconceito, por exemplo, ao transferir a culpa ao oponente por coisas que ele não tinha controle e negar a própria responsabilidade por uma ação; em **promessas irreais**, que não podem ser cumpridas; para **fugir de problemas reais**, oferecendo apenas soluções vagas ou falar sobre os benefícios dos programas propostos, mas sem especificar possíveis problemas ou custos; em razão de **apoio** e não por causa das posições do candidato sobre determinadas questões.

Me recordo aqui do livro _**Como Vencer um Debate sem Precisar ter Razão**_, de Arthur Schopenhauer. Uma das dicas era “_generalize as afirmações do seu oponente_”, que consiste em levar a afirmação do oponente além de sua fronteira natural, tomá-la e interpretá-la da maneira mais ampla e generalista possível e exagerá-la; ou pelo contrário, fechá-la nos menores limites possíveis, porque quanto mais geral se torna uma afirmação, mais ataques ela pode receber.

Enfim, as técnicas de distorção são muitas e são costumeiramente utilizadas com habilidade pelos políticos nos meios de comunicação e eventos públicos, para **desencadear emoções instintivas no eleitor, ao invés de informar**. Por isso, a palavra de qualquer político deve ser tomada com cautela, principalmente quando eles preveem o apocalipse se o adversário vencer.

Mais uma vez, temos a oportunidade e a responsabilidade de escolher bem nossos representantes, para uma mudança de direção socioeconômica que nosso país carrega há décadas. Sendo enfadonhamente didático, é importante decidir o que se espera de um candidato e saber se ele está em sintonia com as questões que nos interessam ser abordadas pelo governo.

>“_A política é um assunto muito sério para ser deixado para os políticos._” (Charles de Gaulle)

Por isso, é preciso encontrar e reunir informações sobre os candidatos, avaliar suas posições, suas habilidades de liderança, além de verificar a experiência que eles trazem para o cargo, assim como saber a forma com que as outras pessoas veem esses candidatos. Afinal, **são nossos interesses que estão nas urnas**.

![Nelson Wilians](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/NW_casa_set21_4145_92a07afdcb.jpg)

* _Nelson Wilians é empreendedor, advogado, fundador e presidente do Nelson Wilians Advogados_

Redação GPS

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