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Artigo: ‘O manto amarelo: País é protagonista em avanço têxtil’

Após 64 anos da histórica conquista, o uniforme tem significativos efeitos no desempenho da seleção, sejam eles fatores emocionais, religiosos, supersticiosos

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A **Seleção Brasileira**, que este ano lutará pela conquista do **hexacampeonato mundial** nos gramados do **Catar**, tem uma relação holística e transcendental com seu uniforme, para o bem ou o mal. Há episódios antológicos, nos quais o **traje**, como se fosse mais um jogador, ganha forte identidade como protagonista ou vilão.

Uma dessas passagens ocorreu há 72 anos, na chamada “tragédia do Maracanã”, quando perdemos, de virada, a final da Copa do Mundo de 1950 para os **uruguaios**. Poucos se lembram, mas o **goleiro Barbosa** não foi o único responsabilizado pela derrota por parte da **imprensa** e a **opinião pública**. A camisa branca com golas azuis também foi sumariamente condenada, sob a acusação de que não era “suficientemente nacionalista”. Expressando tal sentimento da torcida, o jornal carioca _Correio da Manhã_ publicou editorial criticando-a pela “falta de simbolismo moral e psicológico”.

Oito anos depois da **frustração** pela perda do título no Rio de Janeiro, nossa seleção, já com a tradicional **indumentária amarela**, ganhou sua primeira Copa do Mundo, na Suécia, em 1958. O traje da finalíssima, embora improvisado, foi um dos protagonistas da vitória: alguns dias antes da partida, houve um sorteio para decidir a cor da camisa dos times, pois os **adversários**, os donos da casa, também vestiam amarelo. Perdemos. Por isso, foi necessário comprar às pressas um lote de camisetas azuis para a decisão.

![(Foto: Reprodução/Instagram)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Cec_Dl_T5l_Pzj209_2baef307c6.jpg)

A mudança parecia afetar os jogadores, já acostumados a jogar com a **jaqueta canarinho**. Percebendo o risco dessa **reação emocional**, o chefe da delegação, Dr. Paulo Machado de Carvalho, o Marechal da Vitória, reuniu o elenco antes do jogo e enfatizou: _”Eu quis que vocês jogassem de azul porque é a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida, que está conosco”_. O resultado todos conhecem! Sob as **bênçãos** da Padroeira, a seleção passeou no gramado do Estádio Rasunda, na cidade de Solna, batendo a Suécia por cinco a dois. Foram dois de Pelé, dois de Vavá e um de Zagalo. Desde então, o azul foi oficializado como segundo uniforme da seleção.

Transcorridos 64 anos da **histórica conquista** e às vésperas de tentarmos ganhar o sexto título mundial, é importante entender que, mais do que nunca, o uniforme tem significativos efeitos no **desempenho** da seleção. Aliás, não apenas da nossa, mas de todas as que participarão da Copa do Catar, assim como da grande maioria dos times de futebol profissional e demais esportes. Agora, a influência não tem apenas fatores emocionais, psicológicos, supersticiosos ou religiosos. Estamos falando de **tecnologia**!

O notável avanço dos equipamentos industriais, materiais, fios, fibras, tecidos e confecção resultaram em trajes de competição que reduzem a **resistência** do ar e da água nas disputas do atletismo e da **natação** e nos jogos de futebol, basquete, vôlei e outras modalidades. São mais leves, não retêm o suor, não irritam a pele, garantem plena ventilação, aumentam a microcirculação sanguínea, retardam a fadiga muscular e aceleram a recuperação, podendo até mesmo monitorar eletronicamente a performance.

![(Foto: Reprodução/Instagram)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/Cl_PX_6s1v_MFJ_871_da23695dc6.jpg)

Exemplo dessa **evolução** é o uniforme do futebol. Até o início dos anos 80, o material utilizado retia o **suor**. Um jogador perde de dois a três quilos durante o jogo. Metade disso ficava na camisa. Aí, veio outro tipo de **fibra**, utilizado pela primeira vez pela Seleção Brasileira na **Copa do México**, em 1986. Porém, o suor permanecia retido, agregando peso e esfriando o corpo do atleta. A partir dos anos 90, surgiram novos materiais, fibras e tecnologias de acabamento e fabricação. Tecidos inteligentes absorvem o suor e propiciam rápida evaporação. Hoje, 24 anos depois do primeiro modelo desse tipo de camisa, a atual é 13% mais leve e tem passagem de ar 7% mais efetiva.

A melhor notícia é que esses avanços também beneficiam os **consumidores**, pois são aplicados na produção regular do vestuário. Entretanto, os uniformes que vestirão as seleções no Catar, assim como as roupas de nosso dia a dia, não chegaram ao limite da evolução tecnológica. Estão em curso a **Manufatura Avançada** e o desenvolvimento de novas fibras e **acabamentos**, e o setor têxtil e de confecção brasileiro é um dos protagonistas desses avanços.

Cabe, ainda, uma **redentora reflexão**. Em plena era do conhecimento, da informação e da tecnologia, é preciso, finalmente, fazer justiça histórica, inocentando o goleiro Barbosa e a camisa branca, que obviamente não podem ser condenados pela derrota de 1950. Algo, contudo, permanece inabalável para milhões de brasileiros: a fé em **Nossa Senhora Aparecida**!

![(Foto: Reprodução/Abit)](https://gpslifetime.blob.core.windows.net/medias/landing-page/6fc14003_c054_453e_b717_d4fc5091475d_649d3f7dad.jpg)
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*Fernando Valente Pimentel é o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)._