Por Ana Claudia Badra Cotait
O empreendedorismo feminino é uma das maiores expressões de resiliência, criatividade e coragem no nosso País. Milhões de mulheres estão à frente de pequenos e médios negócios que geram renda, impactam comunidades e movimentam a economia. Mas um dos fenômenos mais transformadores é o aumento da presença feminina em setores estratégicos como tecnologia e inteligência artificial, espaços que, até então, pareciam inacessíveis para nossas empreendedoras.
Dados do Sebrae apontam que mais de 10 milhões de mulheres empreendem no Brasil e pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor revela que 46% dos nossos empreendedores são mulheres. Mas, apesar desses números, nossas empreendedoras ainda sofrem com a desigualdade em diversas áreas que pode ser enfrentada com políticas públicas e capacitação.
De acordo com um estudo da Softex, as mulheres representam apenas 20% da força de trabalho no setor de tecnologia e ocupam poucas posições de liderança técnica. Muitas vezes, elas enfrentam ambientes hostis e com a falta de redes de apoio e ainda sofrem com sentimento de que precisam “provar” sua competência o tempo todo, o que afeta a entrada, permanência e ascensão das mulheres nesse setor.
Outro problema que elas enfrentam é a falta de acesso ao financiamento. Apesar do aumento na participação feminina em startups — hoje, 31% das startups brasileiras têm pelo menos uma mulher fundadora —, apenas uma pequena fração do investimento de capital de risco vai para negócios liderados por elas. Isso limita o crescimento e a capacidade de inovação desses empreendimentos e o preconceito, muitas vezes velado, ainda influencia nas decisões de investidores e parceiros.
Além disso, é importante destacar a jornada dupla de 50% das nossas empresárias que são responsáveis pelo sustento do lar e precisam equilibrar a gestão das suas empresas, com os cuidados com filhos, tarefas domésticas e, necessidade de capacitação. A falta de políticas públicas de apoio à maternidade empreendedora e a sobrecarga mental são outras barreiras que elas precisam transpor.
Mesmo diante desses desafios, nossas empreendedoras continuam inovando e utilizando a inteligência artificial em seus negócios, o que vem contribuindo para aumentar a produtividade, economizar tempo e melhorar o atendimento ao cliente. Ferramentas como assistentes virtuais, automação de processos e análise de dados têm sido incorporadas com criatividade e estratégia, tanto que as mulheres vem liderando o uso de IA generativa no Brasil, superando os homens em diversas aplicações.
O CMEC – Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) – órgão da ACSP, CACB e FACESP -, presente em todas as regiões do país, tem atuado para ampliar a presença feminina na área de inovação. Lançamos o Prêmio UPSTARTS para selecionar projetos de empreendedoras que atuam no segmento de tecnologia, apoiamos programas de capacitação e fomentamos redes de mentoria para criar ambientes mais inclusivos pois acreditamos que o futuro é digital e precisa ser inclusivo, diverso e liderado também por mulheres.
O avanço feminino em áreas como IA, ciência de dados, robótica e fintechs é um sinal de progresso e necessário para o equilíbrio da nossa economia, pois o podemos desperdiçar o talento de metade da nossa população que empreende em setores tão estratégicos.
É preciso que as nossas empreendedoras acreditem mais nas suas capacidades de liderar, inovar e transformar para que a gente consiga avançar principalmente no setor de tecnologia que vem contribuindo muito para a evolução do empreendedorismo em nosso país.
Sobre Ana Claudia Badra Cotait
Ana Claudia Badra Cotait é presidente do Conselho Nacional da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), órgão da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (FACESP) e da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) – que atua como um fórum de referência de estudos, debates e inspirações à mulher empreendedora, além de desenvolver ações, campanhas e projetos sociais e culturais. Também atua como instrumento para que lideranças femininas discutam seus problemas e apresentem propostas que mobilizem a comunidade empresarial e a sociedade organizada. Possui mais de 900 conselhos da mulher, distribuídos pelo Brasil.